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RESERVA NATURAL

O aquífero e as águas doces de SC

Ernani Rosa participou da nomeação do Aquífero Guarani | Jonathan Campos/Gazeta do Povo
Ernani Rosa participou da nomeação do Aquífero Guarani (Foto: Jonathan Campos/Gazeta do Povo)

O maior reservatório hídrico subterrâneo da América do Sul não é um mar de água doce. Muito pelo contrário. A maior parte das reservas do Aquífero Guarani, que se encontra sob boa parte dos territórios do Sudeste e do Sul do Brasil, além de outros países, é formada por água salobra. A exceção fica para o estado de Santa Catarina, onde 90% do aquífero é formado por água doce, com potencial para uso no abastecimento público, na indústria e na agricultura, conforme revela uma pesquisa recente do Serviço Geológico do Brasil (CPRM).

Até um tempo, acreditava-se que o Guarani teria capacidade de abastecer 200 milhões de brasileiros por 2,5 mil anos, o que estudos revelaram se tratar de um mito. O geólogo José Flores Machado, da divisão de Porto Alegre do CPRM, que esteve à frente do levantamento em Santa Catarina, conta que foram analisadas amostras de 7,2 mil poços durante quatro anos. "Aproximadamente 5 mil poços estão no oeste do estado, nas cercanias de Piratuba. Cada propriedade chega a ter um poço próprio, já que a água da maioria dos rios está poluída pela suinocultura e pela avicultura", explica.

O hidrogeólogo da Universidade de São Paulo (USP) Uriel Duarte defende que as águas subterrâneas sejam utilizadas como recurso estratégico apenas para soluções locais. "Esses reservatórios do Guarani devem ser cuidadosamente explorados e utilizados apenas quando necessário, já que a reposição de água do aquífero pelas chuvas demora anos", alerta. O especialista explica que a água se infiltra nas rochas com uma velocidade média de um a dois metros por ano.

"O verdadeiro Aquífero Guarani é, em sua maior parte, composto por água não potável, sem serventia para o abastecimento público, a indústria ou a agricultura", garante o hidrogeólogo Ernani Francisco da Rosa Filho, da Universidade Federal do Paraná, com experiência de quem se debruça sobre o tema há 35 anos. Em resumo, o aquífero não é contínuo, mas constituído de diversos reservatórios menores sem ligação entre si, e grande parte da água tem muitos sais, sulfatos e flúor, o que impossibilita o consumo.

Em terras gaúchas, metade das águas do aquífero é salobra. E o Paraná detém a maior taxa de água não potável do Sul – quase 70%. "A Organização Mundial da Saúde recomenda que a concentração de flúor não passe de 1,5 miligramas por litro e que o índice de sulfatos na água não ultrapasse mil miligramas por litro. No Paraná, para nossa surpresa, os níveis dessas substâncias são até oito vezes superiores", calcula Ernani.

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