Experiência
Japão e Suécia seguem conceito à risca
A logística reversa já foi implantada e é seguida à risca pela população em outros países. No Japão, uma garrafa PET, por exemplo, passa por vários processos antes de chegar ao lixo. Primeiro, tem seu interior lavado. Em seguida é amassada e colocada em um saco plástico. Rótulo e tampa vão em saco diferente, destinado às peças plásticas de pequeno porte. Em cada cidade, existem pelo menos cinco tipos de lixo: materiais incineráveis, não-incineráveis, garrafas PET, latas de alumínio e vidros. Cada cidade, no entanto, está apta a fazer divisão ainda mais segmentada. A "cultura da reciclagem" fez com que o Japão atingisse índices elevadíssimos de reaproveitamento de materiais.
Vidro
Professora do curso de Engenharia Ambiental da PUCPR, Patrícia Sottoriva conta que, na Suécia, uma mudança de legislação melhorou ainda mais o índice de reciclagem. Lá, foi feita uma pesquisa mostrando que o uso de embalagens retornáveis (geralmente de vidro) causam menos dano ao meio ambiente em razão do processo de esterilização consumir menos água do que na produção de latas de alumínio. "Com a alteração na lei, houve a troca dos materiais, favorecendo a reciclagem", explica.
Lixão
Destinação final ainda é inapropriada
Enquanto se discute mudança de comportamento da população para diminuir a geração de resíduos, o poder público está longe de resolver problemas referentes ao armazenamento correto do lixo. De acordo com o estudo Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil, de 2009, produzido pela Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), boa parte dos municípios não apresenta local adequado para destinar os resíduos: 13,2% mandam para lixões; 11,5% para vala séptica; 35,1% para incineração; e 26% para aterros sanitários. Ou seja, além da mudança de padrão comportamental, há necessidade de uma ação mais enérgica do Estado para criar não apenas aterros, mas usinas de reciclagem e reaproveitamento de resíduos. No Paraná, o governo promete montar uma força-tarefa para agilizar licenciamentos ambientais e orientar os municípios.
Em um futuro próximo, a população será convocada a participar do processo de reciclagem e reaproveitamento do lixo em todo o país. Mas, desta vez, não mais de forma voluntária. Até agosto de 2014, governo, empresas e a população deverão afinar o discurso para implantar na legislação um conceito conhecido como logística reversa, previsto na Política Nacional de Resíduos Sólidos. Trata-se de inverter a lógica de produção (da residência para a fábrica), com a intenção de diminuir a quantidade de resíduos levados a aterros sanitários ou lixões. Especialistas acreditam que, das cerca de 161 mil toneladas de resíduos geradas por dia, seria possível reaproveitar aproximadamente 85% em torno de 137 mil toneladas , aumentando o ciclo de vida dos aterros e diminuindo o passivo ambiental. Mas, para dar certo, o projeto depende da participação popular, já que a separação do lixo deverá ser feita dentro das residências. A definição de responsabilidades deve ocorrer até junho, prazo máximo para elaboração do Plano Nacional de Resíduos Sólidos. O Ministério do Meio Ambiente prevê acordos a serem firmados com os setores produtivos, de distribuição, comércio e poder público a fim de viabilizar o processo.
A implantação da lógica no país envolve mudança da visão sobre consumo. "Hoje, o comprador tem a titularidade do bem. Com a mudança, é como se houvesse aluguel do produto com um prazo de devolução", explica André Luís Saraiva, diretor-executivo do Programa de Responsabilidade Ambiental Compartilhada (Prac). Essa modificação no conceito envolve o desafio de "fazer com que a sociedade saia do patamar de consciente para o de comprometido", explica. "E a função do governo é dar condições à população e às empresas para que apliquem essa política", afirma a química Patrícia Sottoriva, doutora em biotecnologia industrial e professora de Engenharia Ambiental da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR).
Mas será que o povo está preparado para a mudança? De acordo com o secretário de Recursos Hídricos e Ambiente Urbano do Ministério do Meio Ambiente, Silvano Silvério da Costa, haverá promoção e apoio de campanhas publicitárias pelo governo federal, estados e municípios. "Outras campanhas deverão ser elaboradas com vistas a conscientizar o cidadão. Começando pela separação correta do lixo", esclarece. Além da parte de cada um, há risco de a cadeia produtiva não executar da forma esperada. "É inteligente que cada setor apresente planos setoriais", diz Paulo Roberto Leite, presidente do Conselho de Logística Reversa do Brasil e pesquisador da Universidade Mackenzie.
Necessidade e dificuldade
Não há novidade nesse conceito, implantado em países mais desenvolvidos economicamente, como Japão e Suécia. No entanto, a diminuição do ciclo de vida dos produtos eletrônicos acelera a tomada de posição de muitos países. "O volume de produtos que se acumula em lugares indevidos cresce fortemente pelo mundo. As legislações surgem no sentido de dar ordem nesse retorno ou pelo menos estabelecer responsabilidades", explica Leite. O Brasil, por exemplo, produz aproximadamente 1,5 milhão de toneladas de lixo eletrônico por ano. Contudo, o porcentual reaproveitado não chega a 5% entre os celulares, o índice é inferior a 2%.Ex-presidente do Conselho Deliberativo da Associação Brasileira de Logística, Adalberto Panzan afirma que o processo abre oportunidade para empresas, mas ao mesmo tempo cria dificuldades. "O custo da logística reversa é maior do que a convencional porque não existe ganho de escala. A opção mais viável e aumentar o preço dos produtos", opina. Panzan defende que o governo dê apoio ao setor empresarial, a exemplo do que ocorreu na Alemanha, com uma espécie de subsídio. "Nos países europeus, houve clamor da sociedade para a implantação da logística e o governo pagou por isso junto com os empresários", diz. A existência de incentivos econômicos não é descartada pelo governo, porém, ainda não existe nada definido .
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