Quarentões que não deixam a casa da mamãe
Embora muitas famílias sofram ao cortar pela segunda vez o cordão umbilical, outras vivem a situação oposta: o filho não sai de casa mesmo depois de completar 30, 35 ou 40 anos de idade. "Isso também é prejudicial, pois os pais idosos passam a ficar ansiosos e preocupados com o futuro do filho. Têm medo de que ele fique muito dependente e não consiga se virar quando não estiverem mais presentes", diz o médico geriatra e gerontólogo Mauro Roberto Piovesan, do Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná.
Além da apreensão, tal situação também pode afetar a saúde e as economias do casal idoso. "Eles comprometem o patrimônio e deixam de aproveitar a vida ou cuidar da saúde. Alguns chegam a fazer empréstimos para satisfazer as necessidades do filho", comenta o gerontólogo Guilherme Falcão. A solução, nesses casos, é mostrar ao filho que está na hora de trilhar o próprio caminho. Uma conversa franca, respeitosa e firme costuma funcionar. Caso contrário, os especialistas recomendam a terapia familiar, onde um profissional pode expor os dilemas e benefícios e buscar um consenso com a contribuição de todos os envolvidos.
Vanessa Prateano
Alertas
Confira os sinais mais comuns da Síndrome do Ninho Vazio:
> Rejeição a mãe (ou pai) não aceita a independência do filho e vê a autonomia como um desrespeito ou falta de sensibilidade.
> Resistência desaprova qualquer pessoa que o(a) filho(a) venha a lhe apresentar expondo argumentos convincentes e é contra os planos de estudar fora, morar no exterior ou se envolver amorosamente.
> Reclusão evita relacionar-se com pessoas de fora do círculo familiar, e briga constantemente com parentes, especialmente o cônjuge e os filhos.
> Hipocondria apresenta queixas constantes de fadiga, enxaquecas, dor de estômago e taquicardias. Torna-se mal humorado e aumenta o número de consultas ao médico
> Rotina repete à exaustão atividades rotineiras, como ir ao supermercado ou ao banco, como forma de escapar dos problemas e assim "ter o que fazer".
Filhos crescem, amadurecem e levantam voo. Para alguns pais, o processo natural da construção da vida própria dos filhos no trabalho, nos estudos ou numa relação afetiva pode ser um tormento. O orgulho e a sensação de dever cumprido costumam conviver lado a lado com a apreensão e uma certa angústia em relação ao futuro, depois que "as crianças" saem de casa.
Essa angústia é chamada de Síndrome do Ninho Vazio por especialistas em comportamento humano e terapeutas. A sensação de perda e a tristeza não devem ser a regra, mas servem de alerta de que algo não está bem, especialmente na relação do casal. "Se o único projeto de vida era cuidar dos filhos, algo está errado. Significa que a relação não foi boa ou começou ruim. Afinal, quando o relacionamento é bom, ele melhora ainda mais quando os filhos partem, pois agora o casal pode aproveitar o tempo junto", diz o psicólogo Guilherme Falcão, presidente da Comissão de Gerontologia do Conselho Paranaense de Psicologia. Caso contrário, as mudanças de comportamento e a depressão minam as esperanças de compartilhar uma velhice saudável e prazerosa, além de levar a brigas e, não raro, separações e divórcios.
Embora a tristeza afete tanto homens quanto mulheres maduros, são elas que sofrem mais. Isso porque a síndrome afeta quem hoje tem, em média, entre 45 e 60 anos, uma geração em que o projeto de vida do pai era trabalhar e sustentar a casa, enquanto a mãe cuidava dos filhos. "As mulheres que hoje têm essa idade são, em geral, donas de casa que se dedicaram exclusivamente aos filhos. Quando eles vão embora, elas ficam sem perspectiva. De repente, a casa fica enorme e não há o que fazer, com o que se preocupar", explica a pedagoga Siderly Almeida Barbosa, coordenadora do Núcleo de Aprendizagem e Aprimoramento para a Amadurescência, ligada à pró-reitoria comunitária da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR).
Diversificar os papéis
A primeira atitude a ser tomada por quem sofre de Ninho Vazio é reavaliar tudo o que se viveu, inclusive abandonando antigos papéis e assumindo novos. O casal, especialmente, precisa entender que, além de pais e mães, são maridos e esposas, profissionais ativos e colegas de trabalho ou, então, aposentados com pleno direito a curtir os prazeres dessa idade. "Há muitos idosos que só falam de seus filhos, e eu sempre pergunto: E você? E o seu marido, a sua esposa? É preciso entender que o chão dessa pessoa, que um dia foi o filho, evoluiu. É preciso resgatar a própria pessoa", aconselha a psicóloga Sandra Moreira, da PUCPR.
É o que a funcionária pública Delma Maskow, 53 anos, pretende fazer depois que os filhos, de 21 e 23 anos, saíram de casa, há menos de três meses. Ela admite que o processo não está sendo fácil. A cozinha fica limpa por mais tempo, a sala está sempre em ordem e não há mais barulho no portão de madrugada, quando os meninos chegavam de uma noitada. Mas a vida não ficou mais calma. "Eu não consigo nem ficar em casa. Quando chega a hora de voltar do trabalho, vai dando uma agonia, uma depressão. Não posso nem entrar no quarto deles", afirma.
Por enquanto, a saída está num curso de estética com o qual ela sonha há alguns meses. Já foi até para São Paulo, em uma feira da área, em busca de inspiração, e pretende ajudar o marido a abrir um novo negócio. "Aquele velho ditado de que a gente não cria os filhos para a gente é verdade. Dói pensar assim, mas é a mais pura verdade."
Filhos e netos
De acordo com especialistas, o papel dos filhos é fundamental para que os pais superem a síndrome. Almoços aos domingos, telefonemas para perguntar se tudo vai bem e demonstrações de carinho são necessárias. Por outro lado, os filhos também precisam impor limites às visitas, até para que a autonomia seja de fato criada, e evitar pedir a opinião dos pais para tudo.
Outro conselho importante: os netos não podem tomar o lugar dos filhos numa tentativa de preencher o vazio deixado com a saída desses. "Eles estão na idade de curtir os netos, não de assumir responsabilidades por eles. Avós não têm a mesma energia dos pais, nem a informação necessária para isso", observa o gerontólogo Guilherme Falcão.
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