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Infraestrutura

O dinheiro que deixa o Brasil parado

Centro dos protestos que mar­caram 2013, o tema da mo­bi­lidade urbana não passou im­pune pelos cortes tradi­cionais do governo federal neste início de 2014. A área teve uma dotação de R$ 2,3 bilhões, no entanto, pouco mais da metade dos recursos foram autorizados, o equivalente R$ 1,497 bilhão. Não bastasse a redução do orçamento previsto, apenas R$ 829 milhões – 55% do total – foram empenhados pelo Ministério das Cidades em 2013, ou seja, só esse montante tem chance de ser aplicado.

Ao longo do ano, o governo também não chegou a pagar o meio bilhão de reais previsto para intervenções na área. Segundo dados do Sistema Integrado de Administração Financeira (Siaf), do Tesouro Nacional, foram gastos no ano R$ 468 milhões com o programa de Mobilidade Urbana e Trânsito, valor que já inclui R$ 271 milhões de restos a pagar de anos anteriores, além de R$ 196 milhões comprometidos ainda em 2013 (veja gráfico).

Em 2012, houve acréscimo na dotação prevista para o setor – de R$ 1,3 bilhão, o total autorizado mais que dobrou, chegando aos R$ 2,78 bilhões. Mas somente R$ 394 milhões foram gastos, incluindo os restos a pagar.

Essa lentidão na aplicação dos recursos tem marcado a gestão federal ao longo dos últimos anos, como mostra um levantamento da ONG Contas Abertas. Segundo o estudo, de 2002 a 2013, R$ 8 bilhões foram autorizados para a área, mas só 1,9 bilhão, o mesmo que 23%, acabaram sendo aplicados. O montante considera as despesas colocadas em valores constantes, atualizadas pelo IGP-DI.

Remanejamento

O coordenador do Contas Abertas, o economista Gil Cas­tello Branco, explica que é comum que após a aprovação do orçamento geral da União e a sanção pela presidência existam remanejamentos de verbas. Com isso, recursos destinados a algumas obras que apresentam mais dificuldade de execução podem ser realocados para outros programas. Um movimento que pode acontecer neste ano.

O analista observa que o investimento em mobilidade urbana é lento porque, além de estar ligado a problemas de outros segmentos, como obtenção de licenças ambientais para obras e eventuais paralisações pela descoberta de irregularidades, as obras afetam as cidades. "Existe frequentemente a necessidade de desapropriações, remoções de moradores, intervenções no subsolo, além de questionamentos de órgãos como o Iphan, por exemplo. No caso das intervenções no subsolo, muitas vezes sequer existem plantas com as tubulações de água, energia, gás", diz. Esse ritmo contribui para que, mesmo empenhados, os recursos demorem a ser pagos.

Com isso, a aplicação dos R$ 50 bilhões anunciados pela presidente Dilma Rousseff para a área, após a onda de manifestações que marcaram o ano passado, se torna cada vez mais distante, avalia o coordenador. "Seriam necessários muitos anos para o governo investir tudo isso".

Centenas de projetos nas prateleiras

Apesar de ter investimentos no país ainda abaixo do previsto no orçamento, a área da mobilidade urbana é vista por especialistas como um setor que deveria ser prioridade na gestão pública. O arquiteto e urbanista Carlos Hardt, coordenador do programa de pós-graduação em Gestão Urbana da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR), sustenta que o descompasso entre o anúncio de investimentos e a aplicação dos recursos afeta a qualidade de vida do cidadão. "Ele leva duas horas para chegar ao trabalho e poderia usar esse tempo para fazer outra coisa, trabalhar mais ou ter lazer", define.

Para Hardt, todos, o que inclui o governo, têm consciência de que o tema deveria ser um elemento primordial dentro das políticas públicas das grandes cidades. "O que não dá é para ficar adiando. A repercussão de baixo investimento é ainda mais grave com a disponibilidade de recursos".

Mais gastos

O especialista em planejamento urbano Luiz Henrique Fragomeni, da Universidade Federal do Paraná (UFPR), avalia que a dificuldade em gerar bons projetos também implica em atraso na aplicação do dinheiro público e, logo, em mais gastos. "Isso causa um estrago enorme, desconfiança. As obras ficam mais caras depois que se anuncia um corte, devido à atualização, e se manda para a prateleira centenas de projetos", afirma.

Na opinião de Fragomeni, para reverter este quadro é preciso ter planos diretores atualizados, mais claros e relacionados com as dotações orçamentárias. Planos de mobilidade seguidos de planos de ação também são bem-vindos. Falta ainda, acrescenta ele, rigor no cumprimento das etapas técnicas dos projetos e lidar com a descontinuidade da gestão após as eleições, além das barganhas políticas. "Um recurso pactuado com o governo tem de ser cumprido", reforça.

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