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Logo nas primeiras perguntas do Censo Agropecuário, Ciro Nalepa interrompe o recenseador para contar o que tira seu sono nas últimas semanas. "Precisamos de aumento nos preços e de ajuda para vender a produção de batatas", dispara. Sem ter como resolver o problema, o recenseador Daniel Quadros volta ao computador de mão de última geração, capaz de localizar a propriedade rural por satélite e memorizar os questionários preenchidos. Nas duas horas de entrevista, enquanto um punhado de pinhão torra na chapa do fogão a lenha dos Nalepa, o assunto das batatas reaparece a todo momento.

A expectativa do agricultor é que, pelo menos a longo prazo, os dados levantados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) melhorem as condições de produção. Ciro relata estar diante de uma contradição. Os 12 alqueires cultivados por sua família em Campo Magro (região metropolitana de Curitiba) produzem o dobro de dez anos atrás, mas a renda não aumentou. A produção de feijão, por exemplo, passou de 3 para 6 toneladas por alqueire. Porém, o saco do produto não alcança o preço mínimo: R$ 47. "Os dados do censo podem mostrar a situação", confia.

Na batata, o rendimento deu salto ainda maior, de 17,5 para 50 toneladas por alqueire. "Mas o saco está a R$ 6 (12 centavos por quilo). Se nada mudar, vamos tomar um prejuízo de R$ 20 mil", reclama o pai de Ciro, Miguel Nalepa, que vive no sítio desde a década de 60. A vantagem de manter a propriedade vem do aumento dos preços da terra, conta. O alqueire, que valia cerca de R$ 30 mil no último Censo Agropecuário, é avaliado em R$ 100 mil.

A missão de Ciro, o mais jovem dos cinco filhos de Miguel e Bernardina Nalepa, é manter a propriedade em dia e cuidar dos pais. Ele assumiu a administração do sítio há uma década, na época do último Censo Agropecuário. Hoje, casado e com um filho de 6 anos, precisa fazer a terra render mais, não só em volume.

Enquanto respondem as perguntas do censo, os Nalepa se dão conta de que acertaram ao diversificar a produção. Só assim não vão à falência quando ocorre um problema como o das batatas. Além de cultivar alimentos como milho, feijão, produzem carne, leite, ovos e outros alimentos. Quando uma cultura não rende, a outra "segura as pontas", diz Miguel. Ele e sua esposa conseguiram se aposentar como produtores rurais, o que também ajuda nas piores fases.

Mesmo assim, "R$ 20 mil de prejuízo" com 150 toneladas de batatas é muito, diz Miguel. A esperança de Ciro é que a proximidade da capital traga uma solução. "Tenho vontade de encher um caminhão e vender na rua em Curitiba." Para isso, ele precisa de licença da prefeitura, mas os 27 pontos de venda já estão ocupados, relata. Na venda direta, os produtores conseguem o dobro do preço pago pelos atravessadores.

O coordenador do Censo Agropecuário no Paraná, Jorge Mryczka, que acompanhava a entrevista, na última quarta-feira, se prontificou a levar o caso à prefeitura de Curitiba. Ele afirma que, se o censo não oferece resultados tão rapidamente, tem grande potencial a longo prazo. "São os dados do IBGE que o governo usa para planejar suas ações, para identificar que setor precisa mais de recursos públicos."

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