Motoristas ainda invadem ciclovia, mesmo com a demarcação| Foto: Antônio More/ Gazeta do Povo

Uma via exclusiva e muitas dúvidas

Como a Via Calma, a faixa exclusiva de 2,5 quilômetros na Rua XV de Novembro, entre a Avenida Nossa Senhora da Luz e Rua João Negrão, também afetou o trânsito na região em que foi implantada. Antes com três faixas de rolamento e uma para estacionamento, a via ficou com duas faixas para veículos e uma terceira, à direita, para os ônibus de 11 linhas que passam pelo local, transportando 45 mil pessoas. De acordo com a Urbs, a estimativa é de que a faixa dê um ganho de velocidade operacional de pelo menos 5%.

A secretária de trânsito Luiza Simonelli explica que, apesar de a sinalização estar praticamente pronta, com a pintura no chão e os tachões, a prefeitura ainda faz os últimos ajustes na via. "Teremos uma conversa com os comerciantes da região, que pediram a instalação de um remanso. Essa obra é uma aposta nossa para aumentar a fluidez no trânsito", diz.

O presidente da Urbs, Roberto Gregório da Silva Junior, diz que nesta semana haverá uma ação de panfletagem para orientação de motoristas – de carros e ônibus – e só então a fiscalização começará. "A faixa está projetada para ser exclusiva em tempo integral, mas obviamente teremos períodos de avaliação", diz.

Na segunda-feira, quando a reportagem da Gazeta do Povo passou pelo local, enquanto o lado destinado ao ônibus estava vazio, os motoristas sofriam com um congestionamento de quase 1 quilômetro. Além do aumento do fluxo, os condutores de carros também reclamam da sinalização. "O motorista, quando entra na Rua XV logo depois da Avenida Nossa Senhora da Luz, não é avisado de que ali começa a via exclusiva. Quando vê, ele já está dentro", relata o advogado Jonias de Oliveira e Silva.

A dúvida é referente à conversão. "A gente não sabe ainda se é preciso entrar na pista do ônibus ou se temos que ficar na nossa", finaliza Silva. A prefeitura esclarece que não haverá sinalização apontando o início da via exclusiva. Já sobre a conversão, o órgão relata que ontem foram instaladas seis placas com indicações de como a manobra deve ser feita.

A artesã Fernanda do Nascimento, que trabalha na região, diz ter presenciado um conflito. "Hoje mesmo eu vi dois motoristas discutindo por causa da conversão", conta. Fernanda, que usa o transporte público para ir para casa, também fala que a via não deixou os ônibus mais rápidos. "Não mudou nada. Estou aqui esperando a condução faz um bom tempo."

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Sem respeito

Na segunda-feira, a reportagem da Gazeta do Povo percorreu toda a Via Calma, da Rua Mariano Torres à Praça do Japão. No percurso, dois carros usaram a pista exclusiva de ciclistas para estacionar – o primeiro, de uma construtora, ficou 10 minutos; o segundo, da Copel, permaneceu por 10 minutos. Motociclistas também usam a faixa.

Sem multa

A implantação da Via Calma e da faixa exclusiva não é nenhum bicho de sete cabeças. No início, haverá orientação a motoristas, pedestres e ciclistas, para que todos usem o espaço compartilhado. A fiscalização e possíveis multas só começariam depois de um mês. Também pode haver o uso de equipamentos de fiscalização eletrônica.

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Uso eventual da faixa é permitido, menos parar no semáforo
Antes da multa, condutores serão orientados sobre o uso da via
Congestionado, motorista considera vias exclusivas ociosas

Acostumada a ser vanguarda em soluções de mobilidade urbana, Curitiba passou por um período de poucas novidades na área. Agora, de uma vez só, aparece com duas mudanças que estão causando burburinho entre motoristas, ciclistas, pedestres e usuários de ônibus. A Via Calma, na Avenida Sete de Setembro, é a primeira proposta brasileira para incluir a bicicleta em uma via compartilhada. Já na Rua XV de Novembro, um trecho de 2,5 quilômetros está recebendo a primeira faixa exclusiva para ônibus da cidade, que deve beneficiar 11 linhas de ônibus.

Embora ainda não tenham sido oficialmente inauguradas, a pintura das faixas, os tachões e as placas de sinalização já instaladas nas vias têm gerado dúvidas sobre como usar os espaços. Para o presidente do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc), Sérgio Póvoa Pires, essas mudanças refletem uma opção de priorizar o ser humano. "A administração municipal apostou que a tolerância, espírito de cidadão e a possibilidade de usufruir a cidade vencem", comenta.

E as duas intervenções são apenas o começo. A tendência é de que mais vias calmas e faixas exclusivas para ônibus ganhem espaço na cidade. "A médio prazo, vamos ter o metrô e a parte de cima, onde o expresso está, será um parque linear e a ciclovia terá outra função. Isso vai mudar a paisagem urbana", diz Pires. O Ippuc já tem projetos para implantar a Via Calma em outras ruas por onde passam as canaletas do biarticulado. Caso a avaliação da iniciativa seja positiva, a Avenida João Gualberto será a próxima a receber essa intervenção.

Avenida central terá máxima de 30 km/h

A Via Calma, localizada na Avenida Sete de Setembro, ainda não foi inaugurada, mas já começou a gerar conflito entre motoristas e ciclistas. O trecho de 6,3 quilômetros entre a Rua Mariano Torres e a Praça do Japão está quase todo sinalizado e será inaugurado em breve. Por ali, as bicicletas têm uma faixa preferencial de tráfego por todo o lado direito da rua. A aposta é no compartilhamento do espaço com os carros. Qualquer veículo que trafegue na avenida terá como velocidade máxima 30 km/h.

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Os motoristas alegam que o trânsito, até então conturbado, ficou pior. "Eu acho que atrapalhou muito porque antes era possível fazer duas filas de carros, e agora não", relata o taxista Moacir Janiska dos Reis, de 42 anos. A mesma opinião tem o motorista José Teixeira, 50 anos. "Olha, o trânsito ficou péssimo e estou atendendo 20% menos. A prefeitura deveria ter conversado com a gente antes."

A possibilidade de dois carros trafegarem no trecho é rebatida pela prefeitura. Para o coordenador do projeto de ciclomobilidade do Ippuc, Antonio Miranda, o argumento é falho porque a via é estreita. Para dois veículos trafegarem ali, a velocidade já seria naturalmente reduzida, sob risco de colisão. A implantação da Via Calma, com espaço para os ciclistas, apenas reforça o conceito do sistema trinário, em que há duas vias rápidas de acesso ao bairro e centro e uma via estrutural mais lenta ao centro.

"A bicicleta vai andar como outro veículo qualquer, mas a prioridade é para ela. O motorista pode circular na área na ausência do ciclista, mas não pode se aproximar da linha vermelha quando o semáforo estiver fechado, tem de dar espaço para que o ciclista se posicione", explica Miranda. Danilo Herek, coordenador de mobilidade urbana da Secretaria de Trânsito (Setran), ressalta que a faixa é preferencial ao ciclista, com exceção das bicicaixas, pintadas de vermelho. "O carro pode transitar ali para desviar, mas não a quadra toda", diz.

Já os ciclistas, que utilizavam as canaletas de ônibus para locomoção – atitude passível de penalidade e multa, de acordo com o artigo 255 do Código Brasileiro de Trânsito –, estão pulando de alegria. "Foi um sonho realizado. Meu tempo foi otimizado em 80%", conta o operador de máquina da Coca Cola Marcos Roberto da Luz, 43 anos, que usa a avenida para fazer pagamentos. Ele afirma, porém, que alguns condutores ainda não respeitam as delimitações. Mesmo com o espaço preferencial, Herek afirma que é um desafio tirar o ciclista da canaleta, mas o órgão também trabalha para chamá-los para ocupar o espaço na via acalmada.

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