Artigo
A lógica de educar
Ricardo Lamas, diretor-geral do SuperCérebro
O Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa), que avalia a capacidade dos alunos em resolver problemas matemáticos aplicados à vida real, revelou o Brasil na 38ª colocação, entre 44 países. A desconfortável colocação brasileira retrata que nossa educação precisa melhorar, e muito.
O Brasil adota como modelo de ensino a repetição de fórmulas e conceitos, não tendo como foco a interpretação e aplicação das ciências ou seja, se afasta de um raciocínio lógico que permita ao estudante a capacidade de encontrar, sozinho, a solução do problema proposto.
A educação deve ter como diretriz, desde o início da vida escolar do aluno, o estímulo ao processo de pensar, do raciocínio lógico, que permita ao indivíduo, frente a qualquer obstáculo, localizar uma solução adequada e apta a atingir um determinado resultado.
Vivemos em um mundo em que a simples aplicação de formulários e conceitos já não é suficiente. É exigida a utilização do raciocínio lógico, da otimização de processos e da conquista de melhores resultados.
Esta deve ser a lógica de educar, retirando da sala de aula a simples exposição, modelo que, ao jovem de hoje, não permite o pleno desenvolvimento de suas competências. Precisamos realizar a efetiva imersão do aluno na ciência em estudo, possibilitando que ele próprio localize o problema, desenvolva o raciocínio, e apresente a solução.
Para nós, educadores, o mundo profissional apresenta a cada dia novos desafios que somente podem ser suplantados por pessoas que tenham excelente raciocínio lógico, localizando a solução de forma célere, destacando-se no mercado de trabalho.
Enquanto nos mantivermos como simples repetidores de conceitos prontos, já estratificados, continuaremos a ocupar as últimas colocações nos rankings mundiais de educação.
Os estudantes brasileiros têm sérias dificuldades para resolver problemas de matemática aplicados à vida real. É o que mostram os resultados de um novo teste do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa), divulgados na terça-feira pela Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE). O Brasil ficou na 38.ª colocação entre 44 nações.
INFOGRÁFICO: Confira a colocação do Brasil na pesquisa
É a primeira vez que a OCDE realiza esse teste, que buscou avaliar mais as habilidades cognitivas dos estudantes do que seu conhecimento de conteúdo matemático. Participaram cerca de 85 mil alunos, todos com 15 anos de idade. Os adolescentes de Cingapura e Coreia do Sul alcançaram as melhores pontuações.
A pontuação média entre todos os participantes foi de 500 pontos, enquanto os brasileiros marcaram 428. Ainda segundo o relatório, 47% dos brasileiros tiveram performance baixa. Menos de 2% foram capazes de solucionar problemas complexos.
"Os alunos de 15 anos com dificuldades para resolver problemas serão os adultos de amanhã lutando para encontrar ou manter um bom emprego. As autoridades e educadores devem rever seus sistemas de ensino e currículos para ajudar os estudantes a desenvolver suas habilidades para resolver problemas, cada vez mais necessárias nas economias atuais", disse Andreas Schleicher, diretor interino de Educação da OCDE.
A OCDE divulga, a cada três anos, os resultados gerais do Pisa, que, na sua última edição, em 2012, avaliou estudantes de 65 países com provas de Matemática, Ciência e leitura. Divulgados em dezembro do ano passado, os resultados desses exames mostraram que o Brasil, apesar de uma significativa melhora em Matemática desde 2003, continuava na 58.ª posição.
Leitura
A prova de Matemática do Pisa já mostrava as dificuldades dos brasileiros com problemas que pediam raciocínio lógico e conhecimentos básicos da disciplina. Apenas 33% dos alunos de 15 anos do país conseguiram resolver questões com o grau de complexidade mais baixo. Para muitos especialistas, o problema começa nas dificuldades de leitura. A maioria dos estudantes não consegue interpretar o enunciado da questão.
"Estamos falando de jovens de 15 aos, que estão no ensino fundamental ou médio. Pesquisas nossas mostram que, desse grupo, apenas 17% chegam ao fim do ano tendo aprendido o conteúdo adequado de matemática. Portanto, esse resultado não nos surpreende", afirmou a diretora-executiva da ONG Todos pela Educação, Priscila Cruz. Para ela, o levantamento traz um sério alerta sobre o futuro próximo desses estudantes, que chegarão em breve ao mercado de trabalho. Em sua opinião, a Matemática é ensinada de forma descontextualizada da realidade.
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