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ilitantes de esquerda exigem que os de direita batam panela a cada manobra do Congresso Nacional em minar a Operação Lava Jato e a cada nova decisão do presidente Michel Temer em conceder aumentos irreais a funcionários de alto escalão num momento em que o país está quebrado.
Em partes eles têm razão. Não é admissível aceitar o esvaziamento da maior investigação de corrupção que o país tem notícia. Tampouco dá para brincar com a crise econômica – ela não irá embora num passe de mágica. Porém, a questão que não respondem é porque eles mesmos não se rebelaram contra o estelionato eleitoral e os aumentos desbragados de despesas no governo Dilma. Por que, agora, exigem dos adversários uma conduta ética que não tiveram?
A contradição da esquerda não retira os deméritos dos militantes de direita. Até pouco tempo vociferavam nas ruas e em batucadas de panelas. Agora silenciam contra os mesmos descalabros que combatiam. Aceitam que o Legislativo federal prossiga nessa agenda vergonhosa de salvar seus membros da Lava jato, mudando leis e afrouxando as regras punitivas e investigatórias. Passivamente, permanecem inertes enquanto Romero Jucá, aquele do “acordão nacional”, é alçado à liderança do governo Temer no Congresso. Só a hipocrisia, a moral flexível do “vale tudo para que meu time esteja no poder”, explica o idêntico comportamento desses dois grupos. Faltam-lhes vergonha na cara.
O repúdio ao patrimonialismo, à corrupção e à cara de pau do Congresso Nacional em tentar aprovar leis que conduzam à impunidade jamais poderia ser seletivo. Não contribui com a democracia essa visão malandra, que entende válido tolerar o uso de meios ilegais, ou que atentam contra o regime democrático, desde que um objetivo seja pretensamente nobre.
Está claro que dos militantes – à esquerda, à direita – não surgirá uma mudança significativa na política brasileira. A preocupação de transformar as coisas vem sempre dos inconformados com propósito mais amplo, que avaliam a realidade sempre com os mesmos princípios e valores.
Todas as grandes mudanças políticas, culturais ou tecnológicas derivam de pessoas ou grupos que não estão satisfeitos com os modelos atuais e que usam essa força do desconforto para realizar mudanças. Sem o inconformismo, não se teria a Declaração Universal dos Direitos Humanos ou projetos ambiciosos como o de colonizar Marte, que vem sendo posto em prática pelo empreendedor serial Elon Musk.
Vale dizer que na maioria das vezes militantes partidários começam sua história na política por não se conformarem com a situação vigente, ou por acreditarem em um projeto de governo defendido por um partido. Até aí, não destoam muito dos inconformados cívicos, que se pautam por valores independentemente de matizes partidárias. Mas quando deixam de lado os valores-base da República, flexibilizando seu julgamento em benefício de uma legenda, começam a se afastar de uma ética pública, que deveria ser válida para todos os casos.
É aí que entra a necessidade de ampliar a base de inconformados cívicos no Brasil. Eles precisam deixar de fazer parte do nicho das pessoas esclarecidas que trabalham pela mudança do ambiente político, para disseminar suas práticas e se tornarem a força dominante da transformação da sociedade. O país necessita de menos militantes de moral flexível e de mais cidadãos inconformados não permitindo os descalabros no Congresso Nacional.
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