Quando os brasileiros foram surpreendidos com a notícia da tragédia em Santa Maria (RS) há duas semanas, muitos tiveram vontade de ajudar a população da cidade gaúcha. No entanto, poucos realmente conseguiram. Doze servidores da prefeitura de Curitiba, integrantes da Força Nacional do Sistema Único de Saúde (SUS), levaram auxílio profissional e solidariedade às vítimas. O grupo passou cinco dias tentando aliviar a dor de algumas famílias.
O médico Marcio Luiz Nogarolli, a enfermeira Maria Aparecida Bueno e a fisioterapeuta Karin Juliana Cherobim Rugilo receberam a notícia da tragédia pela tevê, com a mesma reação. "Quando vi, liguei para minha chefia e me coloquei à disposição", comenta Nogarolli. Membro do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), ele já havia trabalhado no atendimento às vítimas da queda de um prédio em Guaratuba, em 1995.
Momentos marcantes
Na terça-feira pela manhã, dois dias após o incêndio na boate Kiss, o grupo chegou a Santa Maria para viver um dos momentos mais marcantes de suas vidas. Maria Bueno levou consigo a experiência de voluntária na Guerra Civil, em Angola, na década de 70. "Era um cenário atípico. Não estamos acostumados com tantos jovens em UTIs. Foi uma experiência que nenhuma universidade ensinaria", conta a enfermeira.
Além do atendimento às vítimas, ela correu os hospitais da região colhendo informações sobre feridos e necessidades para que o gabinete de gestão de crise pudesse tomar as providências necessárias para melhorar o trabalho. Para a fisioterapeuta Karin, foi a primeira vez em um local de tragédia. "Eu fui com muito medo, mas foi gratificante. Várias pessoas que atendemos estão evoluindo rápido", lembrou.
Os profissionais vindos de todas as partes eram recebidos com atenção e carinho. "Ofereciam a casa para dormir, almoço, não deixavam nem a gente pagar o táxi. Foi uma lição de vida, de profissionalismo, não existia a palavra cansaço ou reclamação", conta Maria Bueno. Segundo Nogarolli, as pessoas ainda estavam perplexas e não acreditavam que todo aquele sofrimento fosse real. "Estavam todos consternados. A tristeza atingiu a todos. Quando fomos ao shopping para almoçar, todas as vitrines estavam com laços de tecido preto colados nos vidros", relata.
Sala de crise está sendo montada em Curitiba
Curitiba começa a se preparar, nos próximos dias, para estruturar um gabinete de gestão de crises. Os primeiros integrantes da equipe serão os profissionais que já participam da Força Nacional do Sistema Único de Saúde. Caso aconteça uma eventualidade, haverá um grupo especializado em agir para solucionar problemas. A estruturação do gabinete está em planejamento. Em abril, 80 profissionais de saúde devem passar, em Brasília, por um curso para atuar em situações de crise. Em seguida, haverá um treinamento no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo.
De acordo com o Ministério da Saúde, a Força Nacional do SUS é uma estrutura humanitária, baseada na rede de atenção às urgências no país. Ela tem o objetivo de prestar assistência rápida, em todo território nacional, para reduzir danos. Em alguns casos, os profissionais chegam a ser enviados em missões especiais a outros países também. A Força Nacional do SUS é composta por servidores ou empregados públicos de hospitais sob gestão federal e hospitais universitários federais, além de outros servidores públicos ligados aos municípios ou estados. Eles se predispõem e são requisitados em situações de urgência. Cerca de 200 profissionais auxiliaram nos trabalhos emergenciais em Santa Maria. (DR)