Tem chovido demais no Paraná, e não é só percepção. Dados compilados pelo Simepar revelam que a chuva acumulada entre 1.º e 23 de novembro ultrapassou a média esperada para todo o mês, em todas as regiões do estado . Os maiores volumes até agora – praticamente o dobro do comum para a época – foram registrados nas regiões Norte e no Noroeste, áreas onde estão localizados alguns dos municípios mais afetados pelos temporais dos últimos 15 dias.
Marechal Cândido Rondon deve decretar situação de emergência nesta semana
Atingido por um tornado de intensidade F1 na quinta-feira passada (19), Marechal Cândido Rondon deve, ainda nesta semana, ser reconhecido como em situação de emergência. A prefeitura vai oficializar o mecanismo – que facilita o pedido de recursos para reconstruir imóveis, por exemplo – até quarta (25) e enviar o documento que relaciona os prejuízos aos governos estadual e federal.
Levantamento preliminar aponta que os prejuízos deixados pelo tornado devem ultrapassar a casa dos R$ 40 milhões. O fenômeno chegou com ventos de até 125 km/h e causou estragos severos na cidade, que fica no Oeste do Paraná.
No dia 21, o ministro da Integração Nacional, Gilberto Occhi, e o secretário Nacional de Proteção e Defesa Civil, Adriano Pereira, visitaram o município. O ministro informou que uma agência itinerante da Caixa Econômica Federal irá agilizar a liberação de recursos para a recuperação de casas e prédios públicos da região danificados pelos fortes ventos.
Mais de 6,2 mil pessoas foram afetadas pelo tornado, que danificou 1,4 mil casas e deixou 31 feridos.
Por causa das tempestades, Colorado, no Norte do estado, está em estado de emergência. Um forte vendaval atingiu o município no dia 13 de novembro, afetando mais de 200 pessoas. Nove moradores ainda permanecem desalojados, de acordo com a Defesa Civil estadual. Também há danos em 60 casas por causa da chuva e dos ventos fortes.
Em Tapejara, na região Oeste, a prefeitura também decretou situação de emergência. A cidade foi atingida por uma forte enxurrada no último dia 15. Ao todo, 165 pessoas foram prejudicadas de alguma forma pelo temporal, o qual causou estragos em bueiros e em asfaltos do município.
Calamidade pública
No Noroeste, a pequena Querência do Norte, com menos de 12 mil habitantes, está sofrendo com os prejuízos deixados por dois eventos consecutivos. Nesta segunda-feira (23), 25 famílias foram obrigadas a deixar suas casas por causa de uma inundação causada pelas cheias do Rio Ivaí. É a segunda inundação do ano, enfrentada cinco dias depois de uma enxurrada arrastar 15 pontes que ligam áreas centrais do município a zonas rurais.
“Nós temos oito assentamentos de sem-terra e eles estão praticamente isolados. Conseguimos arrumar caminhos alternativos por meio de fazendas, mas os ônibus escolares que pegam as crianças dessas comunidades não chegam até lá. Por isso elas estão sem poder assistir às aulas”, relata o cabo Hamilton Gutierrez Figueira, da Defesa Civil de Querência do Norte.
A difícil situação da cidade fez com que a prefeitura decretasse estado de calamidade pública, que se diferencia de situação de emergência pelo fato de que é decretado quando o desastre causa sérios danos aos moradores. Estima-se que os estragos estruturais no município cheguem a R$ 4,5 milhões.
A culpa é do El Niño
“Não é que o El Niño pode ter influência nessas chuvas. Ele é o culpado por todo esse excesso”, afirma a meteorologista Sheila Paz, do Simepar. O fenômeno, o mais forte dos vinte anos, é que tem moldado os dias consecutivos de tempestades no Paraná e em toda a região Sul do país.
417 milímetros
É o acúmulo de chuva registrado até o fim da manhã desta terça-feira (24) em Londrina, no Norte do Paraná. O índice é 2,5 vezes mais do que o normal esperado e indica o mês de novembro mais chuvoso desde 1997 na cidade. Curitiba e Maringá (Noroeste) também bateram seus recordes: elas tiveram, respectivamente, 195 mm e 242,6 mm de chuva acumulada entre o dia 1.º de novembro e fim da manhã de 24 de novembro. Segundo o Simepar, é o mês de novembro mais chuvoso dos últimos 18 anos na capital.
Aliás, configuração essa que deve se manter até março de 2016 e alimentar cada dia mais o argumento que muitos pesquisadores já sustentam: de que este El Ninõ deve se tornar o mais forte já registrado.
“A primavera é naturalmente mais chuvosa do que os meses anteriores a ela. Só que este ano temos um período muito mais chuvoso. Se a gente comparar a intensidade do El Niño de agora, podemos dizer que, pelo menos, ele é o mais forte dos últimos vinte anos”, analisa a meteorologista.
Traduzindo em números, a força do fenômeno, que se caracteriza pelo aquecimento anormal das águas do Oceano Pacífico, já fez chover nas regiões Norte e Noroeste do Paraná 96% a mais do que a média de um mês de novembro. Na capital e na região central do estado, nas quais os acúmulos normais são de aproximadamente 116 mm e 142 mm, as precipitações já se superaram em 46%. No Oeste, choveu 41% a mais além do esperado, e no Sudoeste e Sul, 15% a mais.
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