Inácio e Ana Maria com os filhos: “Claro que tive medo, mas foi muito pequeno diante da vontade que eu tinha de ser mãe deles”| Foto: Rodolfo Bührer/Gazeta do Povo

Amor de família alimenta e faz crescer

Há um ano e meio na fila para adotar um filho, Ana Maria esperava ansiosamente que o telefone tocasse. E num dia de junho de 2003, quando isso aconteceu, a surpresa veio acompanhada de um desafio. Recebeu a proposta para adotar gêmeos, sendo um deles com problemas de saúde. Como havia participado de reuniões do grupo de adoções necessárias e não havia feito exigências quanto às características da criança (como gênero e idade), ela já estava com o espírito parcialmente preparado. Par­­cial­­mente porque, no fundo, nunca se está totalmente pronto, comenta ela.

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Atitudes para diminuir preconceitos

Em Ponta Grossa, para iniciar o processo de encaminhamento do pedido de adoção, os interessados precisam antes participar de três reuniões do Grupo de Apoio às Adoções Necessárias (Gaan). Não é uma mera formalidade. A intenção é deixar bem claro que a prioridade deve ser para as necessidades das crianças e tentar tirar dos pretendentes os preconceitos que podem estar presentes.

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Filho "ideal"

Confira os resultados de um estudo sobre adoção realizado recentemente em São Paulo:

Só saudáveis...

> Metade dos candidatos não aceita adotar crianças com problemas de saúde leves e considerados tratáveis.

...e sozinhos

> E 68% não querem grupos de irmãos.

Esperança

> Por outro lado, o levantamento mostrou diminuição do preconceito, nos últimos três anos, em relação a quesitos como idade, cor da pele, problemas de saúde e adoção de grupos de irmãos.

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Ponta Grossa - Um casal de gêmeos de 1 ano de idade – ela com síndrome de Down –, vítima de abandono e maus-tratos, espera por um desfecho feliz em Ponta Grossa. Há dois caminhos para que os bebês encontrem carinho e amor: ou a mãe, com depressão profunda e problemas renais, precisará de ajuda para cuidar dos filhos ou uma família terá de aceitar o desafio de adotar os irmãos.

Como os nomes verdadeiros das crianças não podem ser divulgados, elas serão chamadas aqui de Clara e Francisco – em uma alusão à novela Páginas da Vida, transmitida pela RPCTV há dois anos, na qual um casal de gêmeos foi separado no nascimento e a menina era portadora de síndrome de Down.

Na vida real, o processo de destituição do poder familiar ainda está em andamento no Fórum de Ponta Grossa. Mas a mãe das crianças não tem mais o direito de vê-las. Ela não fez acompanhamento pré-natal e teve os filhos dentro de uma ambulância. Pessoas que tiveram contato com a família contam que ela não amamentava a menina.

Clara foi enfraquecendo e foi levada ao hospital pela primeira vez com menos de um mês de idade. Depois de restabelecida, voltou para casa. Mas apenas por algum tempo. Novamente fraca, foi internada de novo. Pesava menos de dois quilos. A mãe da menina não ia visitá-la e a Justiça decidiu que ela não poderia mais se aproximar da criança. Tempo depois, por considerar que não tinha condições de cuidar dos filhos, os outros dois – Francisco e mais uma irmãzinha, de 5 anos – foram levados para um abrigo. Clara ficou três meses internada e depois também foi encaminhada para uma casa de acolhida especializada em crianças com necessidades especiais.

Caso a Justiça decida que os três irmãos não podem ficar com a mãe, o trabalho da Vara de Infância e Juventude de Ponta Grossa será o de sensibilizar uma família a adotar de uma só vez três crianças, sendo uma com síndrome de Down. "As adoções de crianças com necessidades especiais são as mais difíceis", reconhece a juíza Noeli Reback. Mas ela reforça que qualquer mulher que engravide está sujeita a ter filhos com problemas de saúde. "É incrível o que ter uma família pode representar até para a saúde de uma criança. Conheci casos de crianças muito debilitadas, que só se desenvolveram depois que foram adotadas", relata. Recentemente ocorreram adoções que a juíza considera vitórias, como de filhos de soropositivos, de uma criança cega e de outra com deficiência mental. E outro final feliz está a caminho: uma menina com atraso de desenvolvimento tem uma família em espera, que quer adotá-la. Assim que for concluído o processo de destituição de poder familiar a adoção poderá ser encaminhada.

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Vínculo familiar

O desfecho da história de Clara e Francisco deve demorar um pouco mais. A combinação dos problemas de saúde com o fato de serem três crianças e todos com mais de um ano de idade torna o caso mais complexo. A lei de adoções não exige que irmãos sejam adotados pela mesma família, mas uma espécie de código implícito leva os juízes a não separar as crianças. "É o único vínculo familiar que resta. Não pode ser desfeito. Ainda mais quando são gêmeos", explica a juíza. Há casos bem difíceis, como um grupo de quatro irmãos. Mesmo no cadastro internacional de adoções não há procura. Em casos como esse, a Justiça aceita separá-los em dois pares, desde que as famílias adotivas se comprometam a manter o vínculo, com visitas constantes.

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Interatividade

Quais as soluções possíveis para vencer as barreiras para que todas as crianças tenham um lar?

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