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No distante ano de 1966, houve o Febeapá, Festival de Besteiras que Assola o País. Quem registrou o fenômeno foi um ex-bancário descrito pelos amigos como boa pinta e boa gente, Sérgio Porto. De conferente do Banco do Brasil ele se transformou em humorista com o pseudônimo de Stanislaw Ponte Preta. A primeira Besteira (com maiúscula) que registrou foi o caso de uma senhora que, descontente com a nota do filho na prova de Matemática, acusou o professor de ser comunista. O mestre só escapou sabe-se lá de que torturas e punições porque seus colegas de magistério foram em caravana até os militares para defendê-lo.

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Brasileiro precisa ser bem-humorado, se não enlouquece. Outros povos que, como nós, penam nas mãos de suas "otoridades" egoístas registram índices alarmantes de alcoolismo. É rir um pouco ou beber muito.

Se Sérgio Porto não tivesse morrido há muitas décadas, antes de as coisas piorarem muito para então melhorarem um pouco e piorarem de novo, ele estaria escrevendo sobre outro festival nesta metade da segunda década do século 21 (já!). As besteiras sobrevivem, é claro, mas a hora agora é das más notícias. Fevereiro de 2015 é oficialmente o mês das más notícias. São tantas as infelizes que as "felizes" passam despercebidas. Desenvolveram um feijão que cozinha mais rápido e uma mandioca mais nutritiva, essas são boas notícias. Acho que li algo mais no jornal desta manhã e pensei: "Isso é bom...". Mas esqueci do que se tratava. Como eu dizia, o impacto das más notícias até nos faz esquecer dos nossos modestos progressos.

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Escola pública sem dinheiro para comprar papel higiênico ou para reerguer o muro caído é o tipo de informação que faz o cidadão sentar no meio-fio e chorar. Ah, sim, pode faltar professor. Não esqueci dessa, é que há anos acompanho a aflição da diretora da escola do meu bairro que só vê sua equipe depois de uma semana de aula – e olha lá! Como fazer um projeto pedagógico de longo prazo, como ter um mínimo de coesão na equipe se ela vai se formando ao longo do ano e se desintegra após as provas finais?

A falta de água somada à resistência dos governos do Sudeste em assumir o racionamento e as obras de longo prazo é péssima notícia. Não estou preocupada com os carros sujos dos paulistas, mas com os preços que subirão no Brasil inteiro por conta dessa estiagem localizada. Da minha janela vejo a chuva cair todo dia e ainda assim não consigo relaxar. Uma lâmpada acessa ou um chuveiro que pinga me deixam nervosa.

Falando em chuva, na última semana ela foi tanta que deixou várias cidades em estado de alerta. Falta água e sobra chuva, as duas informações no mesmo parágrafo – isto é a cara desse fevereiro azedo.

Os preços... Deixa pra lá. Como não sou engraçada como o Sérgio Porto, comentá-los deprimiria mais quem se arrisca a ler este texto. Não quero a minha dúzia de leitores bebendo como um russo ou um moldavo ou um bielorusso.

Também o comportamento das autoridades nos motiva a beber como um cossaco – tanto as eleitas quanto as concursadas – com aquela obsessão por construir novas sedes e garantir salários gordos para si e seus colaboradores. Vivem em um mundo à parte, regido por regras duras que protegem seus benefícios. Diante do orçamento insuficiente da prefeitura, alguns vereadores de Curitiba cogitaram abrir mão de uma verba destinada à construção de uma nova sede. As regras não permitem e eles não vão desrespeitar as regras. Contorna-se normas a toda hora neste país, muda-se até a Constituição para acomodar desejos políticos de grupelhos, mas quando é para poupar o dinheiro do povo, aí não! Aí todos se tornam castiços respeitadores das normas.

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Oh, Stanislaw Ponte Preta, onde está você que não nos faz rir numa hora dessas?

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