Encontre matérias e conteúdos da Gazeta do Povo
Entrevista

“O Brasil é visto como um país viável”

São Paulo (AE) – Candidato a candidato a presidente da República pelo PSDB, onde enfrenta disputa duríssima nos bastidores com o prefeito José Serra, o governador Geraldo Alckmin é um verdadeiro "picolé de chuchu" numa área que o rival domina com experiência e conhecimento de causa – a economia brasileira. Em busca de inspiração e propostas, há quatro meses o governador mantém conversas freqüentes com o empresário e economista Luiz Carlos Mendonça de Barros, em que se discutem perspectivas econômicas para o Brasil a partir de janeiro de 2007, quando se inicia o mandato do candidato que for vitorioso nas urnas deste ano.

Pelo temperamento e espírito de luta, Mendonça de Barros é chamado de Mendonção. Foi diretor do Banco Central no governo de José Sarney, presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e ministro das Comunicações no governo de Fernando Henrique Cardoso. Deixou o posto enrolado nos grampos da privatização das estatais de telefonia, no escândalo que ganhou o nome de privataria, mas jamais surgiu uma prova contra ele.

Interlocutor freqüente da oposição e de emissários autorizados do governo, Mendonção defende uma idéia clara e poderosa: após quase uma década de estagnação e mediocridade, estão criadas condições para o Brasil ingressar numa fase de prosperidade, que pode transformá-lo numa grande economia em 20 anos. "O país hoje pode ser comparado a um cidadão que fez um transplante e ganhou um coração novo depois de passar anos com um coração velho e doente", diz.

– O senhor se definia como um pessimista histórico. Agora, se diz um otimista militante. O que mudou?Mendonça de Barros – Assumo uma visão nova da economia brasileira, construída a partir de muita observação e conversa no mundo real do mercado. Há dois anos, reencontrei um economista americano chamado Thomas Trebat. Temos contatos freqüentes desde a crise da dívida externa de 1982, no governo Figueiredo. Trebat me disse que tinha duas notícias sobre o Brasil. Uma boa, outra ruim. A boa era que o Brasil é visto, lá fora, de forma totalmente diferente daquela a que nossa geração está habituada. É encarado como um país viável, responsável, com uma gestão de política econômica correta.

– E a má notícia?– A má notícia é que por causa disso a economia brasileira entrou no ciclo da global. Isso quer dizer que quando a economia global estiver bem a brasileira estará bem. Quando estiver mal, vamos sofrer. Mas hoje vivemos fase especialmente favorável. A última prova foi na visita do diretor-gerente do FMI, que disse que o país precisa crescer mais. É até um vexame para o governo do PT. Mostra como estamos longe de compreender a realidade. Há o relatório do Goldman Sachs que define os países do futuro, os Brics, onde o B é o Brasil, o R é a Rússia, o I é a Índia, o C é a China. No site do Conselho de Segurança Nacional do governo americano, acima da CIA e responsável por cenários de 20 anos, o Brasil é visto como grande economia. Os investidores estrangeiros apostam mais em nosso futuro – e ganham dinheiro com isso – do que muitos investidores nacionais. Estamos condicionados pelo passado e seus fantasmas. Sempre achamos que o risco Brasil voltará a subir. Falamos da inflação como se estivesse à nossa porta. Os analistas estrangeiros olham os números e fazem o diagnóstico. Têm mais frieza para fazer análises, até porque a rotatividade entre eles é muito maior.

– O sr. também tem estudos sobre o impacto dessas mudanças.– Um auxiliar meu, Paulo Pereira Miguel, fez uma simulação. Mesmo se a economia seguir como está, crescendo a taxas medíocres, teremos uma situação de dívida externa zerada em 2010 e US$ 150 bilhões em caixa. É uma mudança histórica. O Brasil tem dívida externa desde 1822, quando pediu empréstimo para a Inglaterra para pagar a independência. Em 2010, último ano do próximo presidente, ela terá acabado.

– O que aconteceu?– Se você comparar a economia de um país de Terceiro Mundo a um organismo, seu coração é a balança de pagamentos, as contas externas, que trazem as grandes crises e podem trazer os grandes benefícios. Mas agora vivemos situação muito diferente, após uma mudança brutal. É como se o paciente tivesse sofrido um transplante, recebido um coração novo.

– Quais mudanças foram essas?– Nos anos 80 e 90, quando eu estava no governo, o país tinha déficit em conta corrente de US$ 30 bilhões a US$ 35 bilhões por ano. Hoje temos superávit de US$ 15 bilhões. Mudamos da água para o vinho.

– Isso não é conjuntural ?– É estrutural. Nosso ajuste é duradouro porque veio pelo lado real da economia. Ele está ligado a uma capacidade extraordinária do setor privado brasileiro – e também de algumas estatais, como a Petrobrás. E é alimentado pelo mundo novo que existe lá fora, produzido pelo advento da China, num crescimento que já arrasta o Japão e mesmo a Europa.

Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Principais Manchetes

Receba nossas notícias NO CELULAR

WhatsappTelegram

WHATSAPP: As regras de privacidade dos grupos são definidas pelo WhatsApp. Ao entrar, seu número pode ser visto por outros integrantes do grupo.