Há quatro anos, uma emissora de televisão pediu a Luli Miranda que listasse as cidades com nomes indígenas no Paraná em guarani, tupi ou caingangue. Ela foi aplicada, mas a matéria não chegou a ir ao ar. Descobriu que dos 22 mil topônimos (nomes de lugares) de inspiração indígena, de Cuba para baixo, 99 são paraníssimos. A lista só não é maior porque algumas cidades do estado perderam seus títulos originais para homenagear figuras históricas ou figurões. Rio Branco do Sul, por exemplo, era Votuverava.
O material levantado por Luli bem podia ser usado como guia de viagem à moda da taba. Só não é mais perfeito porque, como diz ela, 90% dos vocábulos estão malgrafados, significando sabe-se-Tupã-o-quê. Deu para sentir. A reportagem passou para a pesquisadora nomes parecidos de cidades e bairros de Curitiba e região, como Guaratuba, Guaraituba, Guarituba, Guabirotuba e Atuba. Fosse um jogo de salão, seria um arraso, com direito a apostas sobre o sentido, por exemplo, de "guará" que vai de "lobo ou ave vermelha" a "simpático e engraçado". Depois de tanto combinar esse ou aquele significado, fica impressão de ter participado da descoberta de Guaratuba.
O resultado, imperfeito do ponto de vista da filologia, faz pensar que seria no mínimo divertido conhecer um pouco mais as línguas originais do Brasil. Decifrar significados a exemplo dos nomes de cidades tem um efeito triplo. Invoca a geografia, a vegetação, os perigos. Basta pensar nos topônimos tupis compilados por João Carlos Vicente Ferreira (leia abaixo), estudioso do assunto. Anote. Mandaguaçu "grande número de abelhas"; Imbituva "lugar de muito imbê, um tipo de cipó"; ou Catanduvas, "local de mato ralo, rasteiro e espinhoso". Hoje, claro, com direito a releitura. Mas ainda resta um pouco de poesia. Tapejara é "caminho onde passam os amigos". Que tal?