A Justiça passou de todos os limites. Não há como dizer se o governo vai continuar, porque todas as instituições estão em risco.
Os mais recentes desdobramentos da Operação Lava Jato têm potencial para levar o governo de Dilma Rousseff (PT) ladeira abaixo muito em breve. Com a popularidade em baixa, a economia em recessão e enfrentando a revolta de petistas contrários ao ajuste fiscal, a presidente buscava apoio da oposição para ver seus projetos aprovados no Congresso. Mas a ação incisiva da força-tarefa da Lava Jato contra Lula, a suposta delação do senador Delcídio do Amaral (PT-MS) e a conversão da prisão temporária do marqueteiro João Santana em preventiva sinalizam que a sustentação política de Dilma está por um triz.
A decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) em acolher a denúncia contra o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que também virou alvo do Conselho de Ética da Casa, foram das poucas notícias positivas para o Planalto. Dilma foi alvejada já no domingo (28), com a notícia de que José Eduardo Cardozo, seu braço-direito e ministro da Justiça, iria deixar o cargo por desavenças com petistas. O próprio Lula manifestou diversas vezes que Cardozo deveria ter as rédeas da Polícia Federal. Para o cargo foi indicado um procurador baiano, Wellington Cesar, indicação de Jaques Wagner – o qual foi alçado à Casa Civil por pressão do ex-presidente.
O golpe mais duro veio com a notícia de que Delcídio faria delação premiada, e que nela implicaria Dilma pessoalmente por esquemas de corrupção na Petrobras, e tentativa de interferência na Lava Jato, com uma nomeação para o Superior Tribunal de Justiça (STJ). “Não está nada comprovado, mas foi colocado, e atinge diretamente a presidente. Isso colocou a crise que estava às margens do governo dentro dele”, diz o cientista político Geraldo Tadeu Monteiro. Para ele, o impeachment de Dilma é o caminho natural.
Governos em crise costumam oferecer cargos e distribuir recursos para agradar deputados, mas isso não é possível agora, diz Monteiro. O novo contingenciamento do Orçamento – corte de R$ 23,4 bilhões – e a queda do PIB (-3,8%) impossibilitam os agrados. “E boa parte da base que lhe dava sustentação diz que ela se rendeu à agenda neoliberal, com o apoio ao projeto que libera o pré-sal a outras empresas que não a Petrobras e a reforma na previdência”, acrescenta o cientista político, diretor do Iuperj.
Outro agravante é que até 19 de março está ativa a janela partidária, que permite a troca de sigla sem perda de mandato. A tendência é de aumento da oposição, que voltou a se movimentar para agilizar o pedido de impeachment, mesmo que ocorra sob as regras definidas pelo STF, que dão ao Senado a decisão sobre o início do processo.
“Dilma fica cada dia mais isolada. As consequências negativas sobre o trabalho, com perda de emprego e redução no poder de compra se agravam. Não acredito que ainda possa ocorrer um evento que seja sinônimo de reativação do governo”, afirma Carlos Pereira, da FGV-Rio. Ele considera o discurso de Lula contundente, mas avalia que a maioria das pessoas, nas ruas, demonstrou apoio à nova fase da Lava Jato, e que isso deve se refletir nos atos pedindo o impeachment de Dilma, marcados para 13 de março.
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