| Foto: Daniel Castellano/Gazeta do Povo

A Medida Provisória que reformula o ensino médio – publicada nesta sexta-feira (23) no Diário Oficial da União – já enfrenta resistências no Congresso, nos Estados e no Ministério Público. Além disso, apesar dos diversos esclarecimentos do Ministério da Educação (MEC), continuam as polêmicas sobre as disciplinas que serão obrigatórias.

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As dúvidas sobre implementação do modelo persistem, com alunos de escolas paulistas já falando até em ocupações, como as que aconteceram em 2015. O MEC ressaltou ontem que o novo modelo, como foi informado anteontem, é opcional – ou seja, ninguém está obrigado a adotá-lo.

Sexta-feira, a MP publicada manteve os trechos que tratam das disciplinas de Artes e Educação Física, sem citar nominalmente a obrigatoriedade dessas matérias no novo currículo – o que havia repercutido negativamente um dia antes. O MEC garante, no entanto, que elas vão permanecer em caráter indispensável pelo menos até a definição da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), que ocupará a primeira metade do ensino médio. A segunda metade poderá ser flexibilizada em cinco ênfases.

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O secretário de Educação Básica do MEC, Rossieli da Silva, alegou que o “mal entendido” em torno da dispensa das duas disciplinas foi porque a pasta distribuiu aos jornalistas versão preliminar da MP, e não a redação final, que ainda precisava de “ajustes técnicos”. Em nota de esclarecimento, ele afirma que “não está decretado o fim de nenhum conteúdo, de nenhuma disciplina”.

A secretária executiva do Ministério da Educação, Maria Helena Guimarães de Castro, foi na mesma linha e ressaltou que as mudanças ainda serão discutidas com secretários estaduais de Educação e professores. Estão previstos seminários para tratar do tema nos próximos dois meses.

“O que nós teremos é uma nova Base Nacional Curricular Comum que será discutida e depois encaminhada ao Conselho Nacional de Educação, para aprovação no ano que vem.”

Adequação

Mesmo que a MP seja aprovada no Congresso Nacional (o que deve ocorrer em um prazo máximo de 120 dias, sob pena de perder efeito), as escolas de todo o país ainda não serão obrigadas a se adequar ao modelo proposto. As redes são livres para oferecer todas as ênfases – Linguagens, Ciências Humanas, Ciências da Natureza, Matemática ou Ensino Técnico –, apenas algumas ou até mesmo nenhuma. Neste último caso, de acordo com a secretária executiva do MEC, a única exigência da pasta será o cumprimento da base nacional.

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O Congresso deverá reunir um dos focos de resistência à reforma. A primeira reunião da comissão mista formada por deputados e senadores para debater a agora chamada MP 746 deve acontecer na semana após as eleições municipais. Ex-ministro da Educação, o senador Cristovam Buarque (PPS-DF) procurou a líder do governo no Congresso, senadora Rose Freitas (PMDB-ES), para pleitear a relatoria do tema.

Mas os partidos de oposição já anunciaram que farão obstrução a qualquer análise. A senadora Fátima Bezerra (PT-RN) disse que o bloco vai trabalhar para que o governo retire o texto e retome o debate via projeto de lei.

Já o relator do projeto que tramitou na comissão especial da Câmara e está aguardando votação no plenário desde o fim de 2014, o deputado Wilson Filho (PTB-PB), destacou que as MPs sempre estão sujeitas a modificação. Ele ressaltou que o tema estava esquecido no Congresso. “Há muito tempo todo mundo vem protelando. A MP não é o melhor caminho, mas coloca todo mundo para debater”, disse.

Processo “pouco democrático”

O Ministério Público Federal também considerou “pouco democrático” o processo. Em nota sobre o tema, a procuradoria federal dos Direitos do Cidadão critica a decisão do governo e sustenta que as mudanças precisam de “segurança jurídica”, sem descartar a “eventual adoção de medidas” judiciais.

Às críticas sobre a escolha da medida provisória como “atalho” para concretizar a reforma do ensino médio, o ministro da Educação, Mendonça Filho, tem respondido que as mudanças “não nasceram de forma impositiva”, mas foram discutidas e avalizadas pelo Conselho Nacional dos Secretários de Educação, além de ter por base o conteúdo do projeto de lei que tramita no Congresso Nacional sobre o mesmo tema.

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