A Secretaria de Estado da Segurança Pública (Sesp) pretende reforçar a segurança na região metropolitana de Curitiba (RMC). O projeto prevê a criação de um novo batalhão da Polícia Militar na região (que passará a ter dois batalhões), a ampliação do projeto Povo (Policiamento Ostensivo Volante) e a contratação de policiais civis, que reforçarão as delegacias dos municípios mais importantes da região. A reestruturação ainda está em fase de estudos e deverá ser anunciada em breve pelo secretário da Segurança Pública, Luiz Fernando Delazari.
A criação de um novo batalhão da PM é uma antiga reivindicação de moradores dos municípios mais afastados de São José dos Pinhais, onde fica o 17.° Batalhão da PM, atualmente o único que atende os 24 municípios da RMC. A idéia é dividi-los em duas áreas (norte e sul), o que daria mais agilidade ao trabalho policial. A implantação da unidade metropolitana depende de autorização da Assembléia Legislativa e da abertura de concurso público para a contratação de policiais.
Outra proposta é expandir o Povo de acordo com a densidade populacional das cidades. Atualmente, o Policiamento Ostensivo Volante conta com 39 viaturas e está presente em apenas nove cidades da região (Almirante Tamandaré, Araucária, Campina Grande do Sul, Campo Largo, Colombo, Fazenda Rio Grande, Pinhais, Piraquara e São José dos Pinhais). De acordo com a Sesp, nos próximos dias o serviço será incrementado por 142 viaturas e 278 motocicletas para Curitiba e região metropolitana. Em relação à Polícia Civil, a meta até o fim do ano é contratar 542 policiais para atuarem em todo o estado. A Sesp não informou quantos policiais serão destinados à RMC.
Necessidade
Presidentes de Conselhos Comunitários de Segurança (Consegs) dos municípios da RMC apontam como urgente o reforço do policiamento na região, que nos últimos meses registrou várias ondas de violência. Segundo eles, a principal causa da sensação de insegurança vivida hoje na RMC é a baixa capacidade da Polícia Civil de investigar e solucionar casos. Segundo dados de 2006 da Secretaria Nacional da Segurança Pública (Senasp), o Paraná tem um policial civil para cada grupo de 2,4 mil habitantes (o Distrito Federal, por exemplo, tem um policial para cada 453 habitantes).
A situação é agravada pelo alto número de presos abrigados nas delegacias da região. "Ao invés de os policiais fazerem o trabalho de investigação, têm de cuidar da carceragem", diz o deputado estadual Tadeu Veneri (PT), membro da Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa. Segundo a Sesp, em 2005 foram contratados 200 auxiliares de carceragem para as delegacias onde o problema era mais urgente. O objetivo é fazer um trabalho semelhante ao realizado em Curitiba, onde apenas três dos 13 distritos policiais ainda recebem presos. A secretaria, no entanto, não soube informar quantos detentos há atualmente nas delegacias da RMC.
O eventual aumento do policiamento é bem recebido pelos Consegs. "Curitiba tem uma viatura e dois policiais para cada bairro. Pinhais, por exemplo, tem duas viaturas para 13 bairros", compara Sérgio Skiba, presidente da União Estadual dos Conselhos de Segurança (Uniconseg) e do Conseg de Pinhais.
A situação atual tem levado a um problema mais grave: a falta de confiança da população nas instituições policiais. "A polícia precisa ir com mais humildade para a periferia", afirma José Augusto Soavinski, diretor de relações com a comunidade da Uniconseg. "Os moradores não têm respeito, têm medo. Ela discrimina, já chega dando borrachada. E quem dá com a língua nos dentes (denuncia os criminosos) não fica vivo 24 horas."
Com desconfiança na polícia e medo dos bandidos, são muitas as vítimas da violência que deixam de registrar ocorrências, como diz o advogado Jaiderson Rivarola, primeiro secretário do Conseg de São José dos Pinhais. "As pessoas são assaltadas, sofrem as maiores atrocidades e não registram queixa. Não buscam mais a Polícia Civil, porque não têm resposta ou não são atendidas." Segundo a Sesp, o policial civil que se negar a registrar uma ocorrência deve ser denunciado pelo telefone 0800-41-0900.
Obscuridade
Nos últimos anos tem sido difícil saber, com base nos números, quais são as regiões mais perigosas e os crimes mais comuns na RMC, já que a Sesp não divulga as estatísticas que diz dispor. A secretaria, inclusive, deixou de repassar estatísticas de violência para a Senasp. Em outubro do ano passado, um estudo divulgado pela secretaria nacional colocou, equivocamente, Curitiba como capital mais violenta do país. Após contestação de Delazari, a Senasp admitiu o erro. Depois disso, não obteve mais os números oficiais da violência no Paraná.
De acordo com a Sesp, no final do ano passado o Colégio Nacional dos Secretários de Segurança Pública do Brasil decidiu que as secretarias não repassariam mais dados à Senasp, já que os estados têm maneiras diferentes de coletar e tabular estatísticas. O repasse dependeria de o governo federal definir "uma estratégia de coleta e divulgação que permita a comparação justa entre os estados", informa a secretaria.
Vida real
Mesmo sem os números, é possível ter uma idéia de como anda a violência na região metropolitana. Os casos de mortes que chegam ao Instituto Médico Legal (IML) de Curitiba mostram que, em 15 dias (de 16 a 30 de janeiro), 24 pessoas foram assassinadas na RMC (22 delas baleadas). As cidades com mais homicídios no período foram São José dos Pinhais (nove mortes), Almirante Tamandaré (seis) e Fazenda Rio Grande (quatro).