O país bateu recorde em número de doadores e transplantes realizados em 2010. Veja| Foto:
Em Curitiba, o Hospital do Trabalhador tem uma organização de procura de órgãos

O Brasil bateu o recorde em doação de órgãos e no número de transplantes em 2010. Dados do Ministério da Saúde, divulgados ontem, mostram que o número de doadores cresceu quase 14% em um ano. Em 2010, foram registrados 1.896 doadores contra 1.658 no ano anterior. Com esse desempenho o país atingiu a marca de 9,9 doadores por milhão de pessoas (pmp). Segundo a pasta, esse au­­mento se deve ao fortalecimento do Sistema Nacional de Transplantes (SNT) e ao aporte maior de recursos no setor.

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O índice nacional de doadores cresceu 13,8% em relação a 2009, quando o número era 8,7 pmp. Nos últimos sete anos, a média de crescimento anual tem sido de 7%. Os números, porém, ainda estampam as imensas disparidades regionais. Alguns estados, como Santa Catarina e São Paulo, mantêm índices próximos de países desenvolvidos, como Espanha e Canadá, que têm médias acima de 20 doadores pmp. O Paraná, porém, apresenta uma média inferior à nacional. De acordo com dados do Ministério da Saúde, em 2010 o estado fechou o ano com um índice de 9,4 doadores pmp. Santa Catarina e São Paulo mantêm um índice de 17 pmp e 21 pmp, respectivamente.

Os números do Ministério da Saúde também mostram um crescimento sustentado de transplantes realizados no país, considerando órgãos, tecidos e medula ao longo dos anos. O país saiu do patamar de 20.253 transplantes em 2009 para 21.040 no ano passado – um crescimento de 3%. O número de transplantes de órgãos sólidos (coração, fígado, pulmão, rim, pâncreas) foi responsável pelo crescimento de 7% entre um ano e outro. O número de transplantes de medula óssea também apresentou um salto de 10,7% no período. Em 2010, foram realizadas 1.695 cirurgias desse tipo, contra 1.531 em 2009.

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De acordo com o Ministério da Saúde, a ampliação do número de transplantes no Brasil se deve ao aperfeiçoamento dos processos de doação, como notificações por mortes encefálicas mais precoces, cuidado intensivo dos doadores, melhorias logísticas e o aumento do aporte financeiro no SNT. O investimento triplicou nos últimos oito anos, o que reforçou a po­­sição do país entre os maiores sistemas públicos de transplantes do mundo.

Já o incremento nos transplantes de medula, segundo a pasta, deve-se à expansão do Registro Brasileiro de Doadores Voluntários de Medula Óssea (Redome). Atual­­mente, o Brasil possui 2 milhões de doadores cadastrados, sendo o terceiro maior banco de dados do gênero no mundo, ficando atrás apenas dos Estados Unidos (5 milhões de doadores) e da Alema­­nha (3 milhões). Em 2003, o cadastro brasileiro tinha apenas 49,5 mil voluntários.

Disparidade

Em 2010, São Paulo foi responsável por 47% dos transplantes no país: 9,9 mil. O Paraná respondeu por 15%. Tocantins, Amapá e Ro­­raima não realizaram nenhuma cirurgia desse tipo no ano passado. Para tentar reduzir a diferença, o governo federal quer lançar um projeto de incentivo para estados onde o serviço é inexistente ou deficiente. "A ideia é investir em toda a rede. Mas daremos atenção especial a estados que têm mais deficiências", disse o secretário de Atenção à Saúde do Mi­­nistério da Saúde, Helvécio Miranda.

Para o secretário, é possível aumentar de forma expressiva o número de transplantes no país. "Todos os estados têm de ter central de regulação, captação de órgãos. Mas não é necessário que todos os estados tenham centros responsáveis pela cirurgia. Que­­remos montar polos transplantadores, que ficarão encarregados do atendimento de pacientes de determinada região".

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Paraná ainda está abaixo da média nacional

A média do Paraná no número de doadores por milhão de pessoas (pmp) está abaixo da nacional. En­­quanto no Brasil a média foi de 9,9 pmp em 2010, no estado foi de 9,4 doadores pmp. A boa notícia é que o número de transplantes totais no Paraná vem crescendo de forma sustentada. Por outro lado, quando se compara apenas os transplantes de órgãos e córneas, a queda é de 10,42% entre 2009 e 2010.

A coordenadora da Central Es­­tadual de Transplantes, Arlene Te­­rezinha Cagol Garcia Badoch, diz que a ideia é virar o jogo em 6 me­­ses. "Estamos reestruturando a central. Não teremos a reversão neste semestre, mas esperamos mudanças a partir de julho", afirma Arlene, que assumiu o cargo no início deste ano.

Segundo ela, a logística de transplantes funciona satisfatoriamente. O ponto fraco estaria em algumas comissões intra-hospitalares e na reestruturação das organizações de procura de órgãos e tecidos. "Algumas comissões existem só no papel. As equipes profissionais dos hospitais precisam se conscientizar e notificar os doadores." Há quatro organizações no estado, em Londrina, Maringá, Cascavel e Curitiba, no Hospital do Trabalhador. Arlene avalia que o ideal seriam seis. "Mas elas são de difícil criação. As quatro, bem estimuladas, podem ajudar a reverter as estatísticas."

Coração novoEm 2006, os médicos foram enfáticos: depois de três pontes de safena e oito infartos, Estrugildo Hanne­­mann, então com 56 anos, precisava de um coração novo. "Tem gente que fica cinco, oito anos, e morre sem transplante", comenta. Com ele, foi diferente. Um ano depois do ultimato, já batia em seu peito um coração de um jovem de 21 anos. "Depois disso não tive mais problemas. Nem gripe peguei", diz Hannemann. "Se o Paraná está atrás da média nacional é porque falta conscientização das pessoas para doar, porque a Central de Trans­­plantes tem um tratamento vip." (TC)

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