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Comportamento

Novas leis contra velhos hábitos

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O ano de 2009 provou que, se a lei impõe, as mudanças de hábito ocorrem rapidamente. Não fu­­mar em locais fechados, não dirigir depois de beber, passar álcool em gel nas mãos para prevenir a nova gripe e ainda não contratar cães de aluguel (no Paraná) para fazer a segurança de casa foram algumas das regras incorporadas no cotidiano da grande maioria das pessoas. Primeiro veio a polêmica, a negação em aceitar, depois a obediência. Para o ano que vem ou em um futuro próximo, especialistas de diversas áreas acreditam na necessidade de mais alterações em prol do bem coletivo.A separação do lixo certamente entrará em discussão: se o Brasil seguir a tendência da Bélgica, por exemplo, multará as pessoas que não separarem adequadamente o lixo que produzem. Naquele país, é preciso selecionar inclusive os materiais recicláveis: papel com papel em um pacote da cor azul, plástico com plástico no saco vermelho e assim por diante. Quem não seguir as regras é advertido da infração e, se reincidir, é multado. Além disso, o caminhão não leva o lixo que está separado de maneira errada – o problema fica para o cidadão resolver.O engenheiro ambiental Carlos Mello Garcias, da Pontifícia Uni­versidade Católica do Paraná (PUCPR), acredita que a entrega do lixo será compulsória e individual. "O cidadão terá de separar tudo em casa, embalar adequadamente e levar o lixo em um local de coleta no bairro onde mora", diz. Para ele, entretanto, as pessoas só vão efetivamente adotar o novo modelo se confiarem nele. "Sem credibilidade, nada funciona."

O diretor-executivo da So­­ciedade de Pesquisa em Vida Sel­vagem e Educação (SPVS), Clóvis Borges, afirma que as novas leis ambientais estarão cada vez mais focadas na conservação da biodiversidade. As alterações do clima e das temperaturas, de um modo geral, começaram a inviabilizar negócios e a encarecer o produto final. Uma indústria que precisa de água potável de boa qualidade pode falir se um agricultor destruir os mananciais daquela região. Quem depende da extração de palmito, da erva-mate ou da madeira também segue o mesmo caminho: o de falência se não houver exploração consciente da natureza. "Aqueles que conservarem áreas naturais deveriam ser remunerados por isso", sugere Borges.

Trânsito

E o que dizer do trânsito? Milhares de brasileiros morreram ou ficaram com sequelas em decorrência de acidentes. A lei seca foi implementada, mas não é suficiente para resolver a questão. Aposta-se muito em tecnologia para corrigir um problema brasileiro: o motorista, de um modo geral, é individualista, inconsequente e agressivo – é o que mostram diversas pesquisas nesta área.

Equipamentos de controle podem ser uma solução, conforme explica o especialista Coca Ferraz, do Núcleo de Estudos de Segurança em Trânsito da Universidade de São Paulo (Nest-USP). Se o motorista não colocar o cinto de segurança e não fizer o teste do bafômetro no próprio veículo, o carro não dará a partida. Um mapa digital acoplado no carro saberá a velocidade permitida em cada rua, por isso, o acelerador ficará endurecido quando o motorista tentar exceder a velocidade da via. "Para o condutor ultrapassar esta velocidade, terá de pisar mais forte porque o pedal ficará duro. Esta ação (de infração) será ainda mais consciente", diz Ferraz.

Sinalizadores captarão o comportamento do motorista quando dirigir com sono e dispararão um alarme para acordá-lo. Ferraz também acredita que deveria ser obrigatória a existência de airbags em todos os carros, tanto na parte frontal do veículo, como na lateral. "É claro que, no início, essas tecnologias serão caras. Mas quando há a exigência desses acessórios e eles são produzidos em série, começam a baratear", afirma.

Fora a tecnologia, leis simples também podem ser bons exemplos de melhoria para o trânsito. Ferraz defende a obrigatoriedade da revisão anual dos veículos para os proprietários conseguirem renovar o licenciamento. "A pessoa vai até uma oficina particular credenciada no Detran, paga pela inspeção e recebe um controle de qualidade. Se o carro está em péssimas condições de uso, deve ser reprovado", diz.

Os legisladores deveriam, ainda, repensar as regras da habilitação provisória: quem tem esse tipo de carteira não poderia dirigir em rodovias e ficaria com a licença provisória por dois anos e não apenas um, como é hoje. "Defendo a necessidade de as autoescolas ensinarem as pessoas a dirigir nas rodovias. Deveria haver um determinado número de horas no volante para conseguir tirar a habilitação definitiva para guiar nas estradas", diz.

Fiscalizar as motos é inevitável, segundo o especialista. Isto porque, elas são 30 vezes mais letais que o carro quando ocorre um acidente. "Deveria haver um limite de potência para elas e uma fiscalização mais rígida nas ruas para flagrar e multar os motociclistas que praticam direção perigosa."

Ferraz não acredita, porém, que num futuro próximo haverá a cobrança do pedágio urbano para diminuir os congestionamentos das grandes cidades brasileiras. "Os políticos não pensam nas próximas gerações, mas sim, nas futuras eleições. E isso [pedágio] não dá voto."

O sonho de pisar na faixa de pedestre e, imediatamente, o carro parar, como ocorre na Europa, também parece estar bem distante da realidade brasileira. "Em Brasília deu certo porque a população começou a xingar os motoristas que não respeitavam o pedestre. Foi uma briga, mas eles conseguiram. A mudança de hábito é justamente isso: se é necessário mudar, é preciso que a população adote a ideia e bata pesado nisso."

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