Um procedimento inédito no país, realizado em Curitiba, promete mudar a vida de cinco portadores de fibrilação atrial arritmia cardíaca frequente em idosos. O cardiologista Costantino Costantini aplicou uma técnica nova, usada há dois anos nos serviços cardiológicos da Alemanha, Espanha e Suíça, para fechar a auriculeta esquerda, um vestígio embrionário localizado na aurícula esquerda do coração.
A estrutura, semelhante ao dedo de uma luva, não tem função no organismo, mas pode representar uma ameaça para portadores de fibrilação atrial. Sem o bombeamento cardíaco adequado, o sangue acaba acumulado na auriculeta, formando coágulos, que podem viajar pela corrente sanguínea e provocar um acidente vascular cerebral (AVC) ou obstrução nas próprias artérias coronárias. Só nos Estados Unidos, 780 mil pacientes são atendidos por ano, vítimas de complicações causadas por coágulos. Entre os portadores de fibrilação atrial, 90% dos AVCs registrados foram causados por coágulos originados na auriculeta. Para eliminar o risco, os pacientes precisam usar diariamente medicamentos anticoagulantes, o que exige rígido controle de dosagem e adesão responsável ao tratamento. "Quem segue as orientações à risca tem uma rotina de controle anticoagulante exaustiva, para o remédio ser ajustado constantemente. Ainda assim, o medicamento oferece outros riscos, como o de uma hemorragia mais intensa em caso de hematomas, derrames ou cirurgias de emergência", diz o médico.
Prótese
A técnica aplicada por Costantini consiste em uma prótese, feita de nitinol, substância usada em uma malha em forma de guarda-chuva, que veda a passagem de sangue da aurícula para a auriculeta. Realizado por cateterismo, o procedimento exige alta tecnologia, além de profissionais habilitados. Equipamentos de ecografia e raio X de alta definição auxiliam o médico durante a aplicação do dispositivo. O cateter é introduzido pela virilha, chega no coração pela veia cava inferior, até atingir as aurículas e a entrada da estrutura, onde a prótese é instalada. A delicadeza da estrutura formada por mucosas muito finas e a precisão dos movimentos não permite manobras bruscas. O orifício mede em torno de dois a três centímetros de diâmetro. Depois do procedimento, o paciente fica por três dias em observação e tem alta hospitalar. "Daí em diante, vida normal, livre do medicamento. Atividades simples, como o barbear, não oferecem mais riscos ou desconfortos, por causa de sangramentos difíceis de controlar", explica Costantini. (APF)
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