Os leitores da Gazeta do Povo elegeram o Museu Oscar Niemeyer, de Curitiba, a melhor obra do fantástico arquiteto que nos deixou extraordinário até na idade inverossímil, mais de um século de vida, das completas, do primeiro ao último dia. Gênio absoluto pela obra, surrealista pelas opiniões há pouco tempo ainda assinou um artigo elogiando Stalin, e chegava a despertar o humor de Fidel Castro, para quem el comandante e o arquiteto seriam "os dois últimos comunistas da Terra". Não sei se é verdade mas seria engraçado.
Opiniões se discutem e se esfarelam todos os dias sem que precisemos nos matar por isso; então, vai aqui mais uma nesta conversa solta. Não, não acho o Museu do Olho o melhor Niemeyer o resultado da enquete até me fez duvidar da nossa clássica e autofágica boca maldita. Como assim, o melhor do mundo?! Até parece que curitibano é bairrista! O célebre Olho é um logotipo marcante, a competir com os traços do Jardim Botânico e as colunas conservadoras da Universidade como símbolo da cidade mas não é páreo para as verdadeiras obras-primas que fizeram de Niemeyer um dos mais impressionantes arquitetos do século 20.
Eu votaria, em primeiríssimo lugar, na Catedral de Brasília visitá-la, anos atrás, foi uma experiência de impacto para mim. Não apenas pelo desenho em si do prédio, de uma leveza feita a lápis, absurdamente simples, que parece encher o espaço sem ocupá-lo; a mesma leveza vazada da Torre Eiffel, que, inteira feita de ferro, lembra uma transparência de papel. O que impressiona é que tais arte e engenho recriem radicalmente uma catedral e a catedral é um dos signos mais conservadores da imagística ocidental, como se o peso de uma forma anterior à imaginação determinasse, por princípio, todos os limites do prédio antes mesmo que ele se erga. Pois a Catedral de Niemeyer, em sua tranquila leveza, sem nenhuma arrogância, parece recomeçar a ideia do zero pressupondo também uma concepção de homem e de espiritualidade que rompe com a tradição a partir do espaço circular em que nos movemos.
Em Brasília, o privilégio da arquitetura não para aí vira-se a cabeça e se está diante do Congresso Nacional, que teria meu segundo voto. É um conjunto igualmente leve, de uma invenção simples e maravilhosa, com suas cúpulas inversas, separadas pelos prédios que sobem como dois traços. Nem o pesado pavilhão da Bandeira Nacional obra erguida durante a ditadura para se sobrepor ao Congresso e que, conforme a direção do olhar, quebra o horizonte da praça consegue desfazer a suave harmonia das formas de Niemeyer. O terceiro lugar mas fico por aqui, que sobram poucas linhas, o ano já está quase no fim e, por graças do calendário, tenho duas terças-feiras de folga, assim como meus leitores. A todos, os votos de uma bela virada de ano e de um maravilhoso 2013.
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