Os primeiros vizinhos da Penitenciária Federal de Catanduvas que vão sentir a mudança da rotina da cidade serão cerca de mil crianças e adolescentes. Eles são alunos de três escolas localizadas em um raio de 700 metros da unidade inaugurada na sexta-feira, na pequena cidade de 11 mil habitantes no Oeste do estado. Uma delas, o Centro Integral de Crianças e Adolescentes, com 300 alunos, fica do outro lado da rua, em frente ao portão de entrada do presídio, na PR-471, estrada que liga Catanduvas ao município de Três Barras.
A penitenciária foi construída no perímetro urbano de Catanduvas, em um terreno cedido pela prefeitura, e de onde alunos da Escola Municipal Tiradentes e Escola Estadual Dilma Angélica conseguem enxergar o presídio das janelas das salas de aula. As canchas de esportes das escolas têm vista privilegiada para uma das laterais, onde pode estar, nos próximos 20 dias, o traficante Fernandinho Beira-Mar, e o líder da facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC), Marcos Willian Camacho, o Marcola, entre outros bandidos perigosos do país.
O prefeito Audoir Bernart não acha que as crianças corram algum tipo de risco, já que a penitenciária tem sistemas de vigilância de última geração. Mas a estrutura de segurança pública da cidade é pequena. A Polícia Civil tem apenas um homem, o escrivão. O delegado que atende a cidade é de Cascavel. Só a equipe da Polícia Militar ganhou reforço, passando de oito soldados para 14. "Não acredito em fugas, rebeliões e que as nossas crianças possam virar reféns de bandidos", afirma o prefeito.
Segundo o diretor do Departamento Penitenciário Nacional, Maurício Kuehne, o secretário de Segurança Pública, Luiz Fernando Delazari, prometeu aumentar o aparato policial na cidade. Mas durante a inauguração da penitenciária, o governador Roberto Requião afirmou que não há necessidade de reforçar a segurança. "A penitenciária funciona com 250 agentes, isso, por si só, é um excepcional reforço." Mas Kuehne afirmou que vai cobrar do secretário. "Talvez o governador não saiba da promessa", disse o diretor do Depen.
Na cidade, o assunto do momento é exatamente segurança. O bairro Alto Alegre exibe hoje o contraste da obra de R$ 20 milhões, uma fortaleza eletrônica, com casas modestas e as duas maiores escolas públicas do município.
Para o vereador Gringo Pessoli, 27 anos, não há do que reclamar. "Vamos gerar empregos, renda e benefícios. A cidade ficou mais segura, os bandidos foram embora, até o agricultor que tem carro velho está com medo de circular com o veículo pelas ruas. Catanduvas teve apenas um homicídio este ano e a tendência é zerar a partir de agora, pois há viaturas da Polícia Federal circulando na cidade", afirmou o vereador.
A inauguração da penitenciária e a conseqüente transferência dos novos presidiários não provocou uma corrida por equipamentos para reforçar a segurança nas residências. O dono da lanchonete Foguinho, Antônio Matias, 42 anos, garante que continua dormindo sem fechar portas e janelas da sua casa. "Quem colocar o pé para dentro leva chumbo", alerta Matias.
Segundo o pintor Vanderlei Klliari, 42 anos, isso não é consenso. "Uns estão assustados. Outros estão quietos. Muitas propriedades estão sendo vendidas por causa do medo", diz o pintor.
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