Encontre matérias e conteúdos da Gazeta do Povo
Comportamento

O cérebro adolescente em construção

 | /
(Foto: /)

Pais e mães que o digam: a convivência com filhos adolescentes exige não apenas paciência para com os arroubos emocionais e ímpetos de rebeldia, mas também compreensão sobre o que esse período representa. São comuns os relatos de episódios que, aos olhos dos jovens, parecem grandes aventuras mas, aos dos adultos, apenas uma sucessão de comportamentos arriscados e sem sentido. E nesse balaio tem de tudo: desde manobras excessivas sobre um skate até proibitivas experiências com álcool. Os pais ficam de cabelos em pé, mas a ciência diz que esse comportamento é inevitável.

A neurocientista americana Frances Jensen , em seu livro intitulado The Teenage Brain: a neuroscientist’s survival guide to raising adolescents and young adults, tenta ajudar pais à beira de um ataque de nervos a entender o funcionamento do cérebro jovem. Jensen explica que na adolescência os lóbulos frontais, responsáveis pela função cognitiva do cérebro – o que engloba planejamento, autoconsciência e julgamento – ainda não estão completamente desenvolvidos. Até que isso ocorra, comportamento inconsequente e impulsivo é o que se pode esperar dos adolescentes.

Idealmente, os lóbulos frontais agem controlando os impulsos gerados por outras partes do cérebro – por isso adultos ponderam melhor riscos e recompensas, são mais racionais e civilizados. É como se, durante o período de maturação cerebral, que perdura até os 25 anos, dois sistemas cerebrais diferentes, ambos em desenvolvimento, competissem entre si: o socioemocional e o cognitivo.

“O sistema socioemocional torna-se mais assertivo durante a puberdade, já o de controle cognitivo, que regula emoções e a tomada de decisões amadurece mais lentamente”, explica a especialista em desenvolvimento familiar Lidia Weber, da Universidade Federal do Paraná.

Tudo parece melhor

Laurence Steinberg, professor de psicologia na Universidade de Temple (EUA) e autor do livro Age of Opportunity: lessons from the New Science of Adolescence, traz mais um elemento à equação cerebral adolescente. Ele atribui o comportamento a um “núcleo de prazer” ampliado. Segundo ele, enquanto o cérebro do adulto mantém o centro responsável por essa sensação sob controle, o do adolescente é projetado para “farejar” sensações e experiências de prazer.

Como se lóbulos frontais em desenvolvimento e centros de prazer hipersensíveis não fossem o suficiente, o processo todo ocorre juntamente com outra mudança: na puberdade, o cérebro desenvolve mais receptores de dopamina, neurotransmissor que age no sistema nervoso e está ligado à sensação de prazer.

“Nada será tão bom quanto foi quando se era adolescente – seja estar com seus amigos, fazer sexo ou tomar um sorvete”, diz Steinberg. E isso, segundo ele, explica por que adolescentes fazem coisas estúpidas – não é porque eles são piores do que os adultos na hora de avaliar o risco, mas porque as recompensas parecem, do ponto de vista neurológico, muito melhores.

Nem todos os tropeços dessa fase, porém, podem ser colocados na conta do cérebro em desenvolvimento. “Os riscos aumentam também por causa do sistema moral de socialização e a ausência de monitoramento parental também influencia”, complementa Lidia.

Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Principais Manchetes

Receba nossas notícias NO CELULAR

WhatsappTelegram

WHATSAPP: As regras de privacidade dos grupos são definidas pelo WhatsApp. Ao entrar, seu número pode ser visto por outros integrantes do grupo.