Depois de 53 dias em que as obras de pavimentação foram concluídas na Estrada da Ribeira (BR-476), que liga Curitiba a Adrianópolis, na divisa com o estado de São Paulo, os moradores da região começam a ter de lidar com problemas de trânsito. O número de acidentes em junho de 2005 é 37,5% maior do que a média dos cinco meses que antecederam a conclusão das obras, segundo dados da Polícia Rodoviária Federal (PRF). Neste período foram registrados 32 acidentes contra 15 ocorridos no mês de maio. Os acidentes do primeiro semestre deste ano também ocorreram em maior número dos registrados no mesmo período do ano anterior. De janeiro a junho de 2004 foram 113 acidentes, que resultaram em 4 mortes e 92 feridos. Já no primeiro semestre de 2005 foram 132 acidentes, em que 3 pessoas morreram e 139 ficaram feridas.
Antes da pavimentação concluída, a estrada que possui uma extensão de 120 quilômetros e corta os municípios de Colombo, Bocaiúva do Sul e Tunas do Paraná, ficava interditada por conta do lamaçal formado por fortes chuvas. Agora, mesmo antes da inauguração oficial das obras, o tráfego é interrompido devido às colisões que principalmente envolvem automóveis e caminhões. No dia 22 de julho, dois acidentes, um ocorrido nas proximidades do município de Bocaiúva do Sul e outro próximo à Adrianópolis, bloquearam as duas pistas da via durante uma tarde inteira. O saldo foi trágico e três pessoas morreram no local antes da chegada da equipe de resgate.
Naquela ocasião, uma fila de aproximadamente cem veículos se formou na rodovia, próximo ao município de Bocaiúva do Sul. O congestionamento dá uma idéia do fluxo de veículos na rodovia que não possui posto de fiscalização da PRF e, portanto, não tem registros oficiais do movimento. Além do movimento, a estrada possui muitas curvas e não tem acostamentos. Estes fatores aumentam o risco de acidentes, ainda mais quando aliados às altas velocidades praticadas pelos motoristas de automóveis e caminhões (com cargas que chegam a pesar até 80 toneladas) que trafegam pela estrada.
Nova rotina
Todos estes fatores agora passam a ser observados pelos moradores da região que antes eram acostumados com a tranqüilidade da estrada de chão. Os primos Josikely Fernandes Serbelo, 10 anos, Vivian Lourenço Serbelo, 8 anos e Marcieli dos Santos, 9 anos, são acostumados a andar sem a companhia de adultos no meio da estrada, nas proximidades de Adrianópolis. "Agora passa muito mais carro do que antes. Eu tenho medo porque eles correm muito", disse Josikely. As crianças caminham pela rodovia quase todos os dias, durante 10 minutos, tempo suficiente para vencer o percurso entre as casas dos pais e tios.
Cuidar da travessia de maior parte das 26 crianças entre 7 e 10 anos, que estudam na Escola Municipal Rural de Pocinhas, também nas proximidades de Adrianópolis, é um verdadeiro desafio para a professora Izalete Souza dos Santos. A dificuldade em atravessar os pequeninos fica ainda maior porque a escola está localizada numa curva com pouca visibilidade onde os motoristas abusam da alta velocidade. "Às vezes a gente olha e não consegue enxergar que estão vindo os carros. Ficou bem mais perigoso agora", disse a professora comemorando o fato de ainda não ocorrido acidentes envolvendo as crianças que nem sempre tem noção do perigo enfrenta. "Às vezes eu venho sozinha, mas não tenho medo não", garantiu Jéssica Janara Santos Rocha, 9 anos.
Movimento
O risco também se estende tanto aos adultos que caminham na beira da estrada quanto aos que são passageiros ou motoristas dos veículos que passam pelo local. O proprietário de um restaurante localizado em Tunas do Paraná, Luís Ernesto Baldão, conta que sentiu o movimento aumentar em 10 vezes na região. "Pelo menos um acidente tem ocorrido por dia aqui. Ontem mesmo teve um com um caminhão que tombou madeira na estrada". O comerciante reclama da falta de fiscalização e acredita que uma balança de cargas deveria ser construída na rodovia. "Os caminhões passam com a carga muito grande".
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