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Foz do Iguaçu – O funcionamento da nova aduana da Receita Federal (RF) na fronteira do Brasil com o Paraguai vai fazer com que parte dos 220 mil sacoleiros cadastrados pela RF na região mude de vida. Com uma fiscalização mais rigorosa, que promete vistoriar todos os veículos e pedestres que entrarem no país, o contrabando deve ser reduzido e atividades ilegais como a dos sacoleiros e laranjas – carregadores contratados pelos compradores para transportar mercadorias na fronteira – podem ser dizimadas.

A legião de sacoleiros é a principal protagonista do comércio de muamba estabelecido na região na década de 80. Segundo estudo do Instituto de Estudos Econômicos e Sociais do Paraná (Ineespar), cerca de 3 milhões de pessoas sobrevivem em todo Brasil da renda gerada pelo comércio de importados no Paraguai, que movimenta US$ 16 bilhões ao ano. A mesma pesquisa indica que 60% dos trabalhadores e 80% de comerciantes e funcionários de lojas de Ciudad del Este vivem em Foz do Iguaçu.

Essas estatísticas incluem o mineiro Felipe Gabriel Melo, 21 anos. Melo começou a fazer compras no Paraguai há três anos. Na época, ele havia concluído o 2.ºgrau, e, sem emprego, começou a ajudar o tio. Ele conta que vai a Foz do Iguaçu pelo menos duas vezes ao mês, mas a mudança no sistema de fiscalização o faz pensar em deixar a atividade."Quero me preparar para fazer o vestibular para Direito ou Administração de Empresas", diz.

Dentro da lei

A inauguração da nova aduana vai permitir que a legislação seja integralmente cumprida. A vistoria e fiscalização de todo o fluxo de veículos e pedestres na antiga alfândega era impraticável devido às condições precárias das instalações. Com a nova infra-estrutura, os sacoleiros serão cadastrados e só poderão fazer compras no Paraguai uma vez por mês, dentro da cota de U$ 300 por pessoa. A Receita Federal começou a fase de testes do novo sistema há uma semana.

O artesão Miguel Francisco Ramos, 47 anos, e o agora taxista Davi Machado, 40 anos também buscaram novas alternativas de trabalho. Eles nem precisaram esperar a nova aduana entrar em funcionamento para investir em outra atividade. Ex-laranjas, Ramos e Machado acabaram deixando o trabalho informal na Ponte da Amizade para tentar outros desafios depois que os "patrões" (sacoleiros) deixaram de vir a Foz do Iguaçu. Ramos acabou retomando o artesanato e hoje monta cavalinhos de brinquedo para vender na Avenida Brasil, principal via comercial da cidade. Sem aposentadoria, apesar de ter perdido parte do braço esquerdo em um acidente de trabalho com uma motosserra, o ex-laranja deixou de se aventurar na Ponte da Amizade há oito meses, após uma jornada de trabalho que durou oito anos, na qual ganhava cerca de R$ 40,00 por dia. "Já pensei em ir embora, pensei até que Curitiba talvez esteja um pouco melhor", diz. Com mulher e filho para sustentar, o artesão, que não concluiu nem o ensino fundamental, ganha ao dia R$ 10,00, quando tem sorte.

Machado, agora taxista, resolveu deixar a atividade de laranja na Ponte da Amizade depois ver o rendimento mensal de até R$ 1.500,00 com o comércio informal cair. Para mudar de vida, ele vendeu a casa própria por R$ 12 mil para comprar um táxi. "Estou pagando aluguel da casa agora", conta. Ele tentou conseguir uma vaga no mercado formal, mas diz que teve dificuldade por ter mais de 35 anos. Machado diz que só não mudou para o estado de Mato Grosso, para onde a esposa sonha em ir com os quatro filhos, porque não tem experiência na agricultura.

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