Enquanto o número nacional de transplantes de órgãos caiu 1,1% no ano passado, o Paraná teve um aumento de 15,6% em relação ao total de 2005. A queda brasileira quebrou uma seqüência de resultados positivos observada desde 2001. Já o Paraná foi o quarto estado que mais fez transplantes no ano passado, ficando atrás de São Paulo, Rio Grande do Sul e Minas Gerais.
O resultado estadual positivo é, segundo a Central Estadual de Transplantes (CET) do Paraná, reflexo de algumas medidas administrativas que fizeram com que houvesse mais notificações de mortes encefálicas (o que é obrigado por lei federal). Entre elas estão o acompanhamento quinzenal das internações em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs), a supervisão de comissões hospitalares responsáveis por falar com familiares de possíveis doadores e a intensificação de campanhas de esclarecimento.
Existem dois tipos de potenciais doadores. Pessoas que morrem por problema cardíaco em casa ou ambiente hospitalar podem doar tecidos, como córneas, válvulas cardíacas, pele e ossos. Órgãos como coração, pulmões, fígado e rins só podem vir de pacientes internados em UTIs e que tiveram morte cerebral. Por isso é importante a notificação. Enquanto busca-se alguém para receber o órgão, o corpo do doador é mantido em aparelhos para conservar os órgãos. O corpo não é mutilado pelos médicos. Próteses de plástico são colocadas no lugar dos órgãos e os cortes são cuidadosamente costurados.
Segundo o diretor da CET, Carlos DÁvila, as providências tomadas em 2006 fizeram com que o número de alertas de morte encefálica fosse de 295, em 2005, para 396, no ano passado. O número de transplantes em 2007 tem se mantido semelhante ao do ano anterior. "Não existe uma média constante do número de transplantes e captação de órgãos durante o ano. É muito relativo. A expectativa é que sempre continue uma mesma média", explica o diretor.
Um novo programa do governo estadual a ser iniciado ainda neste ano deve aumentar o número de notificações. Cinco aparelhos portáteis, de R$ 60 mil cada, que detectam morte encefálica, estarão à disposição de hospitais nas regiões de Curitiba, Maringá, Londrina e Cascavel. Com isso, DÁvila acredita que se acelere o processo de transplante. "Agilizando o diagnóstico, vai aumentar a resolutividade dessas doações e o número de notificações", diz.
Preocupação
Apesar do bom desempenho paranaense, há quem alerte para o cuidado de não se estacionar. "Aumentou porque estava em um patamar muito baixo. É positivo. Mas não é por isso que devemos parar. O esforço deve continuar", alerta o chefe da Cirurgia de Transplante Hepático do Hospital de Clínicas (HC), Júlio Coelho.
Uma das principais preocupações é a diferença entre a procura por transplantes e a oferta de órgãos. O crescimento do número de doações não acompanha o aumento das filas de espera. "Sempre vai haver uma demanda reprimida por órgãos", afirma DÁvila. No Paraná, 5.024 pessoas aguardam algum órgão em filas de espera.