A célebre frase atribuída a Stanislaw Ponte Preta, "ou restaure-se a moralidade, ou nos locupletemos todos", está apta a substituir a "Ordem e Progresso" da nossa Bandeira Republicana, de acordo com as últimas posições salariais do Poder Legislativo e do Poder Judiciário.
O aumento dos salários na Câmara e no Senado segue a tendência secular dos privilégios para o patronato político brasileiro, de acordo com o clássico livro Os Donos do Poder, de Raymundo Faoro. A elite parlamentar locupleta-se com o simples argumento de que o aumento do salário dos parlamentares apenas corresponde à equânime equiparação aos vencimentos dos ministros do Supremo Tribunal Federal. O desmoralizante aumento do Poder Judiciário, com as suas extraordinárias vantagens salariais na República, agora serve de paradigma ético para a reposição salarial do Poder Legislativo.
A defesa intransigente de princípios corporativos, o aumento elevado dos próprios salários, mais jetons e aumentos retroativos e até mesmo isenções do Imposto de Renda, têm sido o desejo político dos magistrados e parlamentares brasileiros.
Quando a mais alta corte da Justiça Brasileira e o Congresso Nacional têm como bandeira a sua autolocupletação passa-se uma mensagem para os cidadãos que a lógica social é o vale-tudo. Enquanto isso milhões de trabalhadores e aposentados esperam um valor diminuto para o salário mínimo, milhões de assalariados, professores, empregados da indústria, trabalhadores rurais, operários, domésticas, que levantam cedo para chegar a tempo nos seus humildes empregos dignam-se a receber um salário vil e deteriorado.
Será que as autoridades do Legislativo e do Judiciário não conhecem as dificuldades da imensa maioria dos brasileiros? Será que o imaginário e cínico jogo do poder esqueceu-se do país real? Qual é o projeto de nação que as essas autoridades possuem? Que espécie de Brasil pensam estar legando para a posteridade?
Depois de um ano com denúncias de "mensalão, "sanguessugas", "absolvições antiéticas", os parlamentares dão um presente de Natal para a sociedade na sua própria auto-indulgência e egoísmo puro e simples.
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