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O carnaval de Antonina tem o seu próprio “Atletiba”

Dona Quita, 83 anos, ajudou a fundar a escola Filhos da Capela. Mas, sob protesto dos familiares, não se importaria em desfilar pela rival Batel. | Marcelo Andrade/Gazeta do Povo
Dona Quita, 83 anos, ajudou a fundar a escola Filhos da Capela. Mas, sob protesto dos familiares, não se importaria em desfilar pela rival Batel. (Foto: Marcelo Andrade/Gazeta do Povo)

O carnaval de Antonina esconde uma velha rivalidade. Nas semanas que antecedem a folia, a cidade se transforma e deixa para trás toda a calmaria que lhe é característica para abraçar o clima tenso dessa rixa. Ao longo dos últimos 70 anos, as escolas de samba Filhos da Capela e Batel disputam o título de melhor desfile da cidade e, de quebra, alimentam uma tradição que dá o tom para um dos carnavais mais tradicionais do Paraná.

E o próprio município se veste com as cores dessa briga. As casas expõem as bandeiras com as cores de suas agremiações do coração em muros e janelas, deixando claro de quem é o samba-enredo que toca ali. Capelenses não usam o vermelho e verde da Batel e os batelenses evitam o azul e branco. Em alguns casos mais extremos, amigos deixam de se falar ou vivem apenas de provocações. De uma forma bem particular, o litoral encontrou o seu próprio “Atletiba”.

Filho e neto de capelenses, o diretor de bateria da Filhos da Capela, Márcio Machado, conta que essa rivalidade é algo que ultrapassa gerações e que, de certo modo, faz parte do charme do carnaval da cidade. “Ela tem que existir. É saudável, por que estimula a gente a fazer sempre o melhor”. Ainda assim, ele revela que a divisão acontece até mesmo dentro da família e que todos se organizam para que não haja brigas no carnaval. Nessa época, o almoço de domingo é feito em casas diferentes para evitar confrontos à mesa.

“Atualmente, a rivalidade é mais amena. A gente só se provoca”, destaca Machado. Porém, ele lembra que nem sempre foi assim e que, em outros carnavais, as coisas tinham um final bem diferente. “Antes, a apuração sempre acabava em briga. Um achava que o outro estava roubando e acabava no pau”.

Brigas e provocações

Parece exagero, mas esse tipo de disputa faz parte da história do carnaval da cidade. A presidente da Batel, Luciana da Costa, conta que era comum que uma escola escondesse as fantasias da outra ou que atrapalhasse um carro alegórico. Porém, às vezes, as coisas fugiam de controle.

“Uma vez, meu pai ficou tão revoltado por ter perdido que, no ano seguinte, se juntou com alguns amigos e foi armado até a praça acompanhar as notas. Se fosse roubado de novo, ia brigar com todo mundo”, recorda. Por sorte, a escola ganhou naquele ano.

A rivalidade entre Filhos da Capela e Batel ficou tão acirrada que, em 1999, Antonina deixou de realizar a disputa entre as agremiações para evitar novas confusões. Porém, mesmo assim, a rixa continua. “Ainda temos competição. O título é apenas figurativo”, brinca Machado. “A gente tenta ser melhor em tudo”.

Para Luciana, “a rivalidade está adormecida, mas ainda está lá”. Nessa Guerra Fria caiçara, basta uma única fagulha para que o incêndio retorne. E pode ser que isso ocorra já em 2018. Segundo a presidente, há um movimento para trazer de volta a competição à cidade – algo que ela não vê com bons olhos. “Do jeito que as coisas estão atualmente, eu sinceramente tenho medo. A disputa faz o carnaval crescer, mas ainda tenho um pouco de receio disso”.

Dona Quita

Apesar dessa rivalidade de velhos carnavais, há quem prefira a festa às antigas disputas. É o caso de Iolanda Silva Pinto. Aos 83 anos, Dona Quita, como é conhecida na cidade, se prepara para sair mais uma vez na Filhos da Capela, escola que ajudou a fundar em 1948 junto do marido – na época, apenas namorado. Só que, apesar de ser parte da história da agremiação, ela não descarta participar de outros desfiles, inclusive da rival.

“Não participei porque nunca me chamaram”, protesta Dona Quita. “Mas eu sairia na Batel, sim”, decreta a simpática senhora sob os protestos de filhas e netas. E, enquanto isso não acontece, participa não só dos desfiles das escolas de samba como também dos blocos folclóricos do município. “Na verdade, eu sou apaixonada é pelo carnaval”, confessa.

Como explica a presidente Luciana da Costa, o fim da competição diminuiu a rixa entre as escolas e permitiu que mais gente acompanhasse Dona Quita em outras escolas. E, ainda que alguns agremiados mais conservadores torçam o nariz para essa colaboração, ela garante que a união só faz bem para a festa da cidade. “Quem é Batel, não desfila na Capela. E vice-versa. Mas quem ama o carnaval, desfila em todas”, conclui.

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