O ritmo de crescimento da população diminuiu, as famílias estão menores e o país caminha rapidamente para o envelhecimento. É o que revelam os dados consolidados do Censo 2010 divulgados ontem. O retrato divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) confirma tendência observada na última década e aponta desafios para o futuro, como a gestão da previdência social e o atendimento médico para a terceira idade. O Brasil tem 190,7 milhões de habitantes.
Em dez anos, o número de moradores por domicílio caiu 13,2%, passando de 3,8 para 3,3, o que confirma a diminuição do tamanho das famílias. As cidades de médio e grande porte continuam atraindo migrantes e foram as que mais cresceram no período. Apesar disso, entre 2000 e 2010 o Brasil registrou o menor crescimento populacional em uma década na história, com taxa de 1,17 contra quase 2,5 na década de 70. As Regiões Norte e Centro-oeste concentram o aumento. Desde o primeiro Censo, em 1872, a população brasileira expandiu quase vinte vezes.
Professora de Geografia da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, Desiree Guichard Freire afirma que as conclusões do Censo 2010 já eram esperadas. Ela explica que na última década a melhoria da renda proporcionou melhores condições de vida para os brasileiros e maior planejamento familiar. "O padrão urbano de classe média está se expandindo para todo o país", diz.
O Brasil caminha para uma inversão da pirâmide etária. Hoje há mais pessoas acima de 65 anos do que crianças abaixo de 4 anos. Entre a população de adolescentes também houve queda. A maioria da população está na faixa dos 20 aos 50 anos. As Regiões Sul e Sudeste têm mais idosos e há no país 23,7 mil pessoas com mais de 100 anos. Desiree lembra que o envelhecimento da população ocorre em função da melhoria da expectativa de vida. Com mais acesso à saúde, saneamento básico e água tratada, o brasileiro está vivendo mais.
O presidente do IBGE , Eduardo Nunes, diz que o Brasil deverá chegar ao máximo de seu número de habitantes entre 2040 e 2060. A partir daí, passará a ter uma queda em termos absolutos, se mantido o padrão demográfico atual. Segundo ele, o pico populacional chegará a 250 milhões de pessoas, cerca de 60 milhões a mais do que o apurado no censo de 2010.
Professor de Economia da Universidade de Brasília, Carlos Alberto Ramos afirma que o país está vivendo um "bônus" demográfico e precisa aproveitar o momento para crescer economicamente e evitar problemas no futuro. Ele argumenta que, quando o Brasil tiver maior número de idosos, serão necessários mais investimentos em saúde, já que hoje o financiamento e a cobertura ainda são problemáticos. "Haverá impactos sociais e econômicos", opina.
Urbanização
Na última década, a população rural perdeu cerca de 2 milhões de pessoas. Já a urbana teve acréscimo de 23 milhões. O fenômeno do êxodo rural teve início no Brasil na década de 50, mas, a partir da década de 70, a migração interna foi mais efetiva. Eles vieram em busca de novas oportunidades de trabalho e qualidade de vida. Hoje há 160,9 milhões de pessoas nas cidades e 29,8 milhões no campo.
Em 60% dos municípios com menos de 2 mil habitantes, a população diminuiu na última década. Em cidades de até 5 mil pessoas, foi constatado um crescimento médio negativo.
Para a professora de Serviço Social da Pontifícia Universidade Católica do Paraná Jucimeri Isolda Silveira, a migração populacional para as cidades de médio e grande porte continua ocorrendo em função do modelo de desenvolvimento econômico do país, que privilegia os grandes centros. "A ausência de políticas para manter as pessoas no local de origem ainda causa o crescimento desordenado das cidades grandes", analisa.
Outra tendência apontada pelo Censo é o crescimento das populações das regiões Norte e Centro-Oeste, que aumentaram bem acima da média nacional na última década. A marcha para os estados menos urbanizados do país, além de acentuar a reversão de uma tendência histórica, de deslocamentos populacionais massivos em direção ao litoral, assinala o aumento da pressão ambiental sobre biomas importantes ameaçados de devastação, como a Amazônia e o Cerrado.
Colaborou Alexandre Costa, da sucursal Ponta Grossa, especial para a Gazeta do Povo
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