Apreensões diárias fizeram do pátio da Receita Federal um grande “supermercado” de automóveis. São 5 mil, de sucatas a modelos do ano. Após liberação judicial, os veículos são doados| Foto: Marcos Labanca / Gazeta do Povo

Pátio abriga 5 mil veículos apreendidos

Os carros apreendidos na fron­teira do Brasil com o Para­guai, a maioria de outras cidades brasileiras, principalmente do estado de São Paulo, são encaminhados para o pátio da Receita Federal, uma área de 136 mil metros quadrados onde hoje estão cerca de 5 mil veículos. As apreensões diárias de veículos fazem do pátio um depósito a céu aberto.

Idêntico a um supermercado de carros (há desde modelos 2013 até sucatas), o pátio abriga veículos intactos ou modificados para o crime. Muitos estão com painel violado, fundos falsos ou com lataria e solda no lugar dos vidros traseiros, para suportar o peso das caixas de mercadorias ilícitas. Os fiscais já apreenderam um Gol com 25 caixas, contendo algo em torno de 12.500 maços de cigarro.

Após a liberação judicial, os veículos são doados. Aqueles que não têm condição de circular são desmontados e encaminhados para reciclagem em uma empresa de Santa Terezinha de Itaipu.

Os carros foram incorporados pelo crime organizado após a polícia e a Receita acabarem com os comboios de ônibus que saíam de Foz na década de 1990, lotados com mercadorias contrabandeadas e sem pagar impostos.

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Veículos de luxo são usados para tentar enganar fiscalização

Ao contrário dos carros do contrabando, os veículos de luxo usados por traficantes de drogas em geral são legalizados e têm a documentação em dia, alguns em nome do próprio motorista. A estratégia, segundo o delegado chefe da Polícia Federal (PF) em Foz do Iguaçu, Ricardo Cubas César, é passar pela fiscalização sem levantar suspeita. "Eles tentam passar uma imagem diferente", diz.

A PF já flagrou alguns motoristas a serviço do tráfico que dirigiam vestidos com terno e gravata. Outros estavam com mulher e criança para simular uma viagem em família.

O tráfico também usa caminhão baú e carretas carregadas de cebola, alho, frango congelado e até materiais de construção para cruzar as rodovias da fronteira com drogas ocultas.

Muitas vezes o entorpecente – cocaína, crack e maconha – sai do Paraguai e é levado até Foz do Iguaçu para ser carregado nos veículos usados pelo crime organizado.

Carros populares e de luxo se transformaram em armas da criminalidade na fronteira do Brasil com o Paraguai. Enquanto veículos de alto padrão são usados para transportar droga, os mais baratos passam por oficinas mecânicas onde são "turbinados" para contrabandear cigarros, eletrônicos e informática. A logística do crime inseriu oficinas mecânicas no mercado da contravenção.

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Os carros destinados ao contrabando são repaginados com insulfim, têm todos os bancos retirados (às vezes circulam só com o do motorista) e a suspensão alterada. Eles ainda recebem molas para que não fiquem rebaixados quando carregados. É a forma encontrada pelas quadrilhas para não chamar atenção da polícia e de servidores da Receita Federal (RF) próximo a pontos de fiscalização.

No início de abril, fiscais da Receita apreenderam dois caminhões cegonha e 21 carros em uma oficina mecânica de Santa Terezinha de Itaipu, a 26 quilômetros de Foz do Iguaçu. A cidade é usada como ponto de contrabando. Todos os veículos serão submetidos à perícia, feita pela Polícia Federal (PF). Os agentes também investigam a origem dos carros e a oficina.

Rota das cegonhas

O auditor Ivair Hofmann diz que os caminhões cegonha foram incorporados à logística do crime para transportar os carros até a região, sem que as quadrilhas corram o risco de perdê-los no trajeto. "Os carros saem da região de Foz do Iguaçu carregados e, como há custos e riscos de apreensão quando voltam, eles são transportados em caminhões cegonha."

Para não passar pelo posto da Polícia Rodoviária Federal (PRF), na BR-277, as quadrilhas deixam os carros nas proximidades de Santa Terezinha de Itaipu, onde é feito o carregamento da mercadoria.

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Boa parte dos veículos usados na logística do contrabando são furtados, roubados ou financiados em nome de laranjas e não têm todas as parcelas pagas. Essas são algumas das razões que fazem os contrabandistas buscarem rotas alternativas e evitarem os postos de fiscalização.

A adulteração para fins de contrabando é feita em oficinas de Foz e cidades vizinhas. O estabelecimento não pode ser incriminado por estar prestando serviço, a não ser que haja provas de envolvimento no esquema ilícito.