Culto, original, atuante, alegre. É assim que fiéis, colegas e familiares descrevem o monsenhor Vicente Vítola, que morreu anteontem aos 90 anos, vítima de um câncer nas cordas vocais. O religioso completaria 91 anos de idade no próximo dia 9 de outubro. Internado no Hospital da Cruz Vermelha, morreu às 4 horas da madrugada de domingo e foi sepultado, às 11 horas, no Cemitério Parque Iguaçu. Apesar de ser o sacerdote mais idoso do Paraná e o terceiro mais idoso do Brasil, o padre, que atuava há 11 anos como vigário paroquial da Igreja Nossa Senhora das Dores também conhecida como a Igreja dos Passarinhos sempre esteve à frente do seu tempo.
Nascido em Curitiba, Vítola vinha de uma família tradicional e foi criado no bairro Batel, onde viveu por quase toda a sua vida. Ordenado padre em 1942, foi vigário paroquial da Catedral Metropolitana de Curitiba e atuou como administrador da mitra da Arquidiocese de Curitiba, fundador e presidente do Cabido Metropolitano e reitor da antiga Universidade Católica do Paraná. Também foi responsável por salvar a Rádio Clube Paranaense da falência, em 1973.
Independente
Embora estivesse lutando contra o câncer, há cerca de dois anos, o monsenhor continuava a cumprir a sua rotina. "Estava doente e, mesmo assim, continuava a rezar, todos os dias, a missa das 7h30. Desistiu há apenas dois meses", conta o cônego André Biernaski, seu substituto na Igreja dos Passarinhos. Apesar da idade avançada, Vítola continuava a dirigir o seu carro pela cidade. Quando jovem, circulava pelas ruas em duas rodas. "Eu era coroinha da Catedral de Curitiba quando ele me ensinou a andar de moto. Quase ninguém tinha moto na época", lembra o jornalista Vicente Mickosz.
O seu sonho, segundo o pároco da Igreja dos Passarinhos, padre Gabriel Figura, era viver até os 102 anos, um ano a mais que dom Jerônimo Mazzarotto, bispo auxiliar de Curitiba falecido em 1999. "Ele gostava muito de viver. Certa vez, ao ser perguntado por sua irmã onde gostaria de ser velado, ficou bravo, disse que na hora resolvia. No fim, eu é que tive de tomar a decisão", conta o padre, que escolheu a própria igreja para a cerimônia.
Vicente Vítola foi professor de História Universal e Corografia do arcebispo emérito de Londrina, dom Albano Cavallin, e do arcebispo emérito de Curitiba, dom Pedro Fedalto. "Ele era um mestre muito original e um sacerdote muito atuante. Aprendi muito com ele", lembra dom Pedro, que acompanhou o velório, o enterro e rezou a missa de corpo presente.
O religioso era um estudioso da parapsicologia e chamado por muitos de "vidente". "Ele era sensitivo, conseguia prever as coisas. Era um bom conselheiro", conta Sueli Roulik, maestrina do Coral Santa Cecília. Frequentador da Boca Maldita, gostava de conversar com os amigos e falar sobre a cidade, segundo o vereador Tito Zeglin. "O monsenhor Vítola tinha um grande zelo por Curitiba. Era um homem muito ouvido pelos governantes da cidade e deu importantes sugestões para melhorá-la. Era um grande articulador", lembra.