O perigo pode estar mais perto do que se imagina. Os estudos e a experiência dos profissionais da área mostram que o pedófilo é, geralmente, uma pessoa que aparenta ser confiável. A orientação para proteger os filhos é ficar atento aos sinais e tomar algumas precauções.
"Não é porque tem cabelo branco que dá para confiar. Calhordas também envelhecem", afirma a sargento da Polícia Militar Tânia Guerreiro, que trabalha há 26 anos no combate à pedofilia. Tânia orienta aos pais não deixar os filhos sozinhos e não permitir que eles durmam na casa de outras pessoas. "O filho tem de ficar por perto até os 14 anos ou até a idade que ele saiba o que é um abuso e como se proteger."
A delegada do Serviço de Investigação de Crianças Desaparecidas (Sicride), Ana Cláudia Machado, pós-graduada em violência doméstica infanto-juvenil, também é taxativa. "Os pais não devem deixar os filhos brincando sozinhos ou dormir na casa dos amiguinhos."
No Tatuquara, um senhor de aproximadamente 60 anos, acima de qualquer suspeita, foi apontado por vizinhos como o autor de cerca de meia dúzia de casos de abuso sexual contra crianças de 6 a 9 anos. A notícia sobre a morte de Rachel Genofre, 9 anos, encontrada em uma mala na Rodoferroviária em novembro do ano passado, com marcas de asfixia e violência sexual, levantou a questão na casa da família Oliveira*. "Será que Leone* também vai matar Angélica*?", questionou Rafaela*, de 5 anos, ao ver uma reportagem sobre o caso.
O questionamento não passou em branco. Ao apertar um pouco a menina, a mãe ouviu a história que quisera não ser verdade. Rafaela contou em detalhes o que acontecia quando ela e outras quatro amiguinhas da vizinhança, entre 5 e 9 anos, iam até a casa de Leone, buscar doces. A mãe de Rafaela resolveu procurar as outras mães para investigar melhor. O relato foi chocante.
De acordo com a história apresentada pelas garotas, Leone tirava as suas próprias roupas e as das crianças. Depois de colocar um preservativo, esfregava-se no corpo das meninas, lambia os órgãos genitais delas e fazia com que elas lambessem o dele. Em troca, dava doces e uma recomendação: que guardassem segredo. Caso contrário, apanhariam dos próprios pais.
As mães juntaram-se e resolveram procurar o Núcleo de Proteção à Criança e ao Adolescente Vítimas de Crimes (Nucria). Deram nome e endereço do acusado. Estão esperando um solução justa para o caso.
Um trabalho efetivo e mais célere da polícia, entretanto, poderia ter evitado todo esse sofrimento. Próximo às casas em que moram as meninas que denunciaram Leone, há outra família abalada possivelmente pela ação do mesmo pedófilo. Elas não se conhecem, mas passam por um drama familiar parecido. Renata*, 8 anos, também pode ter sido abusada pelo mesmo vizinho.
O boletim de ocorrência relatando o fato foi registrado no dia 19 de maio do ano passado. "Eu dei todas as informações sobre este indivíduo, mas até agora nada", diz a mãe de Renata. "Minha filha está recebendo tratamento psicológico, mas justiça, até agora, não foi feita", explica. O Nucria não informou como está o progresso das investigações destes casos, alegando ser segredo de justiça.
Perfis
Para a delegada Ana Cláudia, é importante que os pais fiquem atentos a certos perfis. "Um adulto que mora sozinho, tem brinquedos e video games, não necessariamente é um molestador, mas os pais devem ficar de olho", explica. Só isso não é suficiente, contudo. Como a maior parte dos agressores são pessoas próximas, como pai, padrasto, tio, irmão e avô, é necessário estabelecer um diálogo sincero com as crianças, dizem os especialistas.
De acordo com a policial Tânia, é importante ficar atento também ao comportamento dos filhos. "Eles não falam, mas pedem socorro pelo comportamento", explica. Segundo ela, a vítima de abuso apresenta assaduras, recusa a usar toalhas de banho, apresenta secreções nas calcinha ou cueca, acorda na meio da noite chorando, tem pesadelos, tem inapetência ou come compulsivamente, isola-se, não faz lição de casa, tem um desempenho escolar ruim, sente vergonha do corpo ou demonstra comportamento sexual explícito (exibe órgãos genitais, masturba-se ou toca outras crianças), meninas costumam segurar a urina e meninos ficam com o pênis inchado.
*Os nomes das vítimas foram trocados para não as expor e o do acusado porque as investigações policiais estão no início.