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Família

O filho bateu asas e voou

“Eu não consigo nem ficar em casa. Quando chega a hora de voltar do trabalho, vai me dando uma agonia, uma depressão. Não posso nem entrar no quarto deles”, Delma Maskow, 53 anos, depois da saída dos filhos de 21 e 23 anos, há quase três meses | Daniel Castellano/Gazeta do Povo
“Eu não consigo nem ficar em casa. Quando chega a hora de voltar do trabalho, vai me dando uma agonia, uma depressão. Não posso nem entrar no quarto deles”, Delma Maskow, 53 anos, depois da saída dos filhos de 21 e 23 anos, há quase três meses (Foto: Daniel Castellano/Gazeta do Povo)

Filhos crescem, amadurecem e levantam voo. Para alguns pais, o processo natural da construção da vida própria dos filhos – no trabalho, nos estudos ou numa relação afe­tiva – pode ser um tormento. O orgulho e a sensação de dever cumprido costumam conviver lado a lado com a apreensão e uma certa angústia em relação ao futuro, depois que "as crianças" saem de casa.

Essa angústia é chamada de Síndrome do Ninho Vazio por especialistas em comportamento humano e terapeutas. A sensação de perda e a tristeza não devem ser a regra, mas servem de alerta de que algo não está bem, especialmente na relação do casal. "Se o único projeto de vida era cuidar dos filhos, algo está errado. Significa que a relação não foi boa ou começou ruim. Afi­nal, quando o relacionamento é bom, ele melhora ainda mais quando os filhos partem, pois agora o casal pode aproveitar o tempo junto", diz o psicólogo Guilherme Falcão, presidente da Comis­são de Gerontologia do Conse­lho Paranaense de Psicologia. Caso contrário, as mudanças de comportamento e a depressão minam as esperanças de compartilhar uma velhice saudável e prazerosa, além de levar a brigas e, não raro, separações e divórcios.

Embora a tristeza afete tanto homens quanto mu­lheres maduros, são elas que sofrem mais. Isso porque a síndrome afeta quem hoje tem, em média, entre 45 e 60 anos, uma geração em que o projeto de vida do pai era trabalhar e sustentar a casa, enquanto a mãe cuidava dos filhos. "As mulheres que hoje têm essa idade são, em geral, donas de casa que se dedicaram exclusivamente aos filhos. Quando eles vão embora, elas ficam sem perspectiva. De repente, a casa fica enorme e não há o que fazer, com o que se preocupar", explica a pedagoga Siderly Almeida Bar­bosa, coordenadora do Nú­­cleo de Aprendizagem e Apri­­mo­ramento para a Ama­dures­cência, ligada à pró-reitoria comunitária da Pon­tifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR).

Diversificar os papéis

A primeira atitude a ser to­­mada por quem sofre de Ninho Vazio é reavaliar tudo o que se viveu, inclusive abandonando antigos papéis e assumindo novos. O casal, especialmente, precisa en­­ten­der que, além de pais e mães, são maridos e esposas, profissionais ativos e colegas de trabalho ou, então, aposentados com pleno direito a curtir os prazeres dessa idade. "Há muitos idosos que só falam de seus filhos, e eu sempre pergunto: ‘E você? E o seu marido, a sua esposa?’ É preciso entender que o chão dessa pessoa, que um dia foi o filho, evoluiu. É preciso resgatar a própria pessoa", aconselha a psicóloga Sandra Moreira, da PUCPR.

É o que a funcionária pública Delma Maskow, 53 anos, pretende fazer depois que os filhos, de 21 e 23 anos, saíram de casa, há menos de três meses. Ela admite que o processo não está sendo fácil. A cozinha fica limpa por mais tempo, a sala está sempre em ordem e não há mais barulho no portão de madrugada, quando os meninos chegavam de uma noitada. Mas a vida não ficou mais calma. "Eu não consigo nem ficar em casa. Quando chega a hora de voltar do trabalho, vai dando uma agonia, uma depressão. Não posso nem entrar no quarto deles", afirma.

Por enquanto, a saída está num curso de estética com o qual ela sonha há alguns meses. Já foi até para São Paulo, em uma feira da área, em busca de inspiração, e pretende ajudar o marido a abrir um novo negócio. "Aquele velho ditado de que a gente não cria os filhos para a gente é verdade. Dói pensar assim, mas é a mais pura verdade."

Filhos e netos

De acordo com especialistas, o papel dos filhos é fundamental para que os pais superem a síndrome. Almoços aos domingos, telefonemas para perguntar se tudo vai bem e demonstrações de carinho são necessárias. Por outro lado, os filhos também pre­cisam impor limites às visitas, até para que a autonomia seja de fato criada, e evitar pedir a opinião dos pais para tudo.

Outro conselho importante: os netos não podem tomar o lugar dos filhos numa tentativa de preencher o vazio deixado com a saída desses. "Eles estão na idade de curtir os netos, não de assumir responsabilidades por eles. Avós não têm a mesma energia dos pais, nem a informação necessária para isso", observa o gerontólogo Guilher­me Falcão.

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