A Nova República foi fundada em 1985. Logo se acostaram nela Jardim Progresso, Recanto das Andorinhas e Malvinas. Eram então invasões à beira do Rio Barigui, em Curitiba, parte de uma história de movimentos de sem-teto que ajudou a definir o zoneamento da região sul da capital. Hoje são nomes desconhecidos fora das poucas quadras que as formam, mas o batismo informal persiste entre os moradores como afirmação de identidade. São quatro bairros autodeclarados, estendidos lado a lado ao longo da Rua Waldemar Cavanha, entre os bairros Campo Comprido e Fazendinha. No meio deles está um rio, o Barigui, e um homem, o Paulo.
Paulo Vítor da Silva, um porteiro e "mudanceiro" de 54 anos, é presidente simultâneo de duas das associações de bairro da região (Nova República e Recanto das Andorinhas), e figura influente nas restantes. Começou a militância comunitária na metade dos anos 80, como conselheiro, e desde 1994 emenda mandatos na presidência da associação de Nova República. A oportunidade surgiu em uma reunião na igreja, quando o padre sugeriu aos moradores fundarem uma associação como forma de fortalecer a região. Paulo assumiu a missão de ajudar a transformar a invasão em bairro, e se tornou o homem dos ofícios à prefeitura.
Primeiro foi a regularização dos terrenos, depois antipó, praça, cancha e linha de ônibus. Na longa história dos pequenos ganhos, Paulo trabalhou como um catalisador das demandas populares, transformando-as em pressão junto ao poder público. "Tem que gostar da função, senão larga no primeiro mandato", diz.
Autoestima coletiva
As entidades comunitárias de Curitiba reúnem histórias de sucesso e fracasso proporcionais ao número de 600 entidades cadastradas na Federação Comunitária das Associações de Moradores de Curitiba e Região Metropolitana (Femoclam). Nos primeiros casos, o ganho está relacionado à capacidade de mobilização na região e na forma como isso se reverte em pressão popular. Em bairros da periferia da cidade, onde persistem carências profundas, é um reforço na autoestima coletiva. "Vou até a casa das pessoas conversar com elas, saber a opinião sobre o que o bairro precisa", relata Paulo.
Há ainda outra questão, que consiste em evitar a infecção do movimento pela política, transformando a associação em comitê e seu presidente em cabo. Paulo afirma que as ofertas são muitas, mas sempre recusadas. Em 2004, ele próprio resolveu ser candidato a vereador. Fez 688 votos, não se elegeu e prometeu, por enquanto, deixar a política tradicional de lado.