É uma coisa que me deixou muito triste, porque eu vim ao Brasil para trabalhar. Brasileiro e haitiano tinham que ser como irmãos

Gregoire Souffrant, haitiano, operário da Ceasa.
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Às vésperas de completar dois anos no Brasil, o haitiano Gregoire Souffrant, de 27 anos, coleciona uma série de violações no ambiente de trabalho, que vai desde calotes a injúrias raciais e agressões físicas.

A Gazeta do Povo começou a acompanhar o rapaz em setembro do ano passado, pouco depois de ele ter sido surrado na cerealista em que trabalhava. Além de xingá-lo de “escravo” e de “macaco”, os colegas batiam nele. Mesmo na condição de vítima, Souffrant foi demitido por justa causa.

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“É uma coisa que me deixou muito triste, porque eu vim ao Brasil para trabalhar. Brasileiro e haitiano tinham que ser como irmãos”, disse.

Sem carteira

No período em que está no Brasil, Souffrant esteve em cinco empregos. Em dois deles, trabalhou sem carteira assinada (embora ele diga que os colegas brasileiros eram todos registrados).

Em um dos casos – uma empresa terceirizada que prestava serviços à Sanepar – ele descobriu que, apesar de não ter sido registrado, os descontos eram feitos em folha de pagamento.

Quando foi reclamar, acabou demitido. “Foi difícil, porque nessa época eu só tinha pão para comer”, relembrou.

No início do ano passado, o rapaz foi recrutado para trabalhar em um frigorífico no Rio Grande do Sul, mas não resistiu muito ao trabalho pesado.

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“Ninguém, nem os haitianos, queriam fazer aquilo. A gente ficava oito horas fazendo a mesma coisa. Não podia parar nem para ir ao banheiro”, disse.

A reportagem também acompanhou a angústia do haitiano nos períodos de desemprego, em que ele saía – sempre vestindo uma camisa bem passada – para distribuir currículo. Chegava a faltar dinheiro até para pagar passagens de ônibus, nessas andanças. Ainda assim, Souffrant mantinha a dignidade e quase não reclamava.

Desde dezembro, trabalha em um box na Ceasa - no bairro do Tatuquara. “Eu gosto de lá. As pessoas lá são boas para mim”, resume.