Manutenção
Bueiros só são monitorados no centro
Apenas os bueiros da região central de Curitiba recebem uma manutenção permanente, com uma equipe que faz a limpeza manual e também com a presença de um caminhão especial. Nas outras localidades, a prefeitura costuma ir quando há reclamação ou solicitação de limpeza. "Não é uma tarefa científica, realizada sempre no mesmo período. Isso porque, quando chove, as equipes correm para atender primeiro os locais que estão com mais bocas-de-lobo entupidas. Passamos da rotina para a emergência", afirma o engenheiro e diretor do departamento de pontes e drenagens, Djalma Mendes dos Santos. Segundo ele, é mais fácil a população identificar o entupimento nos bueiros do que a própria prefeitura saber onde está o problema.
Em São Paulo, o morador poderá consultar pela internet como está o serviço de limpeza dos bueiros da cidade. Os dados estarão disponíveis em um site da prefeitura que apontará as ordens de serviço executadas. "Vamos monitorar como será este acompanhamento em São Paulo e, se for positivo, vamos implantar em Curitiba", afirma Santos.
Os bueiros costumam ser um dos vilões em dias de chuva forte: se estiverem sujos são a principal causa de alagamentos. O entupimento ocorre principalmente por falta de consciência da população, de acordo com Santos. (PM)
Garagem no subsolo é problema
As garagens subterrâneas, feitas principalmente no subsolo de grandes edificações, são outro fator que contribui com os alagamentos da cidade, segundo o Ministério Público (MP). Os promotores sugerem que a prefeitura modifique a legislação, desaconselhando o uso deste tipo de empreendimento. "As garagens subterrâneas são um erro em termos de geologia", afirma o promotor Saint-Clair Honorato Santos do Ministério Público do Paraná.
O problema é que a escavação para que a garagem seja construída acaba, muitas vezes, afetando os lençóis freáticos. Quando se atinge uma camada de água, é preciso bombeá-la para a rede de águas pluviais. Um dos pontos negativos é que a água é limpa e acaba contaminada, porque se mistura com a da chuva e a do esgoto e cai também nos rios. Outro problema é que se gasta energia com as bombas.
Em Curitiba, é proibido construir garagens subterrâneas em algumas áreas da região central e do Centro Cívico, justamente porque são pontos que têm muitos rios. "Restringimos a ocupação do subsolo também nos locais com maior incidência de alagamentos", afirma a coordenadora do uso de solo do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc), Maria Cristina Trovão Santana. Ela lembra que o uso deste tipo de garagem começou a ser adotado em Curitiba na década de 70, com o novo plano diretor do município. "É permitido fazer. Existem outros tipos de solução que podem ser adotados", lembra.
As áreas de Curitiba que mais fazem uso das garagens subterrâneas são justamente aquelas que têm grandes empreendimentos: as vias estruturais (das canaletas de ônibus) e as ZR4, que são os terrenos das quadras localizadas nas proximidades das vias estruturais. "Nos outros locais, o uso recorrente é o de garagens descobertas que, aliás, são soluções mais baratas. Os edifícios destas localidades normalmente têm uma vaga por apartamento", afirma Maria Cristina (PM)
A casa de José Cardoso de Moraes Filho está a um metro e meio do chão: a base de concreto é a garantia de que ele e a família não terão de levantar correndo de madrugada para erguer os móveis porque a água do rio está chegando. "O investimento foi grande, mas não me arrependo. É o único jeito de a gente se prevenir", diz Moraes, que vive no Campina do Siqueira, no conjunto Olaria. Assim como ele, os moradores de diversos locais de Curitiba tentam se precaver dos alagamentos de várias formas enquanto uma solução definitiva não vem.
A esperança é que a solução venha da Justiça. Uma ação civil pública ambiental foi proposta pelo Ministério Público do Estado contra a prefeitura de Curitiba em 2004. A ação pede uma solução imediata para 16 pontos da cidade que sofrem regularmente com as enchentes (veja nesta página). A ação está na fase de análise de provas. A prefeitura diz que não irá se pronunciar sobre o assunto enquanto não houver uma decisão judicial.
No último grande temporal que aconteceu em Curitiba, no final do ano passado, Moraes conta que a água chegou a 1,10 metro de altura na rua e, por 40 centímetros, não entrou na casa que ele acaba de levantar e reformar. Por causa do Rio Barigui, os moradores do Olaria vivem em pânico. A enchente de 1999, uma das piores da história recente da capital paranaense, foi o estopim para que eles fizessem um abaixo-assinado pedindo soluções ao governo. Há dez anos eles esperam uma resposta. E não são os únicos.
Desde 1996, os habitantes do São Braz, nas proximidades do Rio Uvu, têm reclamado das enchentes e dos prejuízos materiais e de saúde. Dois anos depois, em 1998, a Vila São Carlos, no Pinheirinho, tomou a mesma decisão: os moradores decidiram reclamar que o Ribeirão Passos do França tem recebido muito esgoto e lixo, além de ter uma galeria de pequenas proporções, que não aguenta a quantidade de água em dias de grandes precipitações. "Além do lixo, a água da BR-116 escoa aqui e também existem muitas residências que foram construídas irregularmente em cima do córrego", afirma a moradora Silmara Ribeiro de Andrade, que vive há 31 anos no local. Ela mudou o portão de entrada da casa para o lado mais alto com o intuito de segurar a água. "É uma solução provisória. Mas vai funcionar até quando?", pergunta.
Também é grande a insatisfação dos moradores do Vista Alegre, do Bairro Alto e Tarumã, do Bacacheri e do Santa Cândida. Os problemas são sempre os mesmos: área de preservação permanente que não está sendo respeitada, rios poluídos (com esgoto e lixo) e com casas nas margens, o que dificulta o caminho natural das águas. Tem gente construindo muro onde não deve e até um cemitério, no Umbará, que foi alvo da ação porque estaria em área de preservação permanente. "São coisas simples, que todo mundo sabe que acontece, mas que não estão respeitando. É o esgoto, o lixo, a invasão de obras no subsolo. Chegamos a entrar com ações individuais contra grandes empreendimentos. Solicitamos a estes estabelecimentos para ter lajota vazada nos ambientes externos para que a água consiga penetrar no solo", afirma o promotor de justiça Sérgio Luiz Cordoni, autor da ação.
Os 16 pontos listados foram analisados, por e-mail, pela prefeitura (veja nesta página). Pelo menos três chegaram a ser fiscalizados e os infratores foram multados mesmo assim o problema persiste. Outros dois devem ter soluções mais rápidas: o Campina do Siqueira (Olaria) e o Bairro Alto. No Olaria, uma empresa que venceu a licitação vai iniciar as obras no Barigui para tentar resolver o problema dos alagamentos: o rio terá a base limpa e afundada em pelo menos 1,5 metro e também será alargado. "Vai resolver por enquanto, mas acredito que em 10 anos o problema voltará se outras medidas não forem tomadas", diz Moraes, que vive há 30 anos no local. No Bairro Alto, o Rio Atuba terá a sua capacidade de vazão aumentada e as casas que estão irregulares nas margens serão retiradas.
Cidade impermeável
Além da limpeza dos rios, o engenheiro Djalma Mendes dos Santos, do departamento de pontes e drenagens da prefeitura, diz que é preciso repensar a impermeabilização da cidade. "O Rio Belém, para não extrapolar, precisaria ter 100 metros de largura, mas tem em torno de 30 a 40 metros. Isso porque, quanto mais a cidade fica impermeável (com as construções), mais o nível do rio aumenta", explica.
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