A necessidade de adequar processos pedagógicos à realidade de uma geração que já nasceu virtual desafia instituições e professores. A reinvenção dos métodos de ensino tradicionais foi um dos temas abordados no Curitiba Social Media 2014, evento que ocorreu nesse fim de semana na capital paranaense.
A conclusão de que o modelo de ensino unidirecional, em que o professor "enche as mentes vazias dos estudantes", está fadado ao fracasso foi unânime entre os convidados que discutiram o tema. "Hoje em dia, o conhecimento está extremamente disponível. O educador tem de ter sensibilidade para aprender com os alunos e interagir com eles", afirmou o fundador da agência Mentes Digitais, André Telles. O diretor de Políticas e Programas Educacionais da secretaria estadual da Educação, Eziquiel Menta, completou o raciocínio dizendo que os métodos de ensino tradicionais ainda são focados centralmente no professor, com aulas meramente expositivas. Segundo ele, os alunos não são mais passivos como antigamente.
Ao mesmo tempo, Menta reconheceu que a Seed ainda tem dificuldades em formar professores para o contexto da tecnologia digital. Mas citou avanços: "Temos internet nas 2,1 mil escolas estaduais do Paraná, todas com laboratório de informática. E os professores levam conteúdo digital para a sala de aula", diz. Segundo ele, o desafio agora é implementar uma rede wi-fi nas unidades.
Entre as iniciativas inovadoras que tentam aproximar a linguagem que a nova geração adotou tão naturalmente das salas de aula, o gerente de mídias sociais da Agência Hive, Thiago Loch, citou os canais de vídeo-aula que professores têm no You Tube. Para ele, esses canais tornam a aprendizagem na internet prazerosa e se aproximam da realidade do estudante.
Os convidados concordaram que a matriz curricular está defasada. "Quantos aqui têm aula de empreendedorismo?", perguntou Telles à plateia, formada em maioria por estudantes de 18 a 30 anos. Menos de meia dúzia levantaram a mão. De acordo com Loch, é urgente a necessidade de desautomatizar e humanizar os processos educativos, para que a aprendizagem seja de fato efetiva. A jornalista do blog A vida como a vida quer, Samantha Shiraishi, que foi a mediadora da discussão, comentou o uso do WhatsApp e do Skype para a formação de grupos de estudo, ferramentas que têm dado certo com seus filhos.
A internet como espaço de boatos e calúnia
O Curitiba Social Media 2014 também discutiu o desafio de buscar informações de procedência na internet. João Frigério, repórter cinematográfico da Rede Massa, Bia Kunze, do blog Garota Sem Fio, Gladson Donadia, gerente de mídias sociais da Gazeta do Povo, e Fernando Gouveia, gerente da AppX Consultoria, conversaram sobre as armadilhas dos boatos e notícias falsas, abundantes nas redes sociais, onde qualquer um é "produtor de conteúdo". Ângela Luvisotto, do éParaná, moderou o debate.
Frigério e Donadia ressaltaram a importância de checar uma informação vista nas redes sociais antes de republicá-la. "Quando alguém quer saber se uma notícia é verdadeira, entra no site de um jornal da mídia tradicional", disse Donadia.
Bia lamentou que os usuários não tenham educação digital, o que colabora para que a internet seja uma arena de inverdades, calúnias e ofensas. Gouveia, que também é advogado, fez o alerta: "Há uma legislação e você é responsável pelo que diz na web."