Dom Geraldo: fé enriquecida nas conversas com o papa| Foto: Roberto Custódio/Jornal de Londrina

Trajetória

De Juiz de Fora aos conclaves em Roma

Dom Geraldo Majella Agnelo nasceu em Juiz de Fora (MG), em 19 de outubro de 1933. Foi cônego catedrático da Arquidiocese de São Paulo entre 1964 e 1978. Depois, foi nomeado arcebispo de Toledo (1978-1982) e de Londrina (1983 a 1991). Daquele ano até 1999, assumiu o cargo de secretário da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, em Roma. Entre 2000 e 2013, assume como arcebispo de Salvador e Primaz do Brasil. Torna-se, então, arcebispo emérito (aposentado). Dom Geraldo foi ainda o criador da Pastoral da Criança, juntamente com Zilda Arns, e participou dos conclaves de 2005 e 2013, que elegeram os dois últimos papas.

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Quando o papa João Paulo II morreu, em abril de 2005, surgiram cartazes na Praça de São Pedro com a inscrição "santo subito" (em italiano, "santo já"). Daqui a um mês, um amigo brasileiro do papa polonês estará presente na cerimônia de canonização. O cardeal dom Geraldo Majella Agnelo, de 80 anos, trabalhou diretamente com Karol Wojtyla, na Santa Sé, de 1991 a 1999.

No Vaticano, em 27 de abril, várias imagens deverão passar pela memória de dom Geraldo. Durante os oito anos em que atuou como secretário da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, ele fazia reuniões frequentes com João Paulo II. "Nunca saí de um encontro com ele sem me enriquecer na fé", lembra o cardeal. Em uma audiência, discutia-se a permissão de mulheres para o serviço no altar. Alguns dos presentes criticaram a medida. Contrariado, o papa subitamente se levantou e disse em tom decidido: "As mulheres devem servir ao altar. Foram elas que salvaram a fé durante o comunismo." O papa polonês lembrou então do papel das mães e avós que celebravam as chamadas "missas secas", sem a presença de padres, nos países do bloco soviético. Era a igreja do silêncio, tantas vezes mencionada por João Paulo II.

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Saúde

No final dos anos 1990, a saúde do papa começou a declinar. Durante as audiências, ele falava muito pouco; às vezes se expressava apenas por gestos. "Eu fazia comentários, ele respondia com a cabeça", conta dom Geraldo. Nessas horas, o papa levava seu amigo brasileiro a pensar em São José, pai adotivo de Jesus e padroeiro universal da Igreja. "José impressiona porque faz tudo que é necessário sem dizer uma palavra nos Evangelhos. Não se ouve a voz dele. É o homem da obediência ao plano de Deus."

No domingo em que João Paulo II será canonizado, o amigo poderá pensar que as coisas mais importantes, às vezes, são ditas em silêncio.

Londrina: a cidade dos três arcebispos

Roma hoje a situação inusitada de ter dois pontífices: o papa Francisco e o papa emérito Bento XVI. Londrina, no Norte do Paraná, vive situação semelhante, pois a cidade tem hoje três arcebispos: Dom Orlando Brandes, Dom Albano Cavalin e Dom Geraldo Majella Agnelo. O primeiro é o efetivo; o segundo, emérito; e o terceiro escolheu Londrina para viver após aposentar-se como arcebispo de Salvador (antigo primaz do Brasil). De 1983 a 1991, Dom Geraldo esteve à frente da Arquidiocese de Londrina, cidade em que fez muitos amigos e ordenou muitos padres. O cardeal que conheceu pessoalmente três papas e participou de dois conclaves hoje celebra missas e realiza confissões nas paróquias da região. Além dessas atividades, Dom Geraldo pretende escrever suas memórias.

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Data especial

O dia 27 de abril não foi escolhido ao acaso para a canonização de João Paulo II. Trata-se do 2º Domingo de Páscoa, também chamado Domingo da Divina Misericórdia. O papa polonês morreu exatamente um dia antes dessa data, em 2005, após uma longa e sofrida guerra contra o mal de Parkinson. "Até o fim, o papa João Paulo II foi um exemplo de vida e de seguimento de Cristo", diz Dom Geraldo, que também reserva palavras de admiração para Bento XVI ("um intelectual refinado, uma inteligência fabulosa") e Francisco ("uma bênção para a Igreja"). Os cardeais Agnelo e Ratzinger cumprimentavam-se todas as manhãs no Vaticano. Já o papa argentino é tratado amistosamente por Dom Geraldo como "Bergoglio".