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Questão indígena

Nova reserva divide índios e produtores

Monumento aos xetás em Umuarama: etnia foi descoberta na década de 50 | Fotos: Osmar Nunes/Gazeta do Povo
Monumento aos xetás em Umuarama: etnia foi descoberta na década de 50 (Foto: Fotos: Osmar Nunes/Gazeta do Povo)

Umuarama - De um lado, o clima é de apreensão e revolta entre produtores rurais. Do outro, os índios xetás vivem a expectativa de voltarem a morar juntos novamente na terra onde foram descobertos pelos colonizadores na década de 50 do século passado, nos municípios de Umuarama e Ivaté, na região Noroeste do estado. No centro da questão está a área de 12 mil hectares que a Fundação Nacional do Índio (Funai) pretende demarcar e entregar aos sete sobreviventes da etnia e seus cerca de 100 descendentes.

O problema são os pouco mais de 100 produtores rurais, a maioria pequenos agricultores, e as 40 famílias de uma vila rural, que possuem a escritura dos lotes e têm a posse das terras onde cultivam café, pastagem, cana-de-açúcar e outras culturas perenes. Eles estão se organizando para evitar a demarcação de toda a área pretendida pela Funai e chegam a afirmar que vão resistir a qualquer tentativa de retirada. "Estão querendo criar aqui uma segunda Raposa Serra do Sol", diz o sitiante da área, Lázaro Pires da Silva, referindo-se ao conflito entre arrozeiros e índios de Roraima durante a conclusão da demarcação, em março deste ano.

Silva é um dos agricultores que está buscando apoio de políticos e entidades representativas dos ruralistas. "Não somos contra a demarcação, mas não é justo tomar a terra de quem comprou legalmente e paga seus impostos em dia para dar a um número reduzido de índios". Os produtores sugerem à União a aquisição de uma fazenda com área menor para entregar aos índios. Ariovaldo Dias dos Santos nasceu e viveu os seus 45 anos no sítio de 24 hectares, onde também mantém um restaurante na margem da rodovia PR-182, perto de Serra dos Dourados. "Nunca vi um índio por aqui e tudo o que conseguimos foi com muito suor. Pagamos nossos impostos em dia e temos toda a documentação registrada em cartório. O governo não pode agora tirar tudo isso da gente", afirma.

A indignação deles é tamanha que um grupo de trabalho da Funai esteve na região em agosto para realizar um levantamento socioeconômico e fundiário dos não-índios e muitos não quiseram nem receber os técnicos para prestar as informações. Segundo José Aparecido Briner, coordenador geral de Assuntos Fundiários da Funai em Brasília, o grupo de trabalho teve de completar o serviço buscando dados nos cartórios de registros de imóveis.

Briner informou ainda que parte das etapas necessárias à demarcação da reserva indígena já foi vencida, desde o estudo antropológico até o levantamento econômico. Tudo está em análise final. Ele acredita que, se o material for aprovado, a publicação nos diários oficiais da União e do Estado ocorrerá em 90 dias. "O estudo é técnico e a Funai não vai causar prejudicar uns para fazer justiça a outros", diz. Após a publicação, os produtores terão 90 dias para contestação, em seguida o Ministério da Jus­­tiça declara a área de terra indígena e inicia-se o processo de remoção das famílias para a entrada dos índios.

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