O Brasil está no meio do caminho. Nem liberal, nem social-democrata. Nem sistema de saúde universal, nem segmentado. Para o consultor em saúde e autor dos livros As Redes de Atenção à Saúde e Os grandes dilemas do SUS, Eugênio Vilaça Mendes, o Brasil não fez o que se propôs a fazer com o advento da Constituição de 1988: um sistema de saúde universal. Acompanhe a entrevista concedida à Gazeta do Povo:
Como o senhor vê o SUS?
O sistema foi criado pela Constituição de 88 para ser público, universal e gratuito. Esse foi o espírito: saúde como um direito de todos e dever do Estado. Mas faltou uma base econômica para universalizar esse atendimento. O sistema brasileiro é diferente dos sistemas universais dos países europeus e do Canadá. De fato, essas sociedades têm um sistema universal. Lá os planos de saúde são complementares e não competem com o sistema de saúde. Aqui, o SUS é para os pobres e quem pode vai contratar um plano privado. A verdade é que nós não temos um sistema único. O sistema do pobre sempre vai ter menos dinheiro porque eles não conseguem articular seus interesses. Por isso, a Emenda 29 nunca será aprovada. Os congressistas não usam o SUS.
O que os sistemas europeus têm que o nosso não tem? O que fazer para chegar lá?
Eles se organizaram pela social-democracia. Há o valor da solidariedade social. As pessoas pagam mais impostos e têm saúde e educação de graça. É a transferência do rico para o pobre. A saída para o Brasil não está na discussão do setor de saúde. Está no tipo de sociedade que o Brasil quer: social-democrática ou liberal? É uma decisão política. Não sei o que o país vai decidir, mas o liberal é um modelo segmentado, não dá conta, não produz resultados. Os EUA gastam mais e têm os piores índices de saúde.
Caso o Brasil decida trilhar o caminho europeu, é inevitável aumentar os impostos?
Teríamos de pagar mais impostos e organizar o setor de saúde. Mas, mesmo sem uma carga tributária mais alta, acredito que há como destinar mais dinheiro para saúde e educação. (TC)