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"Hoje é quarta-feira. São três da tarde. O que você imagina que a molecada de Colombo está fazendo agora?", pergunta a cientista social Ana Luísa Fayet Sallas, da UFPR. "Na periferia não tem lazer, mas também não tem trabalho. A diversão é uma das muitas necessidades dos jovens que a sociedade esqueceu." A pesquisadora sabe o que diz. No final dos anos 90, numa parceria da UFPR com a Unesco, ela coordenou o projeto "Os jovens de Curitiba: esperanças e desencantos – 1998/2000". Foram 900 entrevistas e um retrato sem retoques. Àquela altura, a falta de espaços para lazer já era uma preocupação. "Havia uma tensão entre a imagem da capital como cidade com muita área verde e a da capital com falta de lugares para se divertir", lembra.

Para Ana Luísa, há muito estímulo para freqüentar shoppings em contraste com a ausência de espaços lúdicos para a juventude. Além do mais, há intolerância – os jovens se organizam e a própria vizinhança diz "não". "É exclusão. O lazer é visto muitas vezes como algo ameaçador", analisa. A psicóloga Cleusa Canan, presidente da Associação Paranaense da Psicologia da Dependência Química, lamenta que, para muitos, juventude tenha se tornado sinônimo de encrenca. "Estamos sendo movidos pelo espetáculo, pelo desejo de consumo e isso distorceu nossa idéia do que é divertir-se. Pais, vizinhos e igrejas podem promover o lazer. É a única saída", provoca.

O delegado Clóvis Galvão, coordenador do Ação Integrada, programa de segurança do governo do estado que promove blitze em casas noturnas, comumente encontra jovens e adolescentes sem eira nem beira. Na periferia o bailão é o limite. Impossível saber quantos são – a ação chega a visitar seis estabelecimentos por semana. Nos barracões, a média de 600 freqüentadores por noitada de sábado e domingo. "Tem gente que abre um barzinho e coloca som para atrair a gurizada, sem estrutura nenhuma para isso. Os jovens que nasceram com menos sorte não têm opção. O problema é a bebida, a droga a violência. Isso a gente tem de resolver." Ninguém duvida.

Um item do plano de governo do prefeito Beto Richa saiu da gaveta há pouco mais de quatro meses – a Coordenação da Juventude. A tarefa coube a Rodrigo Fornos, 35 anos, egresso de função semelhante na administração FHC. Sua proposta é funcionar como uma espécie de ouvidoria permanente para quem tem entre 15 e 29 anos, o que em Curitiba equivale a uma população de nada menos do que 500 mil pessoas, um terço da população. De acordo com o Censo 2000 do IBGE, 75 mil crianças e adolescentes curitibanos estão na linha da pobreza. Somada a região metropolitana, são cerca de 200 mil deserdados na flor da idade.

O assessor tem na ponta da língua um banco de dados de dar nó no estômago. No país com 48 milhões de habitantes entre 15 e 29 anos – 28% da população, segundo o IBGE – 40% dos jovens vêm de famílias que vivem sem rendimentos ou com meio salário mínimo. De cada dois desempregados, um é jovem. Esses moços, pobres moços, representam também dois terços da população carcerária e apenas três a cada dez brasileiros têm acesso ao ensino médio. E por tabela, poucas chances de lazer.

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