Em São Paulo, os professores ajudaram a formar a multidão de 15 mil pessoas à tarde...| Foto: Daniel Sobral/Futura Press/Folhapress

Paraná

Marcha de cem sinaliza alguma mobilização em Curitiba

Diego Ribeiro

Cerca de 100 pessoas marcharam pelo Centro de Curitiba em protesto contra Copa do Mundo no país ontem. O ato, repetido com mais ênfase em outras capitais do país, foi considerado um alerta pelos movimentos sociais sobre o que acontecerá no dia 12 de junho, abertura do Mundial. "Hoje é uma marcação sobre o que vai acontecer. Estamos preparando um grande ato no dia da abertura no país inteiro", disse a educadora Mariane Siqueira, presidente municipal do Partido Socialista dos Trabalhadores Unificados (PSTU).

A entrada dos partidos, aliás, foi uma marca das manifestações de ontem – em contraposição aos protestos de junho do ano passado. "Não tem como os partidos não estarem presentes. Principalmente porque é ano eleitoral e é preciso uma reforma profunda nos partidos que estão no poder hoje", comentou Mariane.

O trajeto dos manifestantes começou na Boca Maldita, passou pelo calçadão da Rua XV, pela Praça Santos Andrade e pela Avenida Marechal Deodoro, até voltarem à Boca.

Para Isabella Cunha, do Comitê Popular da Copa em Curitiba, o protesto mostra o trabalho dos movimentos populares depois das passeatas do ano passado. "Nós não paramos depois das manifestações de 2013. A nossa ideia é mobilizar a sociedade. Temos mais de 250 mil pessoas que ficaram sem moradia por causa da copa", disse Isabella.

No final da passeata, os manifestantes se reuniram para uma apresentação sobre o impacto negativo da Copa. Algumas pessoas depuseram contra remoções ilegais em razões de obras. Um deles, morador da Vila Nova Costeira, em São José dos Pinhais, alertou para a desocupação compulsória que sofrerão em razão da construção da terceira pista do Aeroporto Afonso Pena.

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... pela manhã, pró-moradia queimou pneus no Itaquerão
No Rio de Janeiro, além dos professores, motoristas de ônibus também se juntaram à marcha. Uma pessoa foi detida
Na capital mineira, além dos professores, movimentos sociais como o Tarifa Zero levaram 2 mil ao Centro
Em Curitiba, apenas 100 pessoas foram às ruas e com a participação de partidos políticos
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As manifestações que ocorreram em pelo menos seis capitais do país ontem e reuniram mais de 25 mil pessoas não tiveram a mesma força e engajamento da onda de junho do ano passado e nem fizeram jus ao slogan de "Manifestação das Manifestações". Os gritos por mais moradia, saúde e educação e contra os investimentos na Copa do Mundo foram, desta vez, emitidos também por partidos políticos. Ainda assim, as vozes foram suficientes para o governo federal recuar, ao menos, do projeto de lei antiprotestos. A mudança legislativa conduzida pelo Executivo federal tinha como objetivo punir de forma mais rigorosa os ativistas que praticassem atos de vandalismo ou violência durante manifestações.

"A presidente chegou à conclusão de que não era prudente a gente fazer neste momento uma nova lei, porque evidentemente soaria como tentativa de criminalizar ou punir as manifestações", disse.

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"Ela se convenceu de que temos aparato legal para enfrentar os, espero, raros casos de violência adequadamente. Dentro do conjunto de lei que nós temos", afirmou. O ministro disse ainda que o governo terá ferramentas para acompanhar, supervisionar e fiscalizar as manifestações.

Em boa parte das cidades, o sentimento de insatisfação trouxe consigo demandas específicas. Em São Paulo, o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) fechou os principais corredores da cidade, reunindo cerca de 4 mil pessoas em quatro pontos diferentes. Houve queima de pneus nas proximidades do estádio Itaquerão. Somados a outras organizações, como professores e metalúrgicos, ao menos 15 mil pessoas foram às ruas de São Paulo para atacar os gastos públicos no torneio. Os trabalhadores da educação, em particular, reuniram 8 mil pessoas na Vila Mariana, zona sul de São Paulo. À noite, um grupo de black blocs entrou em confronto com a polícia, ao menos duas agências bancárias e uma concessionária de veículos foram depredadas. Sete pessoas foram presas.

Foram também os professores que deram o tom nos protestos no Rio de Janeiro. Com o acordo feito no ano passado com o poder público cancelado nessa semana pelo ministro do Supremo Tribunal Federal, Luiz Fux, e sujeitos a ter os dias parados descontados do salário, eles resolveram manter a greve e aderir aos manifestações do dia. Parte dos motoristas de ônibus que, contrariando o sindicato da categoria, se recusam a aceitar a proposta da prefeitura fluminense e protagonizaram dias de caos na cidade nos últimos dias, ajudaram a formar uma multidão de quase 2 mil pessoas nas ruas do Rio.

Ainda ontem, em sua coluna no site do jornal espanhol El País, o ex-presidente Lula disse que a Copa no Brasil virou "objeto de feroz luta política eleitoral". "À medida que se aproxima a eleição presidencial de outubro, os ataques ao evento tornam-se cada vez mais sectários e irracionais", escreveu ele.

Durante o dia de ontem, o Planalto acompanhou de perto a adesão aos protestos nas redes sociais. De 16,7 mil manifestações marcadas, apenas 20% tinham confirmações de participação. Em junho do ano passado, este porcentual era o dobro, de 40%.

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