Regina e Marco aprenderam a fazer planos juntos desde o começo: “Nunca existiu meu e seu, tudo foi sempre nosso. As discordâncias resolvemos com muita conversa”, diz ele| Foto: Aniele Nascimento/Gazeta do Povo

"Eu" indicaria autonomia e satisfação pessoal

Outras pesquisas norte-americanas já haviam comprovado o po­­der das palavras nos relacionamentos. Uma delas, realizada em 2008 em conjunto pelas universidades da Califórnia, de Washing­ton e do Texas, estudou as palavras usadas por casais nas conversas via messenger. Participaram da pes­­quisa 68 casais de namorados dos Estados Unidos, que tiveram os seus diálogos analisados durante dez dias. O resultado foi um pou­­co diferente daquele apresentado pelos autores Robert Leven­son e Benjamin Seider. Chegou-se à conclusão de que não há conexão entre o uso do "nós" e o grau de satisfação ou estabilidade em um relacionamento amoroso. Pa­­ra os autores desse estudo, o uso do pronome "eu" foi associado a relacionamentos com mais qualidade. Isso porque é importante que ca­­da um mantenha um certo grau de autonomia, ou seja, que a sua satisfação pessoal não dependa apenas do seu sucesso como casal. Mas é importante lembrar que a mai­­oria dos casais analisados estava em uma relação recente.

Outra pesquisa relaciona o uso dos pronomes pessoais com a saúde física dos casais. Publicada pela Associação Americana de Psico­logia, também em 2008, o estudo constatou que o uso do pronome "nós" pelos companheiros de pacientes que tiveram infartos ou outros problemas cardiovasculares contribuiu para que eles se recuperassem mais rapidamente da doença. (JK)

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As palavras têm poder, principalmente nos relacionamentos. Segundo estudo realizado no início do ano por pesquisadores da Universidade de Berkeley, nos Estados Unidos, casais que se referem a si mesmos usando pronomes na primeira pessoa do plural, como "nós" e "nosso/nossa", são mais felizes e conseguem resolver melhor as suas diferenças.

Segundo os autores do estudo, o professor de psicologia Robert Le­­venson e o mestrando em psicologia Benjamin Seider, o uso da "lin­­guagem do nós" – ou we-ness lan­­guage – é a consequência na­­tu­­ral de quem nutre um sen­­ti­­mento de parceria. "Existe a confiança de que será possível enfrentar os problemas juntos", explicou Sei­­der, em entrevista ao site da Ber­­ke­­ley.

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Os pesquisadores analisaram as conversas de 154 casais de meia e de terceira idades que tratavam de temas que provocavam discordância entre eles. Descobriram que os casais que usavam a primeira pessoa do plural se comportavam de maneira mais positiva em relação ao parceiro e apresentavam menores níveis de estresse. Já os casais que enfatizavam a sua individualidade com o uso de pronomes pessoais no singular – como "eu" e "você" – se mostraram menos satisfeitos.

A história do casal de engenheiros Regina Tesima e Marco Falcone, ambos de 40 anos, é um belo exemplo do sucesso de uma relação que é baseada na parceria. Autores do livro Como Chegar Ao Seu Primeiro Milhão – A História de um Casal que Já Atingiu o Seu (Coleção Expo Money, editora Campus/Elsevier), eles aprenderam desde o tempo da fa­­culdade a fazer planos em conjunto. "A Regina sempre foi mais família, eu era mais individualista, aprendi com ela a compartilhar e a pensar como um só", conta Marco. O casal, que tem dois filhos, acredita que o segredo do sucesso no casamento está na confiança. "Nunca existiu ‘meu’ e ‘seu’, tudo foi sempre ‘nosso’. As discordâncias resolvemos com muita conversa."

De acordo com a pesquisa norte-americana, o uso do "nós" e do "nos­­­so" é mais comum entre os ca­­sais mais velhos. Ou seja, histórias co­­mo a de Regina e Marco são raras. O estudo sugere que o fato de os casais mais velhos terem passado mais tempo resolvendo problemas contribuiu para que desenvolvessem uma identidade compartilhada.

Para a psicóloga Bárbara Sni­zek, o uso da "linguagem do nós" indica maior investimento emocional na relação, algo que a maioria dos casais mais jovens não está disposta a fazer. "Vivemos em um mundo muito mais individualista e o nosso comportamento em soci­­e­­dade se reflete nas relações amorosas, que estão muito descartáveis. Não se pensa mais em um ca­­sa­­mento para durar ‘para sempre’, mas em uma relação que dure ‘enquanto estiver bom para mim’. Este comportamento é o que tem, de fato, condenado os relacionamentos atuais", explica.