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Cracolândia, em São Paulo: oxi, nova droga ainda mais devastadora que o crack, é também mais barata | Paulo Whitaker/Reuters
Cracolândia, em São Paulo: oxi, nova droga ainda mais devastadora que o crack, é também mais barata| Foto: Paulo Whitaker/Reuters

Tolerância

Psiquiatra critica omissão de autoridades

Psiquiatra especialista em dependência química, Ronaldo Laranjeira critica a forma como as autoridades têm tolerado a existência da cracolândia, o novo território do oxi, bem no centro de São Paulo.

"Por que a cidade, 15 anos depois, ainda não conseguiu fazer um programa para tirar esses usuários de drogas da rua? A prefeitura ainda insiste na minimização dos danos. Não poderia ser tolerado o uso de crack na ruas, porque isso é a legalização de fato", afirma.

O especialista diz que os usuários de crack não têm discernimento suficiente para buscar ajuda por conta própria. "Pergunte para as famílias o que gostariam que se fizesse. Elas diriam para internar, pelo amor de Deus."

A prefeitura diz que a área de saúde mental vem recebendo in­­vestimentos desde 2005 para implementar uma política de atenção integral à pessoa com transtorno mental, incluindo usuários de álcool e drogas.

O delegado Kleber Altale diz que a Polícia Civil atua no combate ao tráfico na cracolândia e realiza, em média, 35 flagrantes diários de pessoas com envolvimento direto ou indireto no tráfico. A Polícia Militar afirma que a região citada pela reportagem é alvo de "atenção especial" do comando de policiamento, com operações frequentes.

Impacto na saúde

Os serviços de saúde pública deverão sentir em breve o impacto da chegada do oxi. "Acredito que será necessário um investimento maior no tratamento dos usuários. Ela estraga o fígado e os remédios para cuidar desse órgão são de alto custo. Se não for feita essa prevenção, esse vai ser um gasto muito elevado para a sociedade", diz Reinaldo Correa, do Denarc.

Psiquiatra e diretora do Centro de Referência de Álcool, Tabaco e Outras Drogas (Cratod), órgão ligado à Secretaria de Estado da Saúde, Marta Jezierski diz que ainda não se deparou com usuários de oxi. Ela se baseia na atenção ao crack. "O tratamento é complexo. Não é uma infecção bacteriana. É a reabilitação psicossocial. Precisa conversar com o indivíduo. A droga atinge os mais variados perfis, mas depois fica todo mundo igual."

São Paulo - Mais destrutivo e viciante do que o crack, o oxi chegou à cracolândia de São Paulo. As pedras, que são vendidas por R$ 2, um quinto do preço do crack, matam um terço dos viciados já no primeiro ano de uso. Especialistas dizem que a nova droga deve agravar ainda mais os problemas de saúde pública na Luz, região central, onde centenas de dependentes químicos vagam dia e noite.

As pedras de oxi são feitas de pasta base de cocaína acrescida de cal virgem, querosene ou gasolina, ingredientes mais baratos e corrosivos do que o bicarbonato de sódio e o amoníaco, que compõem o crack. Segundo especialistas, assim como o crack, o oxi é capaz de viciar nas primeiras ve­­zes em que é consumido.

Entre os dependentes que circulam pela cracolândia, o oxi é conhecido como "a pedra de R$ 2". O comércio de drogas nas proximidades da Estação Júlio Prestes é livre, a qualquer hora do dia ou da noite, como em uma feira livre com mais de 150 pessoas. As pedras de R$ 2 surgem em pequena quantidade nas mãos dos traficantes, que também são usuários e fazem a venda para sustentar o próprio vício.

Na Rua Helvétia, há também uma feira do rolo, onde viciados negociam roupas usadas, tênis, produtos eletrônicos e até objetos sem valor aparente em um escambo frenético, sempre tendo a obtenção das pedras como objetivo final. Lá, o oxi é oferecido aos gritos de "pedra de R$ 2!". A droga é uma opção ao crack, cuja pedra custa R$ 10 e permanece no topo da preferência dos dependentes da região.

As apreensões realizadas na cracolândia ainda não foram capazes de detectar o oxi, mais por questão de método do que por falta da droga no mercado. "No exame do Instituto de Cri­­minalística, dá positivo para cocaína. Como é em pedra, fica caracterizado como crack, mas também pode ser oxi", afirma o diretor da Divisão de Educação e Prevenção do Departamento de Narcóticos da Polícia Civil (De­­narc), Reinaldo Correa.

A partir de agora, as pedras apreendidas serão testadas também para oxi. Há indícios de que 60 quilos de crack apreendidos em março na capital sejam, na ver­­dade, oxi. Amostras foram quei­­madas e restou óleo, característica da nova droga.

Rastro

Nas ruas, o oxi deixa um rastro de­­­­gradante, que começa pelos re­­­­síduos de querosene nos ca­­chimbos e avança até o vômito e a diarreia persistentes, algumas das diferenças em relação aos efeitos do crack. "Causa um isolamento e eles [os dependentes] têm ‘barato’ até na própria sujeira", diz Correa.

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