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Dengue

O cotidiano de Primeiro de Maio pós-epidemia

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O número de cidades em situação de epidemia de dengue no Paraná subiu ontem para 69, de acordo com o último boletim da doença divulgado pela Secretaria de Estado da Saúde (Sesa). Entre elas, a pacata Primeiro de Maio – município do Norte do estado, com 10,8 mil habitantes, a 70 quilômetros de Londrina. A cidade enfrenta a segunda epidemia de dengue em três anos. No entanto, o pior já passou. "Estamos na fase final. Na sexta-feira, notificamos dois casos. Durante a epidemia, eram 300 notificações por semana", contabiliza Fabiane Favarão Federice, enfermeira do único posto da cidade, que chegou a ficar aberto 24 horas durante o auge do surto. Até ontem, 232 casos de dengue haviam sido confirmados e nenhuma morte. De acordo com a Sesa, o número de óbitos causados pela doença no estado chegou ontem a 11. A última vítima foi uma mulher na cidade de Jussara, no Noroeste.

Andando pelas ruas de Primeiro de Maio, não é raro encontrar uma vítima da dengue. Veja o depoimentos de alguns moradores:

E o vizinho?

Na casa da aposentada Cleusa Aparecida Carreira, 62 anos, ela e o marido, de 66, tiveram dengue e procuraram ajuda no posto de saúde da cidade. "Tá feia a coisa, filha. Ele ainda não está bem. Lá em casa é tudo limpinho, as flores não têm prato, mas você cuida e o vizinho não", reclama.

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Automedicação

Com febre e dores de cabeça que a deixaram de cama por três dias, a dona de casa Edneia Peloja, 37 anos, conta que tratou os sintomas em casa mesmo, à base de paracetamol e muita água. "Nem sei se era dengue, não fui atrás, porque não tem remédio mesmo e é até pior entrar no posto." A irmã dela, a esteticista Geiziane Peloja, 27 anos, concorda que muitas pessoas tiveram os sintomas, mas não foram atrás de diagnóstico. "A gente sabe de várias pessoas, mas nem temos certeza se foi dengue." Entre os cuidados tomados pela prefeitura estão os mutirões de limpeza em quintais, com aplicação de veneno, e as multas a quem não colocar o lixo no dia certo ou impedir a entrada de agentes de endemias.

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Medo era pelo bebê

"É mais fácil você perguntar quem não teve", diz a vendedora Joelma da Costa Sousa, 36 anos, que ficou "muito mal" com a doença. Com quatro filhos, ela conta que o medo era ainda maior pelo caçula, de 11 meses, que "não tem como falar" o que sente. "Fizeram arrastões de limpeza, a prefeitura pagou um pessoal por dia para trabalhar, mas tem gente que não aceita que entrem no quintal. Teve mobilização e agora está mais tranquilo mesmo."

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"Só duas horas no soro"

Embora a situação tenha chegado a níveis alarmantes na cidade, alguns moradores parecem não se preocupar com a doença. É o caso do sapateiro José Gonçalves Oliveira Neto, 73 anos, que teve dengue na epidemia de 2010. "Ninguém está nem aí", afirma. Na parede do estabelecimento no Centro de Primeiro de Maio, que mantém há três anos, ele colou uma plaquinha de combate ao mosquito Aedes aegypti. "É para alertar. Mas não tenho medo da dengue, a minha foi fraquinha, fiquei só duas horas no soro. O próprio corpo vai imunizando a gente", diz.

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