A legislação para imigrantes é muito rígida no Brasil. A Lei do Estrangeiro a 6.815, de 1980 foi criada durante o regime militar e vincula a imigração à questão da segurança nacional. O governo federal, no entanto, quer criar um novo estatuto para estrangeiros. O texto deve facilitar a entrada de imigrantes dos países que formam o Mercosul e os de língua portuguesa.
O país já fechou acordos com Argentina, Uruguai e Bolívia. As pessoas desses países que vivem no Brasil terão os mesmos direitos civis, sociais, culturais e econômicos dos brasileiros. Para requerer o visto de dois anos, o imigrante deve procurar o serviço de imigração e apresentar passaporte ou carteira de identidade e uma certidão de antecedentes criminais da nação de origem. No Brasil, há aproximadamente 836 mil estrangeiros com visto permanente e 200 mil ilegais.
Para o professor do mestrado em Filosofia da PUCPR, Daniel Omar Perez argentino que vive desde 2003 em Curitiba há uma tendência em esquecer a própria história e origem, o que pode levar o cidadão comum a tratar o recém-chegado como uma figura estranha. "Todos nós somos estrangeiros. É importante perceber que o imigrante de hoje é o nosso avô ou pai ontem ou o nosso neto ou filho amanhã. Não é um inimigo. O ser humano deve ter o direito de permanecer em algum lugar. A legislação tem de ser colocada a serviço do ser humano, não ao contrário. Deve beneficiar o ser humano independente da sua origem", afirma Perez.
Socorro
Várias instituições não esperaram a legislação para trabalhar pelos estrangeiros no Brasil. A Pastoral do Migrante é uma delas. Ligada à Igreja Católica, a pastoral funciona numa sala da Igreja São José, em Santa Felicidade. Outras associações ajudam a manter viva a cultura da terra natal, além de darem assistência aos conterrâneos. A lista é ampla e dela fazem parte o Centro Cultural Argentino, a Associação Peruano-Brasileiro, a Associação de Residentes Peruanos no Sul do Brasil, a Casa Paraguaia e a Associação Cultural Chinesa de Curitiba.
Elizete SantAnna de Oliveira, assistente social da pastoral, conta que o trabalho da entidade é divulgado boca a boca entre os próprios imigrantes e as associações das colônias que vivem em Curitiba.
Na igreja de Santa Felicidade, em outubro, é realizada a Festa dos Povos da América Latina. O evento reúne gente como a socióloga argentina Yolanda Pinnola, que vive há quatro anos com o marido em Curitiba. Eles se mudaram por causa da crise econômica no seu país. Ele deixou o emprego de gerente de sistema de uma multinacional e com o dinheiro da rescisão montou uma empresa de prestação de serviços em Curitiba. Yolanda colabora com o Centro Cultural Argentino. Ela conta que o centro mantém uma rede de e-mails dos argentinos que vivem em Curitiba e repassam notícias, ofertas de trabalho e de venda de mercadorias.
A assistência prestada pelo centro se repete entre outras nacionalidades. O médico cardiologista Heriberto Cano Arias está em Curitiba desde 1962. Deixou sua cidade natal, Villa Rica (Paraguai), para estudar Medicina na Universidade Federal do Paraná. Formou-se em 1967. Passou num concurso, trabalhou como residente no Hospital de Clínicas e foi ficando. Casou-se com uma conterrânea que já vivia no Paraná, com quem tem três filhos brasileiros. Arias é presidente da Casa Paraguaia, associação criada em 1976 que tenta manter as tradições culturais dos "hermanos". Cerca de 950 paraguaios moram na capital. Hoje, a Casa Paraguaia vai promover uma grande festa para comemorar o dia da padroeira do país, a Virgem de Caacupé.
Adela Macedo Perez dos Reis Lopes, por sua vez, é peruana e chegou ao Brasil em 1984. Filha única, deixou os pais em Hoancayo, sua cidade natal, depois de casar com um curitibano. "Foi muito sofrido no começo. Era muito ligada a minha família, mas eu tinha a expectativa de ter uma vida nova e a experiência de viver num país com idioma diferente", diz Adela. Ela é presidente da Associação Peruana-Brasileira e trabalha para difundir a cultura de seu país.
Já a médica Paola Martel, 28 anos, é presidente de outra entidade peruana: a Associação de Residentes Peruanos no Sul do Brasil. Ela está tentando organizar um serviço de ajuda aos irregulares. "Muitas pessoas estão há dez anos no Brasil. Como não têm documentos, não podem visitar a família. Para piorar, o consulado peruano está desativado há dois anos. Para solicitar um documento, temos de ir a São Paulo", afirma Paola. "Eles saem do país com pouco dinheiro. A viagem é de ônibus e dura de quatro a cinco dias. Existem duas rotas possíveis: pelo Chile ou pelo norte da Bolívia."
O empresário Willian Yan Wey Man, dono da rede de lanchonetes Wing, é presidente da Associação Cultural Chinesa de Curitiba. Ele estima que vivem em Curitiba de 2,5 mil a 3 mil chineses, grande parte regularizada. Man conta que a principal onda de imigração foi entre 1985 e 1995. Vieram para o Brasil por causa da falta de perspectiva na China, mas o crescimento do país natal está levando muitos a fazerem o caminho de volta.