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Primeiro de novembro de 1755: Dia de Todos os Santos, uma das datas mais importantes do calendário religioso. Em Lisboa, quarta maior cidade da Europa e opulenta metrópole do grande império português, o dia havia amanhecido quente e claro. Poucos minutos depois de 9h30, um barulho terrível anunciou uma das mais devastadoras catástrofes que já atingiram uma grande cidade do Ocidente.

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A duração de dez minutos do Grande Terremoto de Lisboa poucas vezes foi equiparada. O maior de seus três temores media entre 8,75 e 9 graus na escala Richter. Dois gigantescos tremores secundários se seguiram, assim como um imenso maremoto. A destruição se completou com um incêndio que ardeu durante uma semana, consumindo uma área maior do que o Grande In­­cêndio de Londres. A maior parte das vastas riquezas guardadas nos palácios, igrejas e armazéns de Lisboa se perdeu.

Entre 30 mil e 40 mil pessoas morreram em Lisboa e mais 10 mil em outros lugares. Quando o maremoto invadiu Cádiz, o principal porto espanhol, demoliu a barreira de muros de 1,8 metro de altura que protegia a cidade e arremessou rochas de dez toneladas a uma distância de 15 metros. No mesmo dia, chegou ao Caribe.

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O impacto do terremoto no pensamento e na religião ocidentais foi imediato e imenso. Por toda a Europa, teólogos e filósofos lutaram para conciliar a imposição de tanto sofrimento e destruição a Lisboa com sua crença na existência de uma divindade benévola. Logo depois, Voltaire usou o desastre como fundamento de seu famoso ataque à filosofia hegemônica do "otimismo". Tendo ocorrido às vésperas da Guerra dos Sete Anos, o primeiro conflito bélico global, o terremoto marcou o início de uma "era moderna" de modo aterrorizante e espetacular.

Valendo-se de fontes primárias, muitas das quais nunca haviam sido utilizadas antes, o historiador Edward Paice pinta um quadro vívido de uma cidade e de uma sociedade alteradas para sempre em poucos minutos, em uma obra que acaba de ser lançada pela Editora Record. "A ira de Deus" descreve em detalhes o terremoto e seu desfecho imediato, com o mesmo interesse em suas consequências políticas, econômicas e culturais, e questiona por que, embora relatado como um dos maiores desastres naturais já registradas na História, não deixou uma marca no imaginário popular comparável a tragédias do mesmo porte, como a destruição de Pompeia em 79 d.C.

Serviço:

Livro: A Ira de Deus (Wrath of God), de Edward Paice, tradução de Márcio Ferrari, 336 páginas. Editora Record. Preço sugerido: R$ 54,90.