O padre paranaense Reginaldo Manzotti, 37 anos, não é nenhum maratonista. Mas bem que poderia ele está habituado a bater recordes. Hoje, inclusive, vai viver um daqueles dias olímpicos que fazem a glória dos atletas, do qual deve sair carregado de medalhas. A partir das 17 horas, o religioso celebra, no Marumby Expo Center, uma missa para cerca de 35 mil fiéis, superando marcas anteriores e confirmando-se no pódio de maior fenômeno pop do clero brasileiro depois do padre Marcelo Rossi com quem, aliás, tem pouca coisa em comum.
Tirando medir 1,90 m de altura, esbanjar carisma e arrastar fiéis com a facilidade de um líder de torcida, Manzotti segue suas próprias regras, o que torna a popularidade deste filho da pequena Paraíso do Norte, no Norte do Paraná, um tentador estudo de caso. Ele não pertence à Renovação Carismática, da qual Rossi se tornou o maior expoente. Nem à Teologia da Libertação à revelia de seu passado como frade carmelita, ordem religiosa conhecida pela coragem com que abraça causas sociais. Dizer que pede bênção a ambas as facções seria leviano, como se pode confirmar em qualquer missa de meio-dia dessas que celebra de segunda a sexta-feira, na Paróquia Nossa Senhora de Guadalupe, para nunca menos do que mil fiéis. Ali, ele exerce seu papel de comunicador, conselheiro e animador de almas desajustadas. Tudo no maior profissionalismo.
Empreendedor da fé
Por essas e outras, mais ajustado do que enquadrar Manzotti na direita ou na esquerda é chamá-lo de um empreendedor da fé uma categoria pastoral que pode não ter inaugurado, mas com certeza aprimorou. A organização no templo é tamanha que só falta ele atrair para suas concorridas liturgias nomes de proa do mundo corporativo. Ele sabe fazer a coisa certa. Gerentes e afins teriam muito a aprender. Uma dessas proezas foi dizer adeus à Igreja da mendicância. Em vez de contar com a caridade de meia-dúzia de bondosos paroquianos dispostos a ajudá-lo na missa, na coleta do dízimo, a tocar o sino e a apagar as luzes ao final da celebração ele contratou, com carteira assinada, oito funcionários.
Entre as muitas funções do grupo que bate cartão está a de fazer as escalas do pequeno exército de 600 voluntários que participa do projeto Evangelizar é Preciso, uma espécie de guarda-chuva que abriga todas as ações do sacerdote e sua equipe. O resultado salta aos olhos. Os agregados ao Evangelizar vêm de lugares como Pinhais e São José dos Pinhais e dos bairros Jardim das Américas, Capão da Imbuia, Guabirotuba, CIC e Rebouças. Graças a eles, ninguém chega a uma missa do Guadalupe sem que haja no mínimo 35 e no máximo 45 voluntários divididos entre recepção na entrada, coral, banda e, principalmente, atendimento aos fiéis.
Impossível passar pelo portal do templo sem ser saudado, informado ou mesmo como nos últimos dias convidado a participar de um abaixo-assinado contra a lei do aborto (documento que, aliás, estará a postos para receber assinaturas no Marumby Expo Center hoje).
Carisma
Não fosse por esse trabalho, digamos, de porta de igreja, a obra do padre talvez não tivesse quebrado tantos recordes.
O vozeirão de encher catedrais, o jeitão camarada, a pinta de galã e uma energia de Hércules não seriam o suficiente para dar conta de um movimento de gente que supera, em proporção, o de shoppings e terminais de ônibus. Inclusive o do próprio Guadalupe, onde a paróquia de Manzotti está plantada e por onde passam 76,5 mil passageiros por dia. Por baixo, semanalmente 15 mil fiéis circulam pela Nossa Senhora de Guadalupe, 60 mil por mês o equivalente a duas Arenas do Atlético lotadinhas. E atente fazendo coro, abanando as mãos e alistando-se numa das funções religiosas.
"Eu me impressiono. Nosso grupo não pára de crescer", diz Geison Sokacheski, 28 anos. Ele se alistou como voluntário no Evangelizar é Preciso depois de ouvir um programa de rádio do padre. Hoje é um dos comandantes do barco.
"Este é um lugar de pessoas pobres, em sua maioria. É gente que já passou por um sem-número de igrejas, que já tentou de tudo. Aqui dão a última cartada. Isto aqui é a UTI da fé. É terra de ninguém. Tenho de falar com eles de modo que me entendam. Usar as armas que eles me dão", explica o padre sobre sua freguesia muito particular, à qual atende com a palavra de pastor, mas principalmente com as mãos.
Há abraços de sobra nos bastidores do Guadalupe, pondo à mostra aquele que seja, talvez, parte do segredo de Manzotti. Ele toca física e moralmente as pessoas que se aproximam dele. "A maneira como trata os fiéis foi o que mais me chamou atenção. Ele fala com a gente. Não esquece que as pessoas que vêm aqui são ovelhas feridas", elogia Zélia Moreira, 42 anos, coordenadora do Evangelizar é Preciso.
Os números do padre comunicador também são de espantar. Um total de 138 rádios, incluindo uma em Portugal, retransmitem o programa do padre na Rádio Clube (AM 1430), de segunda a sexta-feira, das 10 às 11 horas. O especial radiofônico contabiliza 755 mil ouvintes diários. Cinco emissoras retransmitem a missa gravada pela TV Educativa. Sem falar no site, acessado por 1,6 mil pessoas por dia.
Para quem é leigo no assunto, contudo, melhor pensar o padre Manzotti não só como um fenômeno religioso, mas como um fenômeno urbano. Como poucos, ele parece ter entendido a dinâmica que rege a região metropolitana e seus 3 milhões de habitantes. Não à toa atua no lugar onde Curitiba e as cidades vizinhas mais se encontram o castigado Terminal Guadalupe.
Serviço: Missa das Famílias, celebrada pelo arcebispo de Curitiba, dom Moacyr Vitti e o padre Reginaldo Manzotti.
Hoje, a partir das 17 horas, no Marumby Expo Center (Av. Wenceslau Braz, 1.046).
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