As palavras têm poder, principalmente nos relacionamentos. Segundo estudo realizado no início do ano por pesquisadores da Universidade de Berkeley, nos Estados Unidos, casais que se referem a si mesmos usando pronomes na primeira pessoa do plural, como "nós" e "nosso/nossa", são mais felizes e conseguem resolver melhor as suas diferenças.
Segundo os autores do estudo, o professor de psicologia Robert Levenson e o mestrando em psicologia Benjamin Seider, o uso da "linguagem do nós" ou we-ness language é a consequência natural de quem nutre um sentimento de parceria. "Existe a confiança de que será possível enfrentar os problemas juntos", explicou Seider, em entrevista ao site da Berkeley.
Os pesquisadores analisaram as conversas de 154 casais de meia e de terceira idades que tratavam de temas que provocavam discordância entre eles. Descobriram que os casais que usavam a primeira pessoa do plural se comportavam de maneira mais positiva em relação ao parceiro e apresentavam menores níveis de estresse. Já os casais que enfatizavam a sua individualidade com o uso de pronomes pessoais no singular como "eu" e "você" se mostraram menos satisfeitos.
A história do casal de engenheiros Regina Tesima e Marco Falcone, ambos de 40 anos, é um belo exemplo do sucesso de uma relação que é baseada na parceria. Autores do livro Como Chegar Ao Seu Primeiro Milhão A História de um Casal que Já Atingiu o Seu (Coleção Expo Money, editora Campus/Elsevier), eles aprenderam desde o tempo da faculdade a fazer planos em conjunto. "A Regina sempre foi mais família, eu era mais individualista, aprendi com ela a compartilhar e a pensar como um só", conta Marco. O casal, que tem dois filhos, acredita que o segredo do sucesso no casamento está na confiança. "Nunca existiu meu e seu, tudo foi sempre nosso. As discordâncias resolvemos com muita conversa."
De acordo com a pesquisa norte-americana, o uso do "nós" e do "nosso" é mais comum entre os casais mais velhos. Ou seja, histórias como a de Regina e Marco são raras. O estudo sugere que o fato de os casais mais velhos terem passado mais tempo resolvendo problemas contribuiu para que desenvolvessem uma identidade compartilhada.
Para a psicóloga Bárbara Snizek, o uso da "linguagem do nós" indica maior investimento emocional na relação, algo que a maioria dos casais mais jovens não está disposta a fazer. "Vivemos em um mundo muito mais individualista e o nosso comportamento em sociedade se reflete nas relações amorosas, que estão muito descartáveis. Não se pensa mais em um casamento para durar para sempre, mas em uma relação que dure enquanto estiver bom para mim. Este comportamento é o que tem, de fato, condenado os relacionamentos atuais", explica.