"Filhos... Filhos? / Melhor não tê-los! / Mas se não os temos / Como sabê-los?". Em seu poema "Enjoadinho", Vinícius de Moraes pondera, bem humorado, razões para descartar os filhos do planejamento familiar e outras tantas para tê-los. No fim, o poetinha lembra: "Que coisa louca / que coisa linda / que os filhos são". Para alguns casais, no entanto, a paternidade e a maternidade foram excluídas em definitivo da equação familiar. Casais sem filhos ainda representam a minoria, mas a tendência tem crescido em todos os países, inclusive no Brasil.
É o que revela a pesquisa Síntese de Indicadores Sociais (SIS 2014), elaborada pelo IBGE com base nos dados coletados pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD 2013). O levantamento mostrou que o número de famílias formadas por casais sem filhos chegou a 19,4% em 2013 dez anos atrás, em 2004, esse índice era de 14,6%, o que representa um crescimento porcentual de 33% em uma década. Isso significa que um em cada cinco casais brasileiros vive somente a dois.
A tendência verificada nacionalmente se confirmou também no Paraná e na Região Metropolitana de Curitiba (RMC), que apresentaram índices de casais sem filhos superiores à média nacional, 21,5% e 20,2%, respectivamente. Em contrapartida, o total de arranjos familiares compostos por casais com filhos caiu no mesmo período em todo o país. A proporção desses arranjos familiares passou de 50,9% em 2004 para 43,9% em 2013.
Segundo a pesquisa, além das características econômicas e sociais, contribuem para essa nova dinâmica a queda da fecundidade, o envelhecimento populacional, o aumento do número de divórcios e o adiamento do casamento e da maternidade. A presença mais significativa das mulheres no mercado de trabalho também é justificativa.
Custos
Segundo o psicólogo e coordenador do curso de Psicologia da PUCPR, Naim Akel Filho, a redução do número de filhos por família é verificada mundialmente há pelo menos 40 anos e está associada à preocupação com os custos demandados pela criação da prole e os recursos naturais limitados. Já em relação aos casais sem filhos, Akel Filho explica que não há pesquisas suficientes que forneçam uma resposta científica clara sobre o fenômeno. Mas é possível levantar hipóteses.
"A sociedade está muito violenta, o consumismo está esgotando o meio ambiente. Há o questionamento: colocar mais uma pessoa no mundo para quê?.
Outra hipótese é o fato de vivermos em uma sociedade cada vez mais hedonista. As pessoas estão mais preocupadas em viver bem. Nesse contexto, filhos não fazem falta", analisa. Para o psicólogo, ter um filho é fazer concessões momentâneas. "O prazer vem com o desenvolvimento deles (dos filhos). Mas, para isso, os pais precisam abrir mão de prazeres momentâneos."
Um projeto de vida chamado filhos
Não ter filhos jamais passou pela cabeça de Laudicéia de Jesus Ferreira da Cruz, 53 anos. O desejo de ser mãe somado à certeza de que filhos constituem um presente divino foi o que garantiu serenidade à dona de casa e ao marido, Wilson Soriano da Cruz, 53, para criarem os cinco filhos.
Quando casou, aos 19, Laudicéia esperava pelo primogênito, Eduardo, hoje com 34 anos. Quatro anos depois, veio Sabrina, 30. Laudicéia e o marido estavam satisfeitos com o casal, mas foram surpreendidos por uma terceira gravidez de gêmeos. E então vieram Joana e Jordana, hoje com 28. Cinco anos depois, chegou Camila, atualmente com 23.
"Nós planejamos o casal. Na terceira e quarta gravidez pensei não era isso que queria agora, mas depois pensei que se Deus concede a graça, a gente consegue. E sempre conseguimos. Filhos agregam muito à vida do casal. Nós passamos a ter uma expectativa de vida maior. Filhos fazem com que você se lance em um projeto de vida melhor, maior, pelos filhos. E a gente cresce com a maternidade."