A tecnologia de objetos que você usa no dia a dia, como tênis, travesseiro, antena de satélite e filtro de água, têm a mesma origem: a Agência Espacial Americana, a Nasa. Desde 1976, o departamento divulga um relatório anual conhecido como Spin off (derivados, em tradução livre para o português), que mostra como suas pesquisas internas se transformaram em produtos e serviços oferecidos a empresas e à população.
O programa da Nasa de transferência de tecnologias para o comércio e indústria de diversos segmentos, como saúde, transporte e vestuário, se tornou tão importante que se transformou em um conceito. De acordo com especialistas, o spin off é uma das formas mais notáveis de geração de novas empresas e empreendedorismo. Significa a geração de uma empresa a partir de uma empresa-mãe ou de um centro de conhecimento. Ele também serve para apresentar resultados à sociedade. Na Nasa, por exemplo, desde que o projeto começou, mais de 6,3 mil patentes foram registradas e 1.650 produtos acabaram aproveitados pelo mercado.
Atualmente, o Brasil conta com diversas iniciativas para facilitar a transferência de tecnologia, destacando-se as incubadoras de empresas instaladas em universidades e o recente esforço de formação de parques tecnológicos como fundações ou institutos ligados às universidades. Um dos melhores exemplos é a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).
De acordo com o pesquisador da Embrapa José Roberto Rodrigues Peres, em 37 anos mais de 8 mil tecnologias desenvolvidas pela empresa se tornaram produtos utilizados pelo mercado. "Antigamente, por exemplo, só se plantava soja no Sul do Brasil, hoje plantamos no país inteiro. Isso é resultado de tecnologias nossas", explica. Segundo Peres, as pesquisas nascem a partir de demandas da sociedade. "Analisamos as demandas, os pontos de estrangulamento e pesquisamos. Somos referência mundial na transferência de tecnologia", diz.
Desenvolvimento
Apesar de haver uma empresa que pratica bem o spin off no Brasil, a prática ainda não é comum no país. Na opinião de Fernando Dolabela, autor do livro Empreendedorismo de Base Tecnológica - Spin-off Criação de Novos Negócios a Partir de Empresas, o que falta no Brasil é uma cultura de geração de empresas a partir de desenvolvimentos, descobertas, tecnologias e patentes geradas nos centros de pesquisa. "Inovação e empreendedorismo não são fenômenos exclusivamente vinculados ao conhecimento. É necessária uma cultura inovadora. Apesar de termos bons centros de pesquisa, ainda não estamos habituados a transformar conhecimento em riqueza", afirma.
Para o pesquisador, mesmo nas empresas em que o spin off se aplica muito bem, como no caso da Embrapa, o país ainda não conseguiu fazer com que esse estilo gerencial seja aplicado em larga escala. "Temos vários exemplos de empresas geradas em universidades, como a Biobrás na área de biotecnologia, a Akwan na área de TI [tecnologia da informação]. O potencial de empresas como a Petrobrás, Vale, empresas de telecomunicação, de gerarem spin offs são ilimitados", diz.
O especialista afirma que as empresas brasileiras, principalmente as públicas, têm grandes chances de chegar ao mesmo nível da Nasa. "O spin off não é uma prática nova. Temos que chegar lá, e podemos fazer isso desde que consigamos mudar a nossa cultura e direcionarmos investimentos pesados na área de pesquisa e fronteira tecnológica", conclui.